‘Foi com o Barão de Itararé, historicamente, que o humor, na sociedade brasileira, passou a se mobilizar de modo mais conseqüente, na guerra contra a automistificação da ideologia dominante’, escreveu Leandro Konder em seu livro sobre o Barão. Jorge Amado, embora já não fosse mais o comunista militante de antigamente, não foi menos elogioso, na apresentação do livro Máximas e Mínimas do Barão de Itararé: ‘Não houve no Brasil, na década de 40, escritor mais unanimemente lido e admirado do que o humorista cujo riso, ao mesmo tempo bonachão e ferino, fazia a crítica aguda e mordaz da sociedade brasileira e lutava pelas causas populares. Mais do que um pseudônimo, o Barão de Itararé foi um personagem vivo e atuante, uma espécie de Dom Quixote nacional, malandro, generoso e gozador, a lutar contra as mazelas e os malfeitos’.
Modestamente, me meti entre os que escreveram sobre ele em algumas ocasiões, uma delas em 1991, apresentando a reedição fac-similar do Almanhaque para 1949:
‘… o Barão de Itararé dizia-se ‘herói de dois séculos’, porque nasceu em 1895. Pois este segundo século está no fim e o Barão continua atual. Ao que parece vai penetrar através de suas máximas e mínimas no século XXI também, e virar herói de três séculos’.
Acertei! O Barão continua atual neste século. Apesar de escrever bastante sobre política e políticos – que são datados, perdem a validade de uma geração para outra – suas máximas sobreviveram e continuam valendo, pois – por exemplo – ainda há muitos políticos que continuam achando que ‘o feio em eleição é perder’, e a política é um vale-tudo.
Prazo de validade
Entra governo e sai governo, e continua atual a frase do Barão em que ele diz que ‘o erro do governo não é a falta de persistência, mas a persistência na falta’, e também a que trata da mudança de comportamento de quem se torna poderoso: ‘Queres conhecer o Inácio, coloca-o num palácio’.
E quando vemos no Congresso parlamentares com passado e presente nem um pouco recomendáveis julgando outros por corrupção, nos vem logo à cabeça a famosa máxima da lavra do Barão: ‘Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados’. Mas fora da política também suas máximas continuam em grande parte atuais. Por exemplo: ‘O júri, no Brasil, consta de um número limitado de pessoas escolhidas, para decidirem quem tem o melhor advogado’, ‘Em pé de pobre é que o sapato aperta’…
Enfim, eis aí o Barão, parece que falando sobre os dias de hoje. Isso sem contar a influência que exerceu direta ou indiretamente sobre muitos humoristas atuais. Então reafirmo que acertei ao dizer que ele seria herói de três séculos. Ou dois milênios, que é muito mais. O bom vai ser o dia em que as frases políticas do Barão tiverem perdido a validade, pois isso significará que o mundo mudou para melhor. Mas quando será isso?
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A coleção ‘Viva o Povo Brasileiro – Perfis-Recortes’
Alípio Freire (*)
A Editora Expressão Popular apresenta sua nova coleção. Com ela, tornamos públicos personagens da nossa História que se destacaram nas mais diversas áreas e nos mais diversos tempos. São homens e mulheres que atuaram na política, nas letras, nas ciências, nas artes etc. – a maioria dos quais esquecidos intencionalmente ou apenas ‘escondidos’ e fugazmente vislumbrados nas dobras das páginas das histórias oficiais.
São pequenos perfis, em muitos casos apenas ‘impresssionistas’, em outros nem tanto, às vezes apoiados em pesquisas, ou apenas em memórias, que visam apresentar recortes que levem os leitores a um primeiro contato com esses personagens, despertando-lhes o interesse para futuros estudos e aprofundamentos.
Ao mesmo tempo, o conjunto da coleção comporá um mosaico de diálogos que integram nossa cultura.
Os livros têm o formato de bolso, com 80 a 110 páginas, e custam R$ 3,00 cada. Mais informações na Editora Expressão Popular, telefone (11) 3112-0941
(*) Jornalista
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Jornalista