Talvez algumas pessoas me digam que Lou Marinoff não passa de um picareta. Para já, porém, não penso que ‘picareta’ seja sempre e necessariamente um xingamento para apontar aquele que faz as coisas malfeitas e ainda se aproveita da ingenuidade alheia. Uma boa picaretagem pode demolir estruturas fadadas ao fracasso, desconstruir esquemas falsos, derrubar muros.
Se o autor de Pergunte a Platão – seu livro anteriormente publicado no Brasil intitula-se Mais Platão, menos Prozac, também pela Record – atuar como uma picareta que arranca pedras de uma parede estúpida ou que escava a terra para encontrar um tesouro escondido… parabéns ao picareta!
A banalidade do dia-a-dia pode levar qualquer um à loucura. Ou pelo menos… ao tédio. Ou à irritabilidade gratuita. Acordar, levantar-se, trabalhar, alimentar-se, buscar o prazer, fugir à dor, fingir contentamento, fingir que se sabe, que se pode, driblar as inconveniências, enfrentar deveres inadiáveis… Deveras, viver não é para qualquer um…
Mas por estarmos vivos, e estar vivo é aprender a morrer, como dizia Sócrates, a proposta de Lou Marinoff, que é a de vulgarizar as grandes idéias da filosofia, não deixa de ser uma boa oportunidade para pensarmos um pouco.
Pense um pouco: há quanto tempo você não pensa?
E, pensando, pesando os prós, os contras, os ‘quens’ os ‘porquês’, os ‘para quês’, é pensando que o representante do assim chamado homo sapiens (você, eu) descobrirá saídas originais para os seus becos sem saída. Uma dessas saídas pode ser voltar atrás!
Cientes e conscientes
Na capa do livro de Pergunte a Platão, o filósofo grego está sentado em sua poltrona, o olhar perdido no infinito, as pernas cruzadas. No divã, vê-se que há um homem deitado, vestido de terno e gravata. Seu rosto está escondido. Suas mãos erguidas, crispadas. A serenidade do pensador em contraste com a angústia do homem contemporâneo, estressado, perdido.
O remédio é pensar. O estóico Marco Aurélio afirmava que os nossos pensamentos forjam a nossa vida. Pensamentos negativos também. A dúvida pode nos salvar daquelas certezas que nos levam ao desespero. O terapeuta Platão nos aconselha a indagação como tranqüilizante que nem sempre tranqüiliza.
Pois, intranqüilos talvez, mas agora cientes e conscientes, apoiados em nossa inteligência, poderemos compreender melhor o incompreensível e, sem querer respostas para tudo, para tudo encontrarmos algumas pistas sensatas, ou nem tanto… De sensatez barata já estamos cheios!
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Doutor em Educação pela USP e escritor (www.perisse.com.br)