Quando o Jornal Nacional completou 15 anos, em 1984, saiu o primeiro livro contando sua história. Aos 35 anos, já organizado pelo projeto Memória Globo, saiu outro livro, em 2004. Fosse o Jornal Nacional uma personalidade, tais livros seriam o que se chama usualmente de biografia autorizada. Há discrepâncias de informações entre estes dois livros, mas não é aqui o espaço para apresentá-las.
O projeto Memória Globo lança agora o terceiro livro sobre o Jornal Nacional. Um livro escrito pelo apresentador e editor-chefe William Bonner. Pela leitura, parece que Bonner incorporou o padrão Jornal Nacional de texto. É para ser compreendido tanto por um homem culto como por uma pessoa qualquer. A fluência do texto lembra a fluência da narração de Bonner quando no comando do jornal. Como o próprio autor observa, o texto escrito não é adequado para a televisão. Esses momentos em que o livro lembra uma narrativa televisiva soam diferentes, causam algum estranhamento.
Embora seja um livro simples, mostra todo o processo como o JN é feito. Aqui ou ali apresenta algum elemento histórico, mostrando como o JN evoluiu nesses 40 anos. Seja na incorporação de novas tecnologias, seja em mudanças no modo de produzir e apresentar notícias.
Coisas não contadas
Para quem quer conhecer como funciona a redação do Jornal Nacional, o livro tem lá sua utilidade, embora o autor fuja de quase todas as polêmicas em que o JN se envolveu: Proconsult e Diretas Já, como as mais famosas – e tratadas no livro lançado em 2004. A única polêmica tratada foi aquela em que ele se envolveu quando, num encontro com professores de Jornalismo da USP, comentou que o telespectador do JN assemelha-se ao personagem Homer Simpson. Ele apresenta seu ponto de vista baseado no depoimento de outros que participaram do encontro, inclusive alguns renomados professores. Infelizmente, neste trecho o autor não esconde o rancor. Mantivesse a posição olímpica em que se mantém em quase todo o livro, se sairia melhor ainda.
O professor Laurindo Lalo Leal, pelo que se depreende da leitura e dos depoimentos, manteve-se calado durante todo o encontro para só no dia seguinte questionar publicamente William Bonner.
Bonner consegue apresentar como seleciona as notícias e as apresenta sem maiores aprofundamentos. Não poderia ser diferente. O interessado em conhecer o modo de fazer o Jornal Nacional tem grande chance de encontrar muita informação nova e relativamente relevante. Mas vai terminar a leitura com a sensação de que muita coisa deixou de ser contada.
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Jornalista, professor da Universidade Federal do Espírito Santo