‘A análise mais profunda dos números de audiência da Cultura mostra um fenômeno interessante. A emissora é ‘visitada’ diariamente por um terço dos telespectadores da Grande São Paulo, mas sua programação não os seduz o suficiente para que permaneçam sintonizados – e mudam de canal. Pesquisas qualitativas (discussões em grupo) realizadas em fevereiro revelam que a fuga para outras emissoras ocorre porque os temas da Cultura ‘não são atraentes’.
Aos números. Esse 1 terço de telespectadores representa 1,6 milhão de domicílios que têm aparelho de TV ligado na região metropolitana. Na soma diária, esse público fica em média 43 minutos sintonizado na Cultura, mas a ‘visita’ acumulada cai para 13 minutos no horário do Jornal da Cultura. Duas explicações: primeiro, o JC entra no ar no mesmo horário da novela da Globo que todo dia abocanha mais de 50% da audiência total; segundo, os visitadores se queixam do ‘distanciamento’ a que são relegados. Da pesquisa qualitativa aflora o motivo: eles (os apresentadores do JC) conversam muito entre si, e até parecem se divertir com isso, mas o público não se sente partícipe.
Outro número importante: 42% dos visitadores são da classe sócio-econômica C, 34% de A-B e 24% D-E. Na classe C a Cultura só perde para o SBT, que ostenta 47%. A importância decorre do fato de estar concentrada na classe C o maior contingente da população pesquisada, o que também representa (para o mercado publicitário) o maior poder de compra (consumo de bens e serviços).
Os índices de audiência e o conteúdo das discussões nos grupos oferecem subsídios valiosos à emissora, sobretudo no momento em que ela reformula a sua grade de programação. Se cometer erros agora terá perdido uma ótima oportunidade de virar o jogo – ou seja, de conquistar índices de audiência com boa média consolidada, e não apenas de visitas esporádicas e de curta permanência.
Os reparos do público ao excessivo informalismo dos apresentadores do Jornal da Cultura confirmam observações feitas há meses neste espaço. Ninguém gosta (eu também não gosto) daquele velho padrão ‘Cid Moreira’ de apresentação pasteurizada que prevaleceu durante décadas no Jornal Nacional, da Globo. O excesso de formalismo é enfadonho, presunçoso, e também distancia o público. Mas a contrapartida não é o ambiente de hora do recreio na cantina da escola.
No caso do JC, o primeiro problema das conversas informais entre apresentadores e comentaristas é o da linguagem. Quando um conversa com o outro passam ambos a impressão de não estão preocupados se o telespectador entendeu ou não as suas palavras. Engolem sílabas, sobretudo as últimas, com seu modo de falar ininteligível, o que simplesmente torna inútil uma eventual qualidade de conteúdo. Além do mais, o público procura a Cultura em busca de informação relevante, e não para saber para que time torce o apresentador do telejornal.
Agora que os próprios telespectadores apontam essas deficiências, não há razão para tolerar brincadeiras bobas. O telespectador da Cultura espera que a direção da emissora faça uma leitura correta das informações de que dispõe e ofereça na tela a programação de qualidade a que tem direito.’
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‘Semana da Mulher’, copyright TV Cultura (www.tvcultura.com.br/ombudsman), 3/3/05.
‘A programação divulgada pela TV Cultura para a Semana da Mulher parece direcionada mais a homenagens (merecidas) que a uma reflexão a respeito da condição feminina. A dura realidade do cotidiano brasileiro (e de outros países também) deveria merecer uma semana inteira de debates diários sobre assédio sexual no ambiente doméstico e no trabalho, estupro, aborto, prostituição infanto-juvenil, salários aviltados, dupla e tripla jornada, discriminação machista – enfim, uma lista enorme de temas relevantes, atuais e inquietantes. A rigor, abordagens como essas cabem perfeitamente na grade de uma emissora pública não apenas na Semana da Mulher, mas o ano todo. Se a TV pública não discute a sério essas questões, que outra irá faze-lo?’
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‘Informação qualificada’, copyright TV Cultura (www.tvcultura.com.br/ombudsman), 3/3/05.
‘Sempre que consultado, o público da TV Cultura manifesta claramente sua preferência por informação qualificada. Na Enquete desta página, em fevereiro, 67% das opiniões consagram essa opção. A demanda por ‘difusão do conhecimento’ alcançou 37% e, ‘jornalismo e debates’, 30%. Os restantes 33% votaram em teledramaturgia, musicais (17%), programas infantis, juvenis e de esportes (16%). Embora não identificados por faixa etária, supõe-se que a maioria dos 714 votantes seja formada por adultos.’