Há certas normas que todo jornal deve seguir: a principal, claro, é reproduzir a realidade ou, pelo menos, tentar ser fiel a essa tarefa. E o maior mérito de uma fotografia é conseguir isso sem maiores problemas. Afinal, o recorte de realidade passa a ser, literalmente, o enquadramento da imagem. Apenas isso. A capa do Jornal do Brasil desta sexta-feira, 12 de março, reproduz uma foto da Agência Reuters do atentado no metrô de Madri. A maioria dos jornais reproduziu na capa a mesma foto, mas só o JB ultrapassou a fronteira ética ao retirar do fragmento da realidade fotografada um elemento: a parte do corpo de uma pessoa. Teria o Jornal do Brasil agido corretamente? Acredito que não…
Diante de tantas fotos da tragédia, o jornal poderia ter optado por outra qualquer. Se a opção editorial para ilustrar a capa foi por aquela foto, que ela fosse colocada na íntegra, pois representa o trabalho de uma agência de notícias, que recortou, naquele instante, um fragmento da realidade sob um ângulo que traz muitas informações: o choro do trabalhador sentado, o socorro dos pedestres, a mulher deitada, as vítimas estendidas sob os cuidados dos espanhóis. Interessante: ninguém olha aquele pedaço irreconhecível de corpo, o que reforça a idéia de impacto, choque e perseverança daquele momento, já que as pessoas se atém apenas ao que representa a vida, ou chance de sobrevivência. Enfim: um átimo de esperança diante de parte destroçada de um dos trabalhadores mortos, solenemente ignorado pelos personagens da foto.
Isso reproduz com mais fidelidade o atentado em Madri. Retirar o pedaço de corpo humano da cena, além de crime contra a informação, é um cuidado que o Jornal do Brasil dá ao leitor sem ele ter pedido. O leitor do JB, até segunda ordem, quer a informação. Se o jornal acha que a foto é pesada (um direito editorial) que selecione outra qualquer, mas não se reserve o direito de retirar da imagem um dos elementos que a compõem. Mais correto fez o Correio Braziliense, que reproduziu a foto sob o ponto de vista de outro recorte, o que omitiu a parte de baixo do trilho, e, conseqüentemente, o pedaço de corpo humano. Isso é selecionar a informação sem manipulá-la. Boa polêmica, hein?
Luiz Cláudio Canuto, jornalista, Brasília
Alterar foto é um absurdo
Como leitor e fotógrafo, achei um absurdo os jornais Diário de S.Paulo e Jornal do Brasil terem alterado uma imagem do atentado de Madri para que a foto ficasse menos chocante. E mais ridícula é a desculpa do editor-executivo do jornal. Se for assim teremos que cortar o cabelo do juiz João Carlos da Rocha Mattos no Photoshop, talvez assim ele fique mais bonito e não assuste nossos filhos. Ou colocar uma foto de lago com patinhos, mas que seja real.
Sergio Barzaghi, fotógrafo, São Paulo
Manipularam a foto
As edições de hoje (12/3) dos jornais O Estado de S.Paulo, Diário de S.Paulo, Folha de S.Paulo e Jornal do Brasil publicaram a mesma foto de Pablo Torres Guerrero (El País/Reuters) sobre o ato terrorista em Madri. Só que os jornais Diário de S.Paulo e JB manipularam a foto, retirando um pedaço de corpo no canto inferior esquerdo da foto. Comparando com as edições do Estadão e da Folha fica fácil a percepção… Um absurdo!
Jose Francisco Diorio, repórter fotográfico, São Paulo
Nota do OI: Veja artigo ‘Alteração de foto gera polêmica no Brasil’, na seção Imprensa em Questão desta edição.
Como ficam as famílias?
Notícia ou sensacionalismo? Eis a questão. Será que vale a pena publicar uma foto de um acidente, no qual as vítimas estão presas às ferragens? Pois é, na edição do jornal Costa Norte, semanal de Bertioga, Litoral Sul de São Paulo, foi justamente isso o que aconteceu. A imagem mostra dois homens mortos, presos às ferragens de uma van, após colisão frontal com um ônibus. A foto choca os leitores. Imagine uma criança vendo esta cena? E a família destes cidadãos? Até que ponto vale a notícia?
Gustave Gama, repórter político do jornal Imprensa Livre, São Sebastião, SP