Vivemos uma época privilegiada. Presenciamos o rápido desenvolvimento da internet e da integração das mídias e ainda ninguém sabe o que será possível fazer com isso. Ao mesmo tempo, vemos novas formas de comunicação se desenvolvendo, se alastrando sem controle e sem muita direção. O futuro é uma página em branco e raras vezes, na história, as possibilidades para o amanhã são tão grandes.
No campo do jornalismo, especificamente, alguns caminhos ainda estão por ser percorridos. Talvez a maior questão atual seja a participação do público no noticiário (como, quando e por que deixar eles participarem da produção?), mas a interatividade proporcionada pela internet atualmente, e possivelmente pela televisão e pelos celulares num tempo não tão distante, também levanta perguntas interessantes.
O que é a interatividade no jornalismo, afinal? Tomando por base sites do século passado, interatividade era a possibilidade do leitor interagir, de alguma forma, com o conteúdo recebido. Os portais gostavam de mostrar como exemplo máximo da interatividade a enquete. Enquete que era puro entretenimento, uma vez que não tinha valor algum jornalístico, já que a base de dados da enquete é totalmente aleatória (o que quer dizer qualquer resultado que venha de uma pesquisa feita entre as pessoas que passaram por um site e resolveram clicar numa enquete?).
Possibilidades infinitas
Outra forma que até hoje é comum, e é também chamada de interativa, é o clique-para-ver a foto, para ouvir o áudio, para ler o texto, para assistir ao vídeo. A soma das formas tradicionais, especialmente sem o uso do que há de melhor em cada mídia, mas apenas o uso de veículos diferentes para contar a mesma história. O jornal online Último Segundo recebeu um prêmio do talvez mais importante concurso de infografia do mundo, o Malofiej, com um infográfico deste tipo – mostrando que a produção de infografias mais complexas ainda é rara, apesar das possibilidades existentes.
Avançando no conceito de interatividade, há reportagens especiais que apresentam uma variedade de possibilidades narrativas ao leitor – e é ele quem decide qual parte da história gostaria de descobrir. Por exemplo, infografias como as que mostram uma visita a um museu, onde o usuário escolhe qual parte do museu irá visitar (e lá pode entrar na sala, por exemplo, e ver uma panorâmica do lugar, ou ler textos sobre as obras, ou ver vídeos com entrevistas com artistas, ou fazer uma visita guiada por um áudio – todos conteúdos complementares, que utilizam o melhor de cada plataforma). O New York Times foi um dos pioneiros, mas hoje já é feito por vários outros jornais norte-americanos.
Para além disso, entramos em áreas ainda pouco exploradas pelo jornalismo. Há muito o que se descobrir com a possibilidade do hipervídeo, no qual, ao assistir a um filme, em qualquer momento é possível clicar em elementos na tela e ir a outro vídeo, ou abrir outras informações, ou mesmo comprar o vestido que a apresentadora está utilizando. No documentário interativo Nação Palmares, da Agência Brasil, foi feito um teste avançado neste sentido (depois do primeiro teste com outra reportagem interativa de hipervídeo chamada Consumo Consciente). Já existem, inclusive, ferramentas online para este tipo de trabalho, como o Asterpix, mas pouca disposição ou conhecimento para os jornalistas experimentarem. As possibilidades narrativas são infinitas.
Educacional e lúdico
Mas talvez o máximo de interatividade no campo em que o leitor/usuário não produz informação, apenas a consome, é o newsgaming. São jogos de videogame com fins jornalísticos. Em vez de ler uma reportagem, ou assistir, você navega dentro de um ambiente. Seria como se, para saber como funciona o Congresso, você fizesse uma visita virtual, num ambiente como o Second Life, e conversasse com outras pessoas lá dentro, inclusive parlamentares. Isso ainda não existe, mas existem jogos mais simples. Tiago Doria é alguém que acompanha esse setor e publica regularmente sobre isso.
‘Newsgames é um conceito que surgiu mais ou menos em 2003 e refere-se a jogos feitos com base em notícias ou um acontecimento em curso. Desde El País até o New York Times já fizeram alguns experimentos com o formato. Aliás, El País foi responsável por publicar um dos primeiros newsgames – o Play Madrid, sobre os ataques terroristas em Madri, na Espanha, em 2004. Poucos dias após a tragédia, o game já estava no ar. (…) E aqui, no Brasil? Bom, por aqui, neste ano, o G1 fez alguns experimentos na área e lançou o AudioPops, um jogo no qual você tem que descobrir, por meio de discursos bem recentes, quem são as principais personalidades da política internacional. Para mim, uma das coisas mais interessantes dos newsgames está aí. Trazem um caráter educacional e lúdico de volta ao jornalismo.’
Méritos e problemas
Na outra trajetória, onde o leitor é também produtor de informação, a situação se torna mais complexa. Há duas grandes vertentes entre os defensores da participação do público no noticiário. Os primeiros, que defendem a aplicação de filtros antes da publicação – como ocorre em quase todos os sites dos maiores veículos de comunicação brasileiros. O sujeito se cadastra, envia textos ou fotos, eles são avaliados por jornalistas – ou por outros cidadãos, como é o caso do Overmundo – e depois são publicados.
O segundo modelo é quando o filtro é aplicado depois da publicação, como ocorre no YouTube, na Wikipedia e em qualquer site colaborativo deste tipo, onde, tendo um cadastro, imediatamente depois do upload o seu material está no ar. Muitos disseram que esse tipo de negócio não sobreviveria aos processos judiciais, mas o YouTube segue firme e cada vez mais forte, aparentemente. Os blogs, aliás, são talvez o maior exemplo disso.
Cada um dos caminhos tem seus méritos e seus problemas, e nesse campo poucos podem falar com propriedade. Quem discute bastante o assunto é a Ana Brambilla, em seu blog. Aqui, especialmente, o futuro está por ser escrito. O que você, aliás, vai escrever?
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Jornalista multimídia