Nas recentes listas dos mais vendidos da Folha de S.Paulo, do Estado de S.Paulo, da Revista Veja e da Livraria Cultura, os livros do Pe. Fábio de Melo e de Gabriel Chalita ocupam lugares de destaque.
Quem são seus inúmeros leitores? Católicos de perfil Canção Nova, considerada, pelos católicos ‘antigos’, uma ‘comunidade protestante camuflada’, e pessoas (dentre elas muitos professores) que possuem algum tipo de verniz religioso ou humanista.
De que tratam esses livros? O que é tão sedutor em suas páginas?
No livro Quem me roubou de mim? (Editora Canção Nova), de Fábio de Melo, encontramos centenas de frases vagas, raciocínios frágeis, conselhos bondosos mas inconsistentes, abordagens superficiais. Dois exemplos:
‘O sonho que sonhamos não pode ser projeção infértil. Ele tem que estar sempre preso à realidade, afinal, é nela que estamos sustentados.’ (pág. 110)
‘Máscaras ocultam pessoas. Privam-nas de viver a dinâmica que a verdade proporciona, ou seja, levar o ser humano à posse do que se é e assim colocá-lo à disposição dos que estão ao seu lado.’ (pág. 58)
É isso, e disso não passa muito. E entre isso e nada pouca diferença há. A proposta é tangenciar sempre, é jamais aprofundar coisa alguma, dando a impressão, porém, de que se chegou aos abismos, e à plenitude… Em outras palavras, o texto promete ajudar, iluminar, orientar, e só oferece água com açúcar para acalmar os nervos. Tenho medo dessa ajuda!
Outro livro campeão de vendas é Cartas entre amigos (Ediouro), no qual Fábio de Melo e Gabriel Chalita trocam cartas supostamente carregadas de descobertas existenciais de primeiríssima grandeza. Somos convidados a acreditar que aquelas 18 epístolas cheias de palavras de carinho e mútua admiração nos transformarão radicalmente, como Pe. Fábio revela:
‘Meu querido amigo, obrigado por este tempo de cartas. Ele foi circunstância feliz que acolho como transformadora. Não sou mais o mesmo. Estou mudado. O que mudou? Ainda não sei. Vou seguir descobrindo aos poucos, assim como o garimpeiro encontra e descobre a sua pedra.’ (pág. 239)
O sucesso consiste em dar mil voltas em torno das platitudes. E o assustador é que a fórmula dá certo. O padre e o educador encontraram o caminho da salvação própria e alheia, ocupando um espaço deixado pelo grande místico mistificador de si mesmo, o mestre genial desses jovens autores: o inesquecível Paulo Coelho!
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Doutor em Educação pela USP e escritor (www.perisse.com.br)