Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Oito encontros do insólito com o trivial

[do release da editora]

Oásis azul do Méier, de Altamir Tojal, é uma coleção de oito contos, com diversidade de temas, ritmos, vozes e construções narrativas. Em comum, há o encontro do insólito com o trivial e, também, a paisagem da cidade do Rio de Janeiro. O livro, com o selo da Editora Calibán, é o segundo do autor, que estreou com o romance Faz que não vê (Editora Garamond, 2006).

O escritor Alberto Mussa assina a apresentação e destaca que o livro é um dos melhores do gênero que surgiram no país nos últimos tempos. ‘O conto-título, inclusive, é uma obra-prima que certamente marcará presença em antologias futuras’. Segundo Mussa, o autor conhece bem o fundamento do conto: ‘o conflito se define logo nas primeiras linhas – geralmente uma situação absurda ou inusitada que contrasta com o caráter trivial das personagens – e nos prende a atenção até a surpresa do desfecho’.

Sinopses dos contos

** Rosto de santo – Aventuras e desventuras de um homem condenado no tribunal a cometer um crime terrível, que justifique a sua pena.

** Herói – Delírios de um defunto que ignora a própria morte ou o desconforto de estar dentro do caixão no próprio velório.

** Náufrago – O autor conhece por acaso a única pessoa que leu o seu livro, depois de persegui-la por muito tempo e de ter desistido de encontrá-la.

** O último ônibus para Copacabana – Abandonado pela mulher, um cara passa a véspera de Natal com uma garota de programa na zona portuária do Rio.

** Bodas – Esperanças e fracassos do casamento numa tórrida e melancólica despedida de solteiro.

** Marcela – Encarnação do diabo, uma moça poderosamente sensual evita um desastre corporativo numa feira de negócios.

** Oásis azul do Méier – Um bancário barrigudo passa uma tarde de amor com a jovem esposa de um policial campeão de tiro.

** Buraco – Milhares de pessoas assistem com respeitosa atenção um velho desaparecer numa cova, no cruzamento das avenidas mais movimentadas do Rio de Janeiro.

O autor

Antes de Oásis azul do Méier (Editora Calibán, 2010), Altamir Tojal lançou o romance Faz que não vê (Editora Garamond, 2006). É jornalista pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Frequentou, em 1999, a Oficina de Literatura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), ministrada pelo escritor Antônio Torres. Cursou especialização em Filosofia Contemporânea na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Trabalhou como repórter no Jornal do Brasil, O Globo e IstoÉ. Edita o site Este mundo possível (www.estemundopossivel.com.br).

***

Apresentação

Alberto Mussa

É muito comum, no meio literário, a idéia de que o conto é um gênero menor. Exige menos esforço, é menos profundo, serve como uma espécie de exercício preparatório, permitindo que o escritor aperfeiçoe seu estilo e ganhe o fôlego indispensável para os vôos mais altos do romance.

Curiosamente, grandes autores que cultivaram ou cultivam a história curta pensam precisamente o contrário; e basta lembrar Machado, Conrad, Tchekhov, Maupassant ou Borges para perceber a que altura o conto pode chegar, quando merece respeito.

Altamir Tojal é desses que têm alto apreço pelo conto. Fez o que muita gente considera o caminho errado: publicou primeiro um romance (Faz que não vê) e agora nos dá esse Oásis azul do Méier, coletânea de oito narrativas, fruto de um meticuloso trabalho de depuração.

A arte do romance talvez seja similar à da pintura: ambas acrescentam coisas a um fundo branco. O contista se parece mais ao escultor, porque escrever um conto é retirar palavras.

Esse é um dos maiores méritos de Altamir: sua língua é precisa, exata. Embora haja emoção, não existe subjetividade. Altamir é um prosador formado na escola de João Cabral.

E conhece bem o fundamento do gênero: o conflito se define logo nas primeiras linhas – geralmente uma situação absurda ou inusitada que contrasta com o caráter trivial das personagens – e nos prende a atenção até a surpresa do desfecho.

Ouso dizer que este Oásis é um dos melhores livros de contos que surgiram na literatura brasileira, nos últimos tempos. O conto-título, inclusive, é uma obra-prima que certamente marcará presença em antologias futuras.

Fico, assim, muito honrado por assinar essa modesta apresentação; e particularmente feliz por perceber que a nobre arte do conto ganha mais um cultor, que se apresenta já em plena maturidade.