Ao fazer uma análise da programação de televisão de 2009, não dá para deixar de mencionar a surpreendente decisão, logo do primeiro semestre, de apostar em programação infantil alicerçada em conteúdos que juntassem educação e entretenimento, tudo com o suporte de educadores, especialistas e pais. Que resultou em comportamento coletivo de mudança. A concorrência, neste segmento, ficou mais acirrada, marcada pela contratação de profissionais de reconhecida capacidade. Grandes nomes que trouxeram consigo uma renovação inspiradora, nunca antes vista na programação infantil brasileira. O ano terminou com a agradável certeza de que lugar de criança pode ser, sim, na frente da televisão, mas de forma educativa, construtiva e benéfica.
Dando continuidade ao movimento de mudança, a iniciativa de eliminar alguns horários de telenovelas acabou abrindo espaço para uma renovação estética. Alguns horários históricos da televisão foram eliminados na tentativa de superar fracassos consecutivos. E em seus lugares a opção foi pela produção independente, em alguns casos de conteúdo regional, que foram capazes não apenas de recuperar a audiência de horários problemáticos, mas também de fazer com que as emissoras perdessem o medo de apostar em produções de menor custo, mas de maior potencial criativo.
Criatividade e responsabilidade
O maior aprofundamento do conteúdo informativo nos telejornais foi a direção tomada por departamentos de jornalismo nas principais emissoras do país. Aos poucos, o sensacionalismo foi dando espaço à sensatez e às grandes pautas. O país foi chamado a refletir sobre seu dia-a-dia e o fez de forma responsável e profunda.
A oportunidade dada a novos talentos possibilitou a contratação de roteiristas e autores, iniciativa que parecia remota em outros momentos no mercado de televisão. Uma nova geração começa a marcar território. 2008 foi o ano de uma febre criativa que contagiou praticamente todas as emissoras. E aquelas que ainda insistiam em não ceder acabavam sendo convencidas pelo interesse crescente do público pelo novo.
Dados apontam que o telespectador brasileiro conseguiu entender qual pode ser o papel da televisão em seu cotidiano e qual é o seu papel enquanto telespectador. Entendeu também que querer uma programação melhor não significa terminar no simples ato de mudar de canal, dando espaço, assim, ao comportamento permissivo que caracterizou a televisão brasileira ao longo de décadas.
O número de queixas contra abusos por parte de emissoras aumentou de forma significativa. A punição já é um mecanismo real e rotineiro para aqueles que insistem em colocar no ar o desrespeito, o abuso e a falta de ética em nome de índices de audiência. Neste sentido, foi penalizada também, e de forma sumária, todo tipo de inserção que caracterizasse o que vinha sendo apontado como jogatina na televisão, desrespeitos relacionados à classificação indicativa e a uma série de outras infrações que passavam despercebidas através dos mecanismos sedutores da televisão.
[Talvez muito do que está aqui não seja possível neste ano que começa. Mas um ano mais criativo e de mais responsabilidade na televisão brasileira são os nossos mais sinceros votos para 2009!]
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Crítica de TV, Brasília, DF