Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Qual a influência dos escândalos políticos?

A discussão de mídia exige muitíssima atenção. Não é fácil e devemos ir devagar. O poder de uma notícia ou de um comentário pode soar um julgamento irrevogável e por isso é necessário cuidado no instante que um apresentador expõe os fatos. Entretanto, não são apenas os apresentadores que ficam à espreita de um furo político. Na verdade, há, atualmente, analistas políticos de plantão esperando na porta das emissoras de televisão para dar o seu veredicto sobre os assuntos do momento. Mas, isso é assunto para outro artigo.

Seguidamente, semana passada, noticiou-se o fim da emenda eleitoral de 1997, que proibia a sátira e comentários mais ‘salgados’ a respeito dos candidatos nos últimos três meses de campanha eleitoral. Porém, antes de você se dizer contra ou favor, é importante questionar o motivo da existência dessa proibição: de fato, o que faz a nossa sociedade se organizar em regras? Em certas ocasiões, parece que é coerente afirmar uma posição totalmente libertária, principalmente quando nos referimos à imprensa.

Os currículos e a imagem

Sim, caro leitor, essa busca é louvável e todos lutamos por ela. Todavia, sabemos que nossa sociedade ainda é muito ‘dependente’ dos julgamentos morais dos meios de comunicação e de seus comentaristas. Não me entenda mal, por favor: não estou dizendo que as pessoas não têm o direito de dizer ‘não, não é bem assim, não foi assim que aconteceu’. Sim, todo cidadão tem esse direito, mas não tem esse espaço nos meios de comunicação. Ou seja, há o direito de informação, onde acessamos os diferentes lados dos acontecimentos, porém quem escolhe as manchetes do dia? E a pauta dos noticiários? E a ênfase conotativa na hora de divulgar os fatos? Quem não se lembra das crônicas indiscretas de Alexandre Garcia nos anos 90? Onde ele não media as palavras durante os comentários e, não vamos tão longe, quando certos programas, atualmente, apresentam quadros sensacionalistas que parecem tentar associar continuamente a imagem do político a sinônimo de corrupção?

A pergunta que estamos nos fazendo durante esse artigo é semelhante à que muitos analistas políticos têm feito: por que discutimos tanto escândalos políticos nas mais diferentes campanhas eleitorais e esquecemos de debater outros temas, tão ou mais importantes? Contudo, sabemos que a simples suspeita de um escândalo pode desencadear um escândalo. E é nesse sentido que a mídia exerce um papel importante, segundo Vera Chaia, o de tornar público o escândalo, onde se expressa a desaprovação por aquela transgressão, oferecendo um campo amplo para a articulação de um discurso moralizador e reprovador. Dessa forma, a notícia representa o acontecimento em uma espécie de realidade filtrada pelas escolhas subjetivas do jornalista e de sua editoria.

O contexto eleitoral brasileiro é forjado nas projeções de marketing e pesquisa, como já mostramos no artigo do dia 31/08. No entanto, as campanhas eleitorais representam uma espécie de encruzilhada de caminhos diferentes. Os candidatos costumam assumir posições contundentes com o objetivo de convencer o eleitor que este é o ‘seu momento’, ou seja, a grande oportunidade de fazer algo, realmente importante, pela nação. Por isso, os currículos devem ser impecáveis e a imagem tão bem exposta, porém observamos que as dificuldades de governar estão, geralmente, associadas intimamente ao modelo de desenvolvimento econômico e social do país. Quer dizer, de nada vale formarem-se dissidências e conglomerações de grupos pertencentes a ‘A’ ou ‘B’, pois a simples sensação de bem-estar de grande parte da população já expressa a sua vontade.

A arte de governar

No dia 3 de setembro o presidente Lula disse algo muito interessante, que vale a pena ser trazido à tona mais vezes porque, além de tudo, representa o motivo deste artigo: ‘A arte de governar é conhecer as necessidades do povo, chamar a sociedade para participar da consolidação das políticas públicas, e não ter preconceitos nem medo de ouvir as demandas populares’, afirmou o presidente.

O campo político, assim como os campos jurídico, religioso e o jornalístico, expressam campos de forças e de disputas, servindo de ambientes férteis, onde os candidatos que souberem se aproximar e perceber as necessidades do povo e, principalmente, chamar as pessoas para discutir as soluções para os seus problemas, ganham legitimidade para governar. Essa legitimidade não é sobreposta a uma imagem, simplesmente, quase alegórica e fantasiosa, mas fundamentada na prescrição do que a população percebe e sente diante daquele que se apresenta para representá-lo.

Enfim, para finalizar, queremos argumentar que o discurso jornalístico se constrói, assim como qualquer outro, sob a luz da parcialidade. Ele pretende-se imparcial, escondendo-se sob a máscara da objetividade moral e eticamente aceita pela sociedade. Entretanto, a linguagem empregada busca, de algum modo, apresentar a postura e a visão de mundo do seu interlocutor ou patrocinador.

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Psicólogo social, Porto Alegre, RS