Enganam-se aqueles que pensam que os leitores da revista Globo Rural são apenas fazendeiros ou sitiantes preocupados com seus negócios ou sua sobrevivência. Muitos deles nunca tiveram ou vão ter um palmo de terra. Mal têm um jardim, alguns vasos de planta ou um bicho de estimação. Vivem, muitas vezes, em apartamentos comprimidos pelo adensamento das construções da metrópole, nos quais bate pouco sol, mas cujas janelas se abrem para um sonho, o da casa no campo, tão bem cantado pelo recém falecido compositor Zé Rodrix. Lá sim, lá tem muito sol, muito espaço, enormes áreas verdes, água em abundância, fruta no pé, fogão a lenha, comida caseira, gente amiga e toda a paz e aconchego que a cidade grande insiste em negar.
O trabalho de Gislene Silva revela o quanto a leitura das revistas e a audiência da mídia em geral repousam sobre essa espécie de consumo desejante e imaginado, atualizado, por vezes, em pequenos gestos e aquisições. Quantos leitores de revista sobre surf nunca surfaram? Quantas leitoras de revistas femininas, leitores de revistas de esportes e aventura folheiam suas páginas sonhando acordados? Movida por esta percepção inicial, a autora partiu em busca do depoimento dos leitores urbanos da revista Globo Rural e, com muita sensibilidade, soube ouvir suas histórias, dilemas e expectativas e deixá-los falar por meio de seu texto. Na Antropologia, na História, na Filosofia buscou as referências para entender e interpretar de maneira cuidadosa e inteligente o apego desse leitor à revista e ao universo rural. Mas, o melhor de tudo é que Gislene, como boa mineira, deu conta disto num texto extremamente agradável, como quem está contando causos, sem permitir que, ao longo da análise, as histórias e sonhos dos leitores perdessem o seu sabor.
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A autora
Gislene Silva, mineira de São Geraldo, Zona da Mata, nascida em março de 1962, é graduada em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais. Concluiu em 1989 o mestrado em Comunicação Social pelo Instituto Metodista de Ensino Superior (atual Umesp), com a dissertação ‘Do detalhe ao talhe: Dissertações/teses em Comunicação Rural; uma revisão 1978-1988’. Fez seu doutorado em Ciências Sociais/Antropologia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, defendendo em 2000 a tese ‘O imaginário rural do leitor urbano: o sonho mítico da casa no campo’. Como jornalista trabalhou na revista Saúde (Editora Abril), e, por 11 anos, na revista Globo Rural (Editora Globo), no período de 1990 a 2001; desde março de 2003, atua como professora do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
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Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC de São Paulo