São 200 páginas com o peso de um tratado. Em Comunicação, Jornalismo e Meio Ambiente: teoria e pesquisa o jornalista e professor Wilson da Costa Bueno expõe as mazelas da prática jornalística descomprometida e fora de contexto na cobertura dos temas ambientais pelos meios de comunicação e pelos jornalistas brasileiros. Mesmo sendo um dos profissionais citados no livro como realizador de trabalhos merecedores de algum mérito, terminei a leitura com sérios autoquestionamentos. Estudantes de comunicação e jornalistas têm neste livro uma contribuição relevante na formação de conceitos e na definição de caminhos para o exercício de um jornalismo ambiental conseqüente e bem fundamentado.
O autor contribui, principalmente, no direcionamento do debate em torno da qualificação do profissional que se dispõe a trabalhar com pautas ambientais. Segundo Wilson Bueno ‘meio ambiente é complexo de relações, condições e influências que permitem a criação e a sustentação da vida em todas as suas formas. Ele não se limita apenas ao chamado meio físico e biológico (solo, clima, ar, flora, fauna, recursos hídricos, energia, nutrientes etc), mas inclui as interações sociais, a cultura e expressões/manifestações que garantem a sobrevivência da natureza humana (política, economia etc).’ Ele mostra que o jornalismo ambiental tem a amplitude de todas as ações humanas, e, principalmente, deve ter um olhar nas escolhas feitas pela humanidade em termos de padrões de produção e consumo de qualquer natureza.
Leitura densa
O cenário fragmentado da cobertura jornalística dos temas ambientais contribui, segundo o autor, para a incompreensão das diversas interfaces, multiplicidades e transversalidade dos temas, assim como o próprio vocabulário utilizado pode induzir a interpretações equivocadas em relação ao tema. O mais gritante exemplo disso são as terminologias utilizadas para os pesticidas, que podem ser tratados eufemisticamente como ‘defensivos agrícolas’ por fabricantes e organizações que os apóiam, por agrotóxicos por grupos que preferem uma abordagem mais realista e por ‘remédios’ por mal informados agricultores e camponeses que, dada a conotação benevolente da palavra ‘remédio’, não se apercebem de sua natureza venenosa e, por isso, não tomam as precauções necessárias em sua utilização.
Wilson Bueno confronta o jornalista com sua própria ignorância em termos de contextualização das pautas ambientais. Nos afronta com nossa incapacidade em perceber a teia de interesses em cada um dos dados e informações necessários para a construção de reportagens ambientais de qualidade. Justamente por isso é uma leitura estruturante. Radical e intransigente com os grandes interesses econômicos que norteiam o atual modelo ‘desenvolvimentista’ baseado no uso intensivo de energia e de recursos naturais, como terra, água e destruição da biodiversidade, o texto mostra os efeitos devastadores deste modelo sobre comunidades e países. Traz, também, a vantagem de não ser uma leitura extenuante, apesar de densa.
Contribuem com a obra alguns dos mais relevantes nomes do jornalismo ambiental brasileiro, como Vilmar S. Demaman Berna, Juarez Tosi e Cilene Victor.
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Editor da Agência Envolverde