A convergência dos anos fez com que Sérgio Mattos reunisse textos diversos em uma publicação que reflete sua dupla condição de escritor e de jornalista. O jornalista realizado registra personalidades do nosso tempo, como o poeta sensível apresenta poemas e livros e o homem amadurecido cria agremiações de cultura.
O profissional em comunicação, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), acrescentou o mestrado e o doutorado na Universidade do Texas, em Austin, nos Estados Unidos. Formação que lhe permitiu o magistério superior com destacada qualidade de desempenho, pois foi o primeiro doutor da Faculdade de Comunicação (Facom/UFBA) e foi igualmente o primeiro a orientar tese de doutoramento no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Contemporânea. Na pesquisa, tomou como linha de investigação a televisão brasileira. A sua contribuição acadêmica, no particular, é referencial teórico obrigatório na revisão da literatura concernente. Destacam-se as dissertações sobre o impacto do governo militar brasileiro no desenvolvimento da TV e a publicidade nacional e estrangeira no crescimento da comunicação de massa.
Em 1990, analisou o perfil da TV brasileira. Tem continuamente tratado do tema em publicações e simpósios. Como reconhecimento às suas pesquisas, recebeu o Prêmio de Comunicação Luiz Beltrão, na categoria de maturidade acadêmica. O profissional demonstra um amplo interesse pelo jornal, pela TV, pelo rádio, pela internet, enfim, pelas mídias. Fez carreira acadêmica na Universidade Federal da Bahia e prossegue como docente na Unidade Baiana de Ensino, Pesquisa e Extensão (UniBahia) [a partir de agosto de 2008, aprovado em concurso público passou a integrar o quadro permanente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)].
Sempre uma mensagem
Mas Sérgio Mattos não restou no patamar acadêmico, muito pelo contrário, sempre se exercitou no jornal com competência. Estreando na Tribuna da Bahia, trabalhou por muitos anos em A Tarde. Nos artigos e reportagens reunidos, traça perfis, alinha conceitos, caracteriza situações. São exemplos o encontro com Dorival Caymmi, na casa de Jorge Amado, o caso Juruma, o contributo de Anna Edler para o ensino do teatro na Bahia, o resgate de Charles Chaplin. Saliente-se aquele comunista bem baiano e melhor macumbeiro que ‘usa colar de contas e não deixa de cumprir obrigações para abrir caminhos. Afinal de contas, ou nas próprias contas, todos os meios podem até justificar os fins’. Os ensaios e reportagens são apenas um reduzido survey do profissional de imprensa.
O jornalista, na dupla condição de acadêmico e de prático da imprensa, é provável que tenha induzido o escritor. Como poeta define-se ‘o vigia do tempo’. A sua obra abrange um largo campo na construção da arquitetura do verso e da escrita. Poesia e comunicação são os pilares básicos do intelectual bem formado e melhor exercitado na imprensa e no departamento universitário. É na condição de escritor que, generosamente, estimula estreantes e veteranos apresentando inúmeros poetas, ensaístas. O importante é que o poeta Sérgio Mattos, pleno de bons sentimentos para com outros bardos, lança-os em prefácios incentivadores. Em parêntese, quem escreve não dispensa apresentação. Sérgio soube revelar Daniel Fernando Setila, poeta angolano que não foi publicado, mas ficou a sua marcante apresentação.
Como escritor, soube penetrar na intimidade da poesia de Franklin Maxado, José Jorge Randan, Durval Evangelista dos Santos, Josemário Lima e de tantos outros. A sua galeria de prefácios e orelhas funciona como uma antologia. Destaco o ensaio sobre a análise semiótica da telenovela de Lícia Soares de Souza, professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) com destacado trabalho acadêmico no Canadá. Enfeixa o livro com os perfis de Jorge Calmon, Nonato Marques e Paulo Gaudenzi.
Reunindo pouco ou muito da experiência feita, Sérgio Mattos tem contribuído, decididamente, para o engrandecimento da nossa cultura, liderando a criação do Instituto Baiano do Livro, da Academia de Letras e Artes de Salvador (ALAS) e da revista Neon.
Um livro traz sempre uma mensagem, suscita ou resulta de uma campanha e marca uma etapa na trajetória de um escritor prestante, como Sérgio Mattos.
[Salvador, no dia de São Boaventura, 15 de julho de 2008]
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Professor emérito da Universidade Federal da Bahia e diretor geral do jornal A Tarde (Salvador, BA)