Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

ProPublica aprimora modelo de negócios

Apesar de ter feito história ao receber neste ano o primeiro prêmio Pulitzer para uma reportagem veiculada exclusivamente na internet, a organização sem fins lucrativos ProPublica ainda é um modelo em processo de invenção.

É o que diz seu editor-executivo, Stephen Engelberg, que abriu ontem [terça-feira, 22/11], numa entrevista a Fernando Rodrigues, da Folha, o 5º MediaOn, seminário de jornalismo on-line realizado pelo portal Terra e pelo Itaú Cultural.

É o segundo Pulitzer do ProPublica, criado em outubro de 2007. O anterior foi para reportagem publicada no New York Times.

Como jornalismo, o ProPublica já funcionou, diz ele. Como “modelo de negócios”, precisa depender menos dos financiadores originais. Engelberg, que trabalhou 18 anos no NYT, detalha a seguir como atua a organização, com sede em Nova York.

Após quatro anos e dois Pulitzer, você acredita que o modelo é um sucesso?

Stephen Engelberg– Há duas formas de ver. No modelo de jornalismo, não havia certeza de que poderíamos produzir reportagens que fazem diferença, de que nossos repórteres seriam respeitados e teriam suas ligações respondidas… Tudo isso funcionou. Já o modelo de negócios é algo que continuamos a inventar. Começamos com recursos significativos de Herbert e Marion Sandler. Eles se comprometeram com até US$ 10 milhões por ano e, no primeiro, gastamos US$ 9,5 milhões. Neste ano, baixamos a contribuição dos Sandler para cerca de 50%, 55%. Teremos levantado bem mais que US$ 4 milhões até o fim de 2011, de fundações e indivíduos. O número total de apoiadores chegará perto de 3.000. Estamos no caminho para provar que é possível criar um modelo filantrópico para o jornalismo.

Você começaram agora também com publicidade?

S.E. – Começamos, mas eu tenho que dizer que, até agora, um montante mínimo veio daí. Sinceramente, nosso modelo não é o melhor para encontrar patrocinadores corporativos, já que investigamos muitas empresas.

Uma das críticas ao ProPublica é que ele seria politicamente liberal, com os Sandler e agora também George Soros como financiadores.

S.E. – Você tem de olhar não para a origem do dinheiro, mas como ele é gasto. Na nossa cobertura, o que você vai encontrar é que somos duros com as pessoas que estão no poder, seja no mundo governamental, seja nas empresas.

Vocês também têm parcerias com jornais e TVs. Recebem por isso?

S.E. – Até agora, não. Quando esse momento de transição passar, é possível imaginar que se sintam confortáveis em nos pagar.

Quais são os mais abertos ao seu trabalho?

S.E. – Tivemos artigos no Washington Post, NYT, Los Angeles Times, 60 Minutes, na televisão pública. No momento, nossa relação com o WP é muito forte.

No Brasil, não há uma tradição de doação. Como seria possível reproduzir o modelo aqui?

S.E. – Seria preciso uma mudança de filosofia. Mas também nos EUA, até recentemente, não havia indivíduos financiando jornalismo. Você primeiro tem de se perguntar se certos tipos de jornalismo são um bem público. Segundo, você precisa ter uma vontade, entre os ricos, de financiar algo sobre o qual não têm controle pessoal.

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[Nelson de Sá é articulista da Folha de S.Paulo]