Byron Calame dedicou sua última coluna como ombudsman do New York Times para fazer um retrospecto do período de dois anos em que ficou no cargo e para expor sua opinião sobre o futuro do jornal. ‘O Times é um jornal excepcional, apesar de todas as questões levantadas por mim como ombudsman. Você, leitor, recebe um jornal sem igual em consistência. Mas manter a tradição de um bom jornalismo custa caro’, reflete. ‘O Times não nega a recente afirmação do presidente do Washington Post de que o orçamento anual do jornal é de mais de US$ 200 milhões, mesmo com os cortes de custos nos últimos anos’, diz, referindo-se a artigo de Donald Graham em defesa do jornalão às vésperas do último encontro anual de investidores do grupo.
Desafios
Para Calame, o modo como o Times lida com os dois maiores desafios atuais da indústria jornalística – a queda com os lucros publicitários e a migração de leitores para a rede – determinará a qualidade das notícias. ‘Gerar lucro para pagar a equipe do jornal a fim de manter a alta qualidade é o desafio mais sério’, opina o ombudsman. A esperança é que o lucro online passe a compensar os prejuízos com o impresso. No entanto, o próprio diário informou que decidiu reduzir a previsão de crescimento dos lucros na rede para este ano, indicando que a transição do modelo de anúncios impressos para o online ainda tem um longo caminho a ser percorrido.
Entre os temas mais abordados por Calame nestes dois anos como ombudsman estavam os erros de edição, ocasionados em grande parte pela falta de tempo para a preparação de matérias, e a falta de ceticismo, segundo ele necessário para uma boa edição. O esforço do Times em integrar a redação do impresso com a do sítio e fazer com que se produza mais conteúdo com o mesmo tamanho de equipe exige decisões que podem afetar a qualidade do jornal, especialmente na apuração e na edição das matérias. Hoje, os jornalistas do diário são treinados para preparar suplementos em vídeo e áudio para seus artigos na web.
Agradecimentos
Para Calame, a transparência de um jornal – ao explicar o funcionamento da redação e como algumas decisões específicas são tomadas – pode engajar leitores e construir credibilidade. ‘Eu continuo a acreditar, como disse em minha primeira coluna, que uma maior transparência pode ajudar os leitores a entender melhor as decisões tomadas pela equipe’, diz.
Calame revela ainda, em seu texto de despedida, que não explorou completamente um aspecto-chave da transparência do Times: ‘o desejo do diário de manter um alto padrão de reportagem e edição supera o de muitos jornais’. Para exemplificar, ele sugere uma lida do ‘Manual de Ética Jornalística’ do diário e das ‘Regras para Nossa Integridade’, ambos disponíveis no blog do ombudsman.
Para concluir, Calame agradece aos membros da equipe que lhe ajudaram ao longo destes dois anos e aos editores e repórteres que tiveram tempo de escutar suas questões e respondê-las prontamente. Ele agradece também aos leitores. ‘Foi especialmente gratificante escutar os leitores. Suas críticas e questões mostraram que vocês levam a sério a obrigação de ser informados para ser cidadãos mais efetivos em nossa democracia. Eu queria que houvesse mais críticos assim, aqueles que eu penso que são ‘leitores cidadãos’’, despede-se ele, passando o bastão para o terceiro editor-público do jornal, Clark Hoyt.