Um dos argumentos dos ministros do STF para derrubar a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo foi o de que tal exigência fere a Constituição Federal no artigo que garante ao cidadão a liberdade de expressão. Tal argumento é, no mínimo, pobre, se considerarmos o fato de que nunca antes neste país, e nem em qualquer outra parte do mundo, tantos produziram tanta informação. É desnecessário lembrar a revolução que a internet provocou na quantidade, na velocidade, no conteúdo e na forma como a informação passou a circular pelo planeta. Falar em falta de liberdade de expressão na era de sites, blogs, fotologs, twitter, facebook, e mais não sei, é querer tapar o sol com a peneira.
Seguindo no terreno do lugar comum, já que não adianta chorar pelo leite derramado, proponho, então, por analogia, uma revolução nos nossos costumes. Todos hão de concordar que se a liberdade de expressão, garantida na Constituição Federal, precisa ser mantida a custa de assassinar uma carreira, podemos sugerir ao STF uma ação que proponha extinguir a necessidade de carteira de habilitação para o motorista, já que tal exigência fere o direito de ir e vir dos cidadãos. Segundo a lógica dos ministros do Supremo, assim como qualquer alfabetizado pode exercer a função de jornalista, o cidadão que dirige bem e nunca foi multado está apto a exercer a função de motorista, sem que seja necessário fazer uma prova de habilitação. Aí, alguém pode argumentar: ‘Mas ele não precisa ir de carro! Pode pegar um ônibus, o metrô, ir de táxi.’ Mas assim ele estaria tolhido de optar por dirigir o próprio veículo e isso fere a sua liberdade de ir e vir.
Um bom conselho
A exigência do diploma não proibia ninguém de se expressar, de tornar públicas as suas ideias, ainda mais nos dias de hoje. O que ela preservava era a qualidade da informação, era a formação e a ética no ato profissional de informar. Haverá quem argumente que o diploma não garante um bom profissional. Concordo. Cabe aos empresários julgar e contratar aqueles que exercem o cargo com competência e ética. E isso é válido para qualquer profissão. Existem médicos bons e ruins, todos com diploma. O bom hospital só contrata os melhores. Bons e maus advogados existem aos milhares. Os grandes escritórios só contratam os eficientes. Há, também, juízes respeitáveis. E há os medíocres, os vendidos aos interesses do grande empresariado. Acho que boa parte desses acaba de enterrar uma profissão e milhares de sonhos.
Um bom conselho aos que estão cursando a faculdade de Comunicação Social e que, até ontem, sonhavam em ser jornalistas é de que abandonem a carreira e peçam transferência para o curso de Direito. Quem sabe, no futuro, não conseguem escrever para alguma coluna de defesa do consumidor de algum jornal comunitário?
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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ