Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O homem que queria voar

[do release da editora]


Em 23 de outubro, o primeiro vôo do 14-Bis completou 99 anos. Em clima de
comemoração, o ilustrador e cartunista paulistano Spacca publica uma história em
quadrinhos sobre a vida de Santos-Dumont (1873-1932). Envolvido com o projeto do
Santô há décadas, o autor conta alguns detalhes desses anos de
trabalho.






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De onde surgiu a idéia do livro?


Spacca – A princípio, quis contar a história de Santos-Dumont por uma
ótica nacionalista, para mostrar que os irmãos Wright não mereciam a glória de
ter inventado o avião. Com o tempo e as pesquisas, fui me convencendo de que o
avião foi uma espécie de invenção coletiva, e que os pioneiros se influenciaram
mutuamente. Gostei de descrever essa ‘Babel’ de inventores, um de cada país,
perseguindo o mesmo sonho. E acho que esse ponto de vista é novo para o público
brasileiro, que sempre quer ser o campeão do mundo.


Como foi o processo de criação?


Spacca – Durante muitos anos (desde 1979), desenhei o personagem e
comprei livros relacionados ao tema e à época. Quando decidi fazer uma história
em quadrinhos, trabalhei para dar forma dramática e divertida ao roteiro,
mantendo fidelidade aos fatos. Só com o roteiro pronto é que procurei a editora.
Foi difícil descobrir uma motivação para Santos Dumont à altura da trajetória
dos Wright (que eram pobres; é mais fácil torcer por um herói pobre…).
Transformei a facilidade inicial de Santos-Dumont – que recebeu todas as
condições para se dedicar exclusivamente aos seus aparelhos – em uma espécie de
missão pesada, um fardo que o pai poderoso transmitiu a ele pouco antes de
morrer. Como os Wright também tiveram um mártir inspirador, o Otto Lilienthal,
estruturei o livro nessas duas histórias paralelas, que vão se cruzando e
articulando, enquanto o mundo se encaminha para a Primeira Guerra Mundial.


Você se inspirou em algum trabalho específico?


Spacca – As influências são inúmeras: assisti muito making of
de filme para aprender a estruturar uma história. Por exemplo, o tom da amizade
de Santô com o cartunista Sem foi inspirado no filme Jules et Jim, de
Truffaut; outras vezes eu pensava em Spielberg, Zemeckis e outros cineastas. O
personagem Jacinto de Tormes de A cidade e as serras, de Eça de Queiroz,
inspirou em parte o meu Santô. Nos quadrinhos, peguei alguma coisa de Carl Barks
(o inventor do Tio Patinhas), por exemplo, o uso de silhueta e nuvens com
sombras negras, e também de Uderzo (Asterix), Morris (Lucke Luke) etc. E tenho
ainda lembranças da fazenda de café que meu avô administrava, onde eu passava
férias quando criança.