Na terça-feira (12/6), o primeiro-ministro britânico Tony Blair fez um longo discurso, no Reuters Building, em Londres, sobre mídia e política. Inicialmente, explicou que se tratava de uma reação aos ataques que sofreu por parte de mídia durante os dez anos em que ocupou o posto que está deixando agora.
Fez questão de deixar bem claro que a liberdade de imprensa é de importância fundamental para uma sociedade livre e, para reforçar essa verdade, ‘basta dar uma olhada como se vive nos países onde essa liberdade é inexistente’. Disse que não está propenso a querer que os governos tenham que criar normas para a mídia, mas essa liberdade lhe dá o direito de criticá-la. ‘A mídia tem o direito absoluto de ser livre. Eu, como qualquer pessoa, tenho o direito absoluto de me manifestar sobre o assunto.’
Terminou sua fala declarando: ‘Bem, está feito. Refleti muito se era oportuno expor minhas opiniões e sei que, em muitos segmentos, serei condenado por tê-lo feito. Mas minha idéia é a de que alguém deveria fazê-lo e eu o fiz.’
‘Fazer’, para Blair, tem como significado dizer aquilo que ele considera ser a dura realidade sobre a mídia britânica, acima de tudo sobre os jornais. Disse que estes se comportam como uma ‘fera malvada’ quando estão na pista de algo que poderia ser um escândalo, seja verdadeiro ou falso. Fica claro que o relacionamento que teve com a mídia não foi nada tranqüilo e ele está deixando o cargo com profundas mágoas.
Sem ‘ferocidade’
Todavia, não hesita em usar mídia oficial, paga pelo contribuinte, em proveito próprio. Desde o dia 4, o site de Downing Street, sua residência oficial, passou a ter também uma versão em árabe, num objetivo subentendido de tentar, no final de governo, melhorar sua imagem perante o mundo islâmico – bastante abalada pela participação de seu país, lado a lado com os Estados Unidos, na malditamente impopular guerra do Iraque. Há também o projeto de transmitir em outras línguas para atrair maior número de usuários. ‘Queremos satisfazer todos aqueles que, fora da Grã-Bretanha, estão curiosos por conhecer a história e a forma como trabalha o governo britânico’, declarou o porta-voz do governo, como se estivesse se justificando.
O site divulga notícias sobre o primeiro-ministro, seu governo, comunicados à imprensa e as últimas notícias sobre política. A nova versão árabe é, ipsis verbis, a tradução daquela em inglês. Nos últimos meses o site teve mais de 6 milhões de visitantes.
Como se pode ver, a mídia oficial deixa de ser fera, perdendo dessa forma a ‘ferocidade’ daquela independente e livre.
(No próximo dia 27, Tony Blair será substituído por seu atual ministro das Finanças, Gordon Brown.)
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Jornalista