Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Resultados mostram que ensino vai mal

De cada dez escolas públicas, oito não atingiram a média de 553,73 pontos nas provas do Exame de Ensino Médio (ENEM). A escala é de mil pontos. Assim, se a prova fosse bimestral, semestral ou final, os melhores alunos teriam tirado nota abaixo de seis.

É muito pouco! Mas a maioria nem a isso chegou. A escola classificada em primeiro lugar, o Colégio São Bento, do Rio de Janeiro, alcançou modestos 761,7 pontos. Também é pouco. Afinal, aluno que tem média 7,61 é um bom aluno, mas não é nenhuma sumidade, certamente não obteria os primeiros lugares entre seus colegas europeus, americanos ou chineses das melhores escolas.

A mídia está comparando as escolas públicas com as escolas privadas, mas são muitos os textos que omitem o seguinte: a rede pública responde por 88,2% de todos os alunos do ensino médio.

O ensino médio vai mal? Bem, nem precisava medir, o senso comum já sabe disso há muito tempo, mas de todo modo essas estatísticas servem para revisões e planejamentos, pois é preciso saber onde, quando, como e para que investir. O próprio MEC já sabia da situação calamitosa do ensino médio pelos exames do Sistema de Avaliação Básica (SAEB).

Receita do sucesso

O que fazem as escolas que se saíram bem? Naturalmente, o óbvio: seus alunos estudam e têm melhores professores! Estas são as duas razões principais. Têm também melhores instalações.

O MEC já sabe o que fazer: reformar as instalações, pagar melhor os professores e exigir deles constantes estudos com o fim de aperfeiçoar o conhecimento das disciplinas que ministram, pois agora, com a atualização das bibliografias por meios eletrônicos, eles correm o risco de saberem menos do que seus alunos mais aplicados, aos quais devem ensinar e não apenas com eles aprender.

A relação bunda-cadeira-hora, abandonada há anos na escola pública, que privilegia merenda – certamente necessária, mas os alunos não foram ali para comer, foram ali para estudar –, deve ser retomada imediatamente. As escolas que ficaram nos primeiros lugares fazem no lugar onde estudam três refeições diárias e não apenas a merenda.

Seus alunos começam a estudar às 7h30 e saem às 16h20. Há ainda aulas de reforço em outros horários e provas e exames simulados aos sábados. Ali, porém, filhos de pobres não entram, a não ser em casos raríssimos: as mensalidades estão ao redor de R$ 2 mil.

Os melhoramentos aplicados nas escolas de excelência podem ser estendidos a todas as outras escolas, públicas ou privadas. O segundo e o sétimo lugares, por exemplo, couberam ao Instituto Dom Barreto e ao Educandário Santa Maria Goretti, do Piauí.

Há outras surpresas no ranking. São Paulo, o mais avançado estado da federação em tantos quesitos, aparece com uma única escola entre as dez mais, atrás do Piauí, com o Vértice Colégio. O estado de Minas Gerais ocupa quatro das dez primeiras posições. E certas regiões, tradicionalmente bem avaliadas, como o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e o Paraná, não têm nenhuma escola entre as dez mais.

É bom o MEC medir. Sabemos que vamos mal e isso é um bom começo: conhecer a realidade para saber o que fazer.

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[Deonísio da Silva é escritor, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo, professor e um dos vice-reitores da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro]