Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Os sonhos e os sonhadores

Este livro é para os sonhadores. Ele continua a trilha apaixonada das rádios comunitárias. É para aqueles que vivem com um pé no chão e o outro nas estrelas. Para os que acreditam em mudanças, e mudanças para melhor. Neste sentido, é um livro radical: é para quem não se acostumou em comer as sobras da mesa.

Este livro apresenta uma proposta de rádio comunitária. Ela foi construída com aqueles teóricos da comunicação que acreditam na democratização dos meios de comunicação e com aqueles que, na prática, fazem rádio comunitária na intenção de mudar o mundo. No fundo, esta proposta é a base do movimento político e cultural das rádios comunitárias no Brasil.

Não há nada de novo nisso: apenas botei no papel o que sonhamos juntos em outros tempos, mas, por conta de uns e outros, se acabou-se se esquecendo (esse monte de ‘se’ é pra gente não esquecer mais).

Muita gente ajudou na elaboração deste livro. Com essa gente aprendi e continuo aprendendo.

Por isso agradeço… à Clarice Santos, pela avaliação crítica do texto. Teve a presença de Venício Lima, sempre me ensinando essas coisas que a gente nunca vai descobrir se não tiver um bom professor. Teve Chico Lobo e sua heróica resistência, trepado na árvore da utopia, para impedir que a moto-serra dos falsos líderes e oportunistas derrube o sonho das rádios comunitárias. Mas teve, principalmente, as muitas pessoas, companheiros e companheiras que, nos debates, oficinas, seminários, cursos, me ensinaram o que é rádio comunitária e, principalmente, me fizeram continuar acreditando neste sonho.

***

Prefácio

Venício A. de Lima (*)

Este é um livro ‘freireano’ no melhor sentido da palavra. Numa linguagem simples e direta, Dioclécio Luz – jornalista, escritor, poeta, militante político e educador popular – não só argumenta sobre o papel fundamental da comunicação na vida de todos nós, mas mostra o que é possível fazer, analisa problemas atuais (‘erros’) das rádios comunitárias e aprofunda algumas questões (o que é o latifúndio do ar, qual a relação do rádio com a estética, a arte, a educação e a cultura) cuja discussão iniciou em seu livro anterior, Trilha apaixonada e bem-humorada do que é e de como fazer rádios comunitárias, na intenção de mudar o mundo, publicado em 2001.

Desde o final da década de 70, discute-se a implementação do conceito do ‘direito de comunicação’ ou do ‘direito a comunicar-se’. A Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – promoveu vários encontros para que o assunto fosse discutido, mas, na medida mesma em que cresce a importância da comunicação no mundo, crescem também as resistências de estados nacionais, organismos internacionais e poderosos grupos nacionais e transnacionais, à consolidação desse novo direito. Na verdade, a democratização da comunicação é tema indispensável e obrigatório para uma agenda contemporânea de luta pela cidadania.

O ‘otimismo da vontade’

A mídia tem sido marcada no Brasil por características que a singularizam mesmo nesse globalizado mundo neoliberal. Entre nós a concentração da propriedade (horizontal, vertical e cruzada), a propriedade familiar, a vinculação com as elites políticas regionais e locais, a presença crescente das igrejas, o vazio regulatório, a relação simbiótica com o Estado e a eterna exclusão da representação popular nas decisões do setor, têm sido a regra histórica. A reversão desse quadro passa necessariamente por uma maior consciência da importância política da comunicação e por ações que possibilitem a implementação prática do direito à comunicação.

Neste sentido, as rádios comunitárias constituem instrumento fundamental de afirmação do direito à comunicação. Elas oferecem uma alternativa concreta para que as comunidades possam falar e ouvir, discutir seus problemas e seus interesses. Frente à comunicação comercial dominante, que já ocupa quase todos os espaços disponíveis, só resta a afirmação de uma comunicação pública autêntica e independente.

Livros como A arte de pensar e fazer rádios comunitárias nos ajudam a renovar a esperança e a alimentar o ‘otimismo da vontade’. Paulo Freire, nosso mestre maior, com certeza assinaria embaixo desse, mais que oportuno, precioso, guia de educação política e comunicação popular.

(*) Jornalista, autor de Mídia: teoria e política e Comunicação e televisão, os desafios da pós-globalização (com Sérgio Caparelli)

******

Jornalista, diretor do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal