Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Similaridades e diferenças entre a produção noticiosa do Brasil e Portugal

Utilizando as ferramentas das ciências da linguagem e baseando-se na prática jornalística, em vez da teoria, o professor Chaparro investiga e compara características do jornalismo português e brasileiro. Embasado em ampla pesquisa histórica, o autor contesta a divisão do jornalismo em ‘opinião’ e ‘informação’ e, no ano em que se comemoram os 200 anos da imprensa brasileira, propõe uma nova abordagem dos gêneros jornalísticos.

Neste trabalho pioneiro e singular, o professor Manuel Carlos Chaparro reconstrói a história da imprensa no Brasil e em Portugal e investiga as similaridades e diferenças entre a produção noticiosa dos dois países, em especial a mídia impressa. Assim, é significativo que Sotaques d’aquém e d’além mar – Travessias para uma nova teoria de gêneros jornalísticos (240 pp., R$ 44,90), lançamento da Summus Editorial, chegue até nós no ano em que se comemoram 200 anos do desembarque de D. João VI e sua corte no Brasil e, por decorrência, também os 200 anos da imprensa brasileira, com o surgimento do Correio Braziliense, em 1808. O lançamento está marcado para o dia 26 de março (quarta-feira), a partir das 19h, na Livraria Martins Fontes (Av. Paulista, 509 – Lj. 17).

Investigação comparativa

Um amplo trabalho de pesquisa histórica, realizado ao longo de cinco anos, serve de ponto de partida para que o autor proponha uma nova abordagem na análise da prática jornalística. Utilizando as ferramentas teóricas das ciências da linguagem, Chaparro rejeita definitivamente o velho e falso paradigma que divide o jornalismo em opinião e informação e passa a estudar os gêneros jornalísticos como formas discursivas. Em outras palavras, o que faz o autor é tomar a linguagem em suas manifestações concretas, numa situação que foge às classificações e tipificações acadêmicas pela sua complexidade e heterogeneidade.

Chaparro admite que opiniões e informações estão presentes em todos os gêneros jornalísticos, já que ‘até a notícia dita objetiva, construída com informação ‘pura’, resulta de seleções e exclusões deliberadas, controladas pela competência jornalística de fazer escolhas por critérios de importância e valor – um exercício opinativo, portanto’. A proposta do autor é repensar e recriar as formas de uso da linguagem jornalística. ‘Sim, o jornalismo precisa criar novas formas e novos métodos de desvendar o que a aparência agitada da atualidade esconde. No mínimo, para impor ao relato e à explicação dos acontecimentos a perspectiva do sujeito narrador – o jornalista.’

De grande interesse para a área acadêmica, em especial para estudantes, professores e pesquisadores de comunicação, a obra possui também valor inestimável para os profissionais da área e todos aqueles que se interessam pela análise do discurso e pelos aspectos teóricos e históricos do jornalismo. Para os estudiosos de metodologias, a pesquisa realizada e descrita pode representar também uma interessante demonstração de investigação comparativa.

O autor

Manuel Carlos da Conceição Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor de Jornalismo na Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo. É jornalista desde 1957. Ao longo da carreira jornalística, por quatro vezes conquistou distinções no Prêmio Esso de Jornalismo, com trabalhos individuais. Na vertente acadêmica, formou-se em Jornalismo pela ECA-USP em 1982, tornando-se, dois anos depois, professor na mesma escola. No desenvolvimento da carreira de docente, concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Aposentou-se em 2001, como professor associado (livre-docente). Entre 1989 e 1991 foi presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom).

Possui três livros publicados sobre jornalismo: Pragmática do Jornalismo, São Paulo, Summus, 1994 (já na terceira edição); Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro, Santarém, Portugal, Jortejo, 1998 (editado agora pela Summus, com adequações, atualizações e acréscimos); e Linguagem dos conflitos, Coimbra, Minerva Coimbra, 2001. Em 2004, foi co-autor (com Norma Alcântara e Wilson Martins) de um quarto livro: A imprensa na berlinda (editado pela Celebris, São Paulo). Em 2006, pela Hucitec, publicou o livro-reportagem Padre Romano – Profeta da libertação operária, com a biografia do padre Romano Zufferey. E em 2007 lançou, e desde então mantém, o blog O Xis da Questão, com textos sobre Jornalismo, Mídia e Atualidade.