Consta que já existem mais de trinta livros sobre Jânio. Este ainda não é a biografia extensa e minuciosa que a carreira do ex-presidente demanda, e possivelmente surgirão outros no futuro. A propósito dessa exuberância bibliográfica, Jânio gostava de dizer: ‘Livros a meu respeito provam que no Brasil há muita falta de assunto’ – indicando ser bom assunto até pela modéstia.
Este livro é um perfil de Jânio Quadros, uma síntese de leituras acrescida de uma pesquisa em fontes secundárias (jornais, revistas, vídeos) e temperada por consultas a pessoas que viveram os acontecimentos ou os estudaram. Vários protagonistas da história, ex-colaboradores, amigos e familiares do ex-presidente, políticos, cientistas sociais e jornalistas, gentilmente cederam tempo e atenção para esclarecer aspectos controversos, interpretar fatos, desfazer preconceitos, sugerir caminhos e até ceder materiais. Apesar dessa solicitude, este livro contém falhas e equívocos pelos quais, naturalmente, apenas o autor é responsável.
Como se sabe, a paixão política não cabe nas interpretações. Muitos desses personagens viveram intensamente momentos da carreira de Jânio, mas poucos viveram-na o tempo todo. Ao longo de 45 anos, o ex-presidente refez alianças políticas, mudou de posição e tomou atitudes desconcertantes até para seus assessores. Felizmente, reina o pluralismo e o trigésimo segundo ou o trigésimo terceiro livro sobre Jânio sempre poderão contar uma história diferente.
Este livro é devedor, em especial, da gentileza e dos testemunhos inestimáveis de Alberto Dines, Almino Afonso, Anselmo Farabulini Júnior, Bolívar Lamounier, Cláudio Lembo, Edgardo Pires Ferreira, Fernando Antônio Sá Azambuja, Fernando Henrique Cardoso, Francisco Weffort, Hélio Jaguaribe, Jânio Quadros Neto, Jair de Carvalho Monteiro, João Brasil Vita, João Mellão Neto, José Álvaro Moisés, José Aparecido de Oliveira, José Castello, Luiz Adelino de Almeida Prado, Luiza Erundina de Souza, Maria Cecília Breda Camargo, Maria da Paz Trefaut Urbano Rodrigues, Maria Victoria de Mesquita Benevides, Mino Carta, Miriam Limoeiro Cardoso, Murilo Melo Filho, Otávio Frias de Oliveira, Paulo Augusto Calderelli, Plínio de Arruda Sampaio, Roberto de Oliveira, Vera Lúcia Michalany Chaia e Luis Villas-Bôas Corrêa.
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Jânio foi um prestidigitador, mas não uma fraude. Só uma crítica ressentida pode atribuir sua complexa popularidade à manipulação demagógica ou à vitória da forma sobre o conteúdo. Ninguém chega a presidente da República sem levar-se e ser levado a sério. Seu carisma, seus mandatos na prefeitura e no governo de São Paulo e suas propostas empolgaram eleitores de todas as origens e condições sociais, levando-o à presidência na eleição mais democrática do país até então. Jânio tornou-se um fenômeno pelas suas virtudes e pagou caro por seus vícios.