Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Machado

“Em nossa coluna da semana passada A Ouvidoria e a gestão da qualidade da informação apresentamos algumas sugestões de indicadores desenvolvidos por especialistas para os veículos de comunicação que desejarem implantar a gestão da qualidade da informação.

Os erros de informação apresentam-se como um dos principais sintomas de que o processo de produção da notícia tem problemas, às vezes estruturais, outras vezes funcionais, ou ainda ambos, concorrendo para que uma informação errada chegue ao público.

Para o veículo de informação saber como e onde se originam os erros é necessária uma investigação de suas causas e é aí que entram os indicadores de qualidade aplicados sistematicamente sobre todas as etapas da produção da informação, desde a escolha das fontes, na gestação da pauta, até a edição e publicação final da notícia.

Quando a Agência Brasil publicou a matéria Dia Mundial sem Tabaco: cigarro pode matar 8 milhões até 2030, o leitor Heitor Fernandez foi informado que:’ O cigarro deve matar em 2011 quase 6 milhões de pessoas em todo o mundo – dessas, 600 mil são fumantes passivos. O número representa uma morte a cada seis segundos. Até 2030, a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que 8 milhões de pessoas podem morrer em consequência do fumo.’

Percebendo certa inconsistência nos números apresentados, ele perguntou: ‘como o cigarro poderá matar, só em 2011, cerca de 6 milhões de pessoas em todo o mundo e depois levar 19 anos para matar mais 2 milhões?’

Nesse caso, a Ouvidoria constatou que o erro na informação procedia desde sua origem – na própria nota divulgada pela OMS foi omitido que os dados eram anuais. Ou seja, o tabagismo está matando 6 milhões de pessoas em 2011 e continuará matando o mesmo número de pessoas, ano após ano, podendo chegar a 8 milhões de vítimas ao ano, em 2030.

Mas para chegarmos a essa conclusão tivemos que ler o resumo executivo da referida pesquisa, tarefa que na maioria das vezes o jornalista por falta de tempo ou disposição não consegue realizar, satisfazendo-se apenas com a leitura das notas divulgadas pelas assessorias de imprensa das instituições.

Assim, a informação da OMS correu o mundo carregando uma inconsistência.

Para repará-la era necessária a leitura do resumo ‘Informe OMS sobre la epidemia mundial de tabaquismo, 2011– Advertencia sobre los peligros del tabaco – Resumen’ (*). Logo na primeira página aparece a seguinte frase: ‘El tabaco sigue siendo la primera causa mundial de muertes prevenibles. Cada año mata a cerca de 6 millones de personas … Si se mantiene la tendencia actual, en 2030 el tabaco matará a más de 8 millones de personas al año’.

Nesse caso específico verificamos que o tempo e os recursos de que o jornalista dispõe para fazer a apuração e checagem das informações podem agir tanto a seu favor (agilidade na divulgação da notícia) quanto serem contrários à qualidade de seu trabalho, se forem exíguos. Esse tempo e esses recursos são dois dos indicadores utilizados pelos sistemas VAP (Valor Agregado Periodístico) e PCP (Percepción de la Calidad Periodística) (**) de gestão da qualidade da informação.

Para precaver-se deste tipo de ‘armadilha’, pelas quais os profissionais do jornalismo são freqüentemente surpreendidos, somente um processo sistemático de verificação da consistência, da lógica e da veracidade das informações, antes de publicá-las, pode minimizar os danos causados à qualidade da notícia e conseqüentemente, à credibilidade do veículo.

Mas adotar tais procedimentos relativos à segurança das informações é uma escolha técnica decorrente de decisões editoriais tomadas pela direção da empresa de comunicação ao fazer o planejamento editorial do veículo: ‘Planejar também é saber que a qualidade do jornalismo entregue ao cidadão usuário tem que ser checada e aferida periodicamente, pois desvios, voluntários ou não, podem causar danos irreversíveis à qualidade editorial e perda de leitores ou de audiência.’ (***).

Até a próxima semana.

(*) – disponível aqui.

(**) – VAP – Este instrumento fue diseñado por la Facultad de Comunicación de la Pontificia Universidad Católica de Chile cfr. ALESSANDRI, Francisca y otros ‘VAP: un sistema métrico de la calidad periodística’ en Cuadernos de Información, Nº 14, Santiago de Chile, 2001, pags. 112 a 120.

– PCP – Este instrumento fue diseñado por el Lidia de la Torre como parte del Programa de Calidad Periodística del Instituto de Comunicación Social de la Pontificia Universidad Católica Argentina cfr. DE LA TORRE, Lidia y TERAMO, María Teresa, La noticia en el espejo. Medición de la calidad periodística: la información y su público, Buenos Aires, EDUCA, 2004, págs. 131 a 149.

(***) – Para saber mais sobre o planejamento editorial do veículo leia: Jornalismo planejado funciona melhor, de autoria do jornalista Celso Nucci, no site do Observatório da Imprensa.”