O jornalismo mecânico, segundo Carlos Alberto Vicchiatti, não questiona, não aponta erros, não busca respostas aos anseios da sociedade. Noticia. Ponto. Amanhã é outro dia com novos assassinatos, novas bombas, novas enchentes, novas antigas catástrofes.
Voracidade em informar leva a resultados, mas… que resultados? E a que preço?
Como naquela história a respeito de Tancredo Neves. Conversando com um possível futuro assessor, que se vangloriava de dominar seis idiomas, o político mineiro perguntou candidamente: ‘Mas o que o senhor diz de tão importante em seis idiomas?’
Baseado em estereótipos, o tal do jornalismo mecânico teme a complexidade da realidade. No fundo (e na superfície), procura o vilão vilão, o escândalo escandaloso, a simplicidade simples. Nada de muita contextualização, que isso acaba complicando as coisas…
Jornalismo mecânico, praticado por jornalistas tecnificados, também não deixa muito espaço para a criatividade, a análise e a liberdade de raciocínio do leitor. O leitor lê mecanicamente (quando lê), consome os fatos, consulta as informações, decora as manchetes, engole os clichês, repete os slogans. Jornalismo oco gera leitores ocos, homens ocos, cheios de nada, sombra sem cor, gesto sem vigor…
Matérias arrojadas
Falta base estética à formação do jornalista. Não basta seguir o roteiro – ‘o que’, ‘quem’, ‘quando’, ‘onde’, ‘como’… Não basta saber virgular, acentuar, paragrafar e crasear. Isso é muito… mas é muito pouco. Também não basta ser perfeitamente ‘objetivo’, compondo uma reportagem em que as informações falsas são aceitas pelo simples fato de o jornalista concordar com as fontes!
Jornalista com estilo, com imaginação treinada na leitura, não preocupado apenas em transmitir a notícia (como o professor preocupado somente em dar aulas ou o médico só preocupado em diagnosticar e curar). Jornalista humanizado. Jornalista que, além do quem, do quando, do como… traz o ‘algo mais’ que os pobres manuais desconhecem.
Ao nome exato da praça custa acrescentar uma informação histórica sobre a origem do nome daquele logradouro? À informação nua e crua custa acrescentar um jogo de palavras, um condimento inesperado?
Sinais de beleza existem na mídia. Um título aqui. Uma frase acolá. Artigos opinativos mais inspirados do que o habitual. Crônicas que merecem releitura. Matérias arrojadas, entrevistas inesquecíveis. Mas o leitor gosta e merece mais.
A propósito, uma pequena crítica ao livro de Carlos Alberto Vicchiatti. Bem poderia, o próprio autor, defendendo o jornalismo criativo, escrever seu livro com linguagem mais incitante.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br