Em meio a um grande número de baixas militares e histórias de abuso de prisioneiros por soldados americanos, George W. Bush vem sendo bombardeado por notícias ruins. O atual governo já era tido como pouco aberto à imprensa, mas, com a eleição presidencial deste ano e uma enxurrada de reportagens críticas, essa situação pode piorar, como mostra matéria de Peter Johnson para o USA Today [10/5/04]. Por que a mídia americana, que antes foi acusada de colaborar com Bush na construção de um clima favorável à invasão do Iraque, agora tem noticiado com tanta ênfase fatos negativos para a imagem do presidente, como os abusos na prisão de Abu Ghraib?
‘Haveria algo de errado se não houvesse tanta cobertura’, observa o âncora do programa This Week, da rede ABC, George Stephanopoulos. ‘A história do abuso de prisioneiros reforça a percepção de algumas pessoas de que o governo não tem a situação no Iraque sob controle. Isso significa que este incidente particular ganha mais cobertura do que ganharia normalmente e significa que ele tem mais impacto também’, acrescenta Susan Page chefe do escritório do USA Today em Washington. ‘Eu não sei se a mídia está ficando mais crítica. Acredito que há mais assuntos críticos para serem cobertos’, opina Jeff Fager, produtor do programa jornalístico 60 Minutes, do canal CBS.
Geneva Overholser, professora da Missouri School of Journalism não concorda que as notícias tenham ficado mais negativas para Bush apenas porque os acontecimentos no Iraque estão se desenrolando de uma maneira propícia a isto. Ela entende que a imprensa tem uma tendência de andar ‘em manada’. Foi assim no começo da guerra, quando havia um movimento geral de pouco ceticismo quanto à intervenção na ditadura de Saddam Hussein. ‘Uma vez que o questionamento começa, os outros também começam a questionar’.
A cobertura mais cética das atitudes de Bush nos últimos tempos vem afetando sua popularidade. Atualmente, mais da metade dos americanos desaprovam a forma como o presidente tem conduzido a guerra. ‘Quando um presidente é popular, há uma tendência de se falar de acontecimentos que descrevam sua popularidade. Quando os números estão caindo, isso serve como uma lente para explicar porque sua popularidade diminui’, analisa Tom Rosenstiel, diretor do Project for Excellence in Journalism. ‘Estamos num ciclo em que as más notícias se criam sobre elas mesmas’, afirma Robert Lichter, diretor do Center of Media and Public Affairs.