A imprensa brasileira acaba de descobrir o capitalismo. Depois dos jornais diários, que abriram o ano celebrando o surgimento de novos milionários na onda de crescimento econômico que ocorre no Brasil, também as revistas semanais embarcaram no otimismo que embala o noticiário.
Na edição desta semana (nº 2044, de 23/1/2008), Veja traz como capa o tema ‘Supereconomia’. Internamente a reportagem é composta por uma coleção de casos de empreendedores bem-sucedidos e suas receitas de sucesso. ‘Os heróis do capitalismo’, é o título da reportagem.
Segundo a revista, o Brasil produz 164 novos milionários por dia, ou seja, diariamente 164 brasileiros alcançam um patrimônio em aplicações financeiras de 1 milhão de dólares ou mais. São 60 mil novos milionários só em 2007, diz a revista.
Claro que há milionários de todos os tipos nessa estatística. Inclusive o novo senador pelo Partido Democratas do Maranhão, Edison Lobão Filho, que se tornou notório com a recente nomeação do Lobão pai para o Ministério das Minas e Energia. O filho do novo ministro também é, à sua maneira, um empreendedor. Aproveita o bom momento da economia e as oportunidades que lhe dá o parentesco com o poder para consolidar seu patrimônio financeiro.
Lobão Filho também tem seu milhão de dólares, mas não aparece nas listas que celebram os novos milionários. Ele está em outra seção, a dos escândalos políticos.
Novos heróis
A imprensa apresenta um retrato incompleto do momento político e econômico do Brasil quando celebra o surgimento de pencas de milionários mas esconde aqueles que enriquecem à porta do tesouro público.
Talvez os novos ricos da política também merecessem uma capa de Veja. Eles são outros frutos da mesma árvore que produz heróis do capitalismo.
Outros que dificilmente ganham manchetes são aqueles que se encontram no extremo oposto da pirâmide de renda. Na chamada base da pirâmide, milhões de brasileiros se agarram a programas sociais para alcançar o primeiro degrau da sociedade capitalista. Também são heróis do capitalismo, à sua maneira.
Quem sabe, ainda viveremos para ler uma reportagem de capa sobre ex-miseráveis, ou os novos-pobres. Talvez, até, com direito à manchete: ‘Os heróis da nova pobreza’.
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Jornalista