O nome da vez no telejornalismo nacional é Luiz Fara Monteiro. O ex-apresentador do programa Café com o presidente, da antiga Radiobrás, entra para a história do segmento como o primeiro correspondente da TV comercial brasileira na África. Desde a década de 60, quando começaram as transmissões internacionais no país, nenhuma emissora de TV comercial mantém um repórter fixo para a divulgação das notícias do continente. Nem mesmo a rede Globo, pioneira nessas transmissões, ‘quis’ ou ‘pôde’ dar esse passo.
Se fizermos as contas, são mais de 40 anos de esquecimento. Mais de 40 anos de isolamento e exclusão. Até este começo de dezembro, era como se a África não existisse.
Mas como e por que ignorar um território tão grande e populoso? A África é o terceiro continente do mundo em tamanho, só perde para a Ásia e as Américas; e o segundo, em população. Por lá, vivem mais de 800 milhões de pessoas. Não sou cientista política, economista, socióloga ou antropóloga, por isso não vou me atrever a responder a essa pergunta, mas acredito que os africanos não podem ser ignorados.
Excelente negócio
Arrisco dizer que a decisão da rede Record em criar um ‘posto avançado’ na África está mais ligada a questões mercadológicas e políticas do que à vontade de aprimorar o trabalho jornalístico. Na verdade, creio que a Record fez isso pra não perder a chance de ser pioneira – afinal, mais cedo ou mais tarde alguém implantaria a mesma idéia. Lembro-me bem da previsão feita em abril de 2007, pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Franklin Martins. Na época, ele afirmou que quando a TV Brasil (televisão pública brasileira) contratasse um correspondente para atuar na África, as emissoras brasileiras iriam atrás em dois ou três anos. Franklin só errou na data. Menos de um ano depois da estréia do correspondente da TV Brasil no vídeo, a Record escala Luiz Fara Monteiro.
Dizem os profissionais de marketing que uma empresa que é pioneira em algo tem mais chances de garantir um espaço na mente do seu consumidor ou potencial consumidor. O pioneirismo pode influenciar, inclusive, no posicionamento de uma empresa frente ao mercado. Trocando em miúdos, ser lembrado com simpatia pode, lá na frente, interferir positivamente no market share de uma organização, ou seja, na posição que ela ocupa em relação à concorrência. Resumindo, ter um correspondente na África, além de ser politicamente correto pode ser um excelente negócio para a Record.
Potencial para surpreender
A presença de Luiz na África, se bem aproveitada, vai resultar num ganho e tanto para o telejornalismo brasileiro. Apesar de ser rica em notícias e ‘pautas’, a África nunca teve o espaço que merece na mídia. Apenas tragédias e problemas como fome, epidemias, conflitos étnicos e políticos são divulgados no Brasil, e sempre a partir do olhar de europeus e americanos, ou seja, a partir da visão de países desenvolvidos que têm referenciais bem diferentes dos nossos. Parece que o jornalismo brasileiro (ou seriam os empresários da comunicação?) também esquece o quanto nosso país tem pontos em comum com os países africanos e o quanto nosso povo se identifica com os povos dessas nações.
A África possui uma riqueza histórica, turística e cultural impressionante e que, em vários aspectos, tem tudo a ver conosco. Enfim, vai ser um grande prazer acompanhar as reportagens que chegarão do território vizinho, um lugar que, além de tudo, conta com paisagens deslumbrantes e um grande potencial para nos surpreender.
Resumo da ópera: no momento, só tenho que parabenizar a Record pela iniciativa e desejar que essa novidade não seja só um ‘fogo de palha’, uma ‘jogada de marketing’, uma ação a ser revertida ao primeiro sinal de dificuldade.
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Jornalista especializada em Comunicação com o mercado pela ESPM-SP e coordenadora do curso de Jornalismo da Unimonte