‘Jornalistas esportivos podem apostar em eventos sobre os quais escrevem?’, questiona a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, em sua coluna de domingo [15/4/07]. ‘Claro que não, especialmente porque a maior parte das apostas esportivas é ilegal’, responde. ‘Mas isto vale também para os ‘bolões’, aposta comum em muitas redações’, continua ela.
O tema foi levantado por um leitor, Bill Sullivan, após o blogueiro Sean Jensen, do AOL Sports, ter afirmado que participou de um bolão ‘alto’ enquanto cobria um campeonato de golfe na Califórnia. A aposta envolvia também Tom Boswell, colunista do Post; Leonard Shapiro, ex-repórter do jornal que hoje cobre golfe como freelancer; e o escritor e repórter freelancer do Post John Feinstein.
Sullivan considerou o bolão ‘inoportuno’ e uma ‘séria quebra da ética jornalística’, especialmente porque ‘Boswell e Shapiro criticaram atletas em que apostavam, porque isto teria uma influência negativa no esporte’, acusou o leitor. ‘Os editores do Post condenam este tipo de conduta? Quanto dinheiro estava envolvido?’, indaga.
Tradição
O tal bolão é uma tradição de 25 anos que ocorre em uma casa alugada por Boswell, Shapiro e outros jornalistas que cobrem o torneio. Feinstein juntou-se ao grupo há 15 anos. Jensen é o mais novo integrante. Shapiro foi o grande vencedor deste último campeonato, com um total de US$ 103 em três categorias; Boswell ganhou US$ 16,67 e Feinstein não ganhou nada. ‘Além deste bolão e de algumas corridas de cavalo, nunca apostei em mais nada na minha vida’, diz Boswell.
Procurado por Deborah, Emilio Garcia-Ruiz, editor da seção de esportes do Post, disse estar ‘confiante de que o bolão não afetou a cobertura’, completando que ‘trata-se de uma tradição de 25 anos que começou apenas como uma confraternização entre aqueles que dividem um espaço durante a cobertura do evento’. Ele defende, no entanto, que as apostas não deveriam envolver dinheiro, ‘não importa o quão pequeno for o valor’.
O diário não tem regras escritas sobre bolões, informa a ombudsman. ‘Muitas redações, assim como muitos escritórios, têm bolões; eu nunca os impedi quando era editora. O bolão interno do Post sobre o NCAA, campeonato de basquete universitário dos EUA, teve como prêmio este ano um iPod, em vez de dinheiro. Um advogado da empresa ganhou o prêmio’, conta. Para Deborah, o bolão do golfe não é uma questão grave, mas o diário deveria ter regras escritas para informar os jornalistas sobre este tipo de aposta.