[entrevista de divulgação do livro]
Rui Viotti foi um mestre e um craque da comunicação. Cheio de histórias para contar sobre o rádio, a televisão, a publicidade e o esporte. Rui falava com desenvoltura sobre a atividade que amou como poucos, e conhecia como raros profissionais.
Como surgiu a oportunidade de escrever sobre o Rui Viotti?
Carlos Fernando Schinner – Conheci o Rui em 2007, quando ele foi convidado a comentar uma partida de tênis no Bandsports onde eu seria o narrador. Constrangido, falei: ‘Mas você é a voz do tênis… Eu tenho que ficar aqui apenas observando e admirando o seu trabalho.’ O problema é que Rui era muito humilde e passamos a transmissão toda conversando sobre as muitas proezas do velho mestre. Aí, pensei: ele tem muitas histórias pra contar… Precisamos colocá-las no papel!
Por quanto tempo você conviveu com Rui Viotti? Quais os momentos mais emocionantes?
C.F.S. – Nossa amizade aconteceu exatamente no dia em que nos conhecemos. Depois passei a frequentar a casa dele, sempre com um gravador para nunca perder nenhuma história, que ele contava com desenvoltura e memória prodigiosa. Na última vez que nos encontramos, um mês antes de morrer, ele me revelou: ‘Cacá, por que eu demorei tanto para te conhecer?’ E completou: ‘Sempre te considerei como um filho!’ Confesso que fiquei muito emocionado.
Espiritualista e bem-humorado
Quando ele faleceu em 2009, o livro já estava pronto? Como foi dar continuidade à obra após a perda?
C.F.S. – Quando ele faleceu, estávamos fazendo uma grande revisão, com alguns cortes de texto e algumas correções. Não foi fácil continuar sem ele. Na verdade, o livro que seria sobre histórias do rádio, da TV e do esporte, transformou-se também numa biografia dele, pois tive que reestruturar tudo.
Você poderia dizer que a finalização e efetivação da obra é uma de suas grandes conquistas, não apenas como escritor, mas como jornalista?
C.F.S. – Esta é uma ótima pergunta. Quando trabalhei na ESPN-Brasil em 1998 (fiquei lá até 2002), conversava nos intervalos do jornal SportCenter com os câmeras mais antigos, que haviam trabalhado na TV Tupi. O prédio da ESPN é o mesmo na TV pioneira. Eles me contavam histórias mirabolantes que estavam se perdendo no tempo. Achava isso um absurdo, pois há poucos relatos do início da televisão no Brasil. Imaginava que um dia poderia escrever um livro sobre isso. E com o Rui finalmente veio a oportunidade.
O que você diria a Rui Viotti, se fosse possível, neste momento, com sua história eternizada pelo seu livro?
C.F.S. – Confesso que converso com ele quase sempre, principalmente nas horas de aperto. Brinco, xingo às vezes, pois ele era muito espiritualista e bem-humorado. Diria: ‘Tá vendo, Rui, você que dizia que a vida tinha te empurrado vergonhosamente ladeira abaixo… Pelo menos serviu pra alguma coisa, né?’
Sobre o autor
Carlos Fernando Schinner é narrador esportivo e âncora de rádio e TV desde 1979. Trabalhou em todos os canais 100% esportivos desde 1994: Sportv, ESPN-Brasil, Directv e Bandsports, além das TVs Band, Cultura, Record e Gazeta. Foi âncora de radiojornalismo da Rede CBN desde a inauguração da emissora, em 1991. Foi narrador das rádios Globo, de São Paulo, CBN, Record e Gazeta, e das rádios Atlântica, A Tribuna e Cultura, de Santos, onde começou a carreira aos 16 anos. Docente do Centro de Comunicação e Artes do Senac-SP em 2000, lançou o primeiro curso de Narração Esportiva do país, trabalho que resultou na edição do livro Manual dos Locutores Esportivos, da Panda Books. É formado em Comunicação Social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, e pela Faculdade de Comunicação de Santos, com curso de locução em RTV. Trabalha atualmente nos canais BandSports, Band e rádio Bandnews FM. Saiba mais pela web (http://cacafernando.zip.net) e pelo Twitter (@cacafernando).
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Sobre Rui Viotti
Carlos Fernando Schinner
Ele foi uma espécie de Forest Gump do jornalismo brasileiro. Mineiro de Caxambu, Viotti mudou-se para o Rio de Janeiro nos anos 1950, onde participou do concurso para substituir Ari Barroso na Rádio Tupi. Passou no teste e ganhou o lugar do homem que escreveu a música mais famosa do mundo: a Aquarela do Brasil.
Depois disso, trabalhou na lendária Rádio Nacional e na Rádio Tamoyo, onde cobriu a Copa de 1950 (narrou com exclusividade a maior zebra de todas as Copas: Estados Unidos 1 x 0 Inglaterra no estádio Independência, de Belo Horizonte). Em 1951, trabalhou na TV Tupi do RJ assim que a emissora foi inaugurada, ou seja, Rui também é um dos pioneiros da televisão. Em 1957, ainda na Tupi, participou da primeira transmissão de tênis da TV brasileira ao lado de Julio De Lamare, torneio quadrangular no Fluminense.
Em seguida, Rui trabalhou na agência de publicidade McEricksson, nas TVs Rio e Itacolomi, de Belo Horizonte (onde criou o programa Vale a pena ver de novo – um documentário de 30 minutos na TV Itacolomi de Belo Horizonte em 1960 – programa até hoje levado ao ar pela TV Globo em outro formato). Nos anos 70, trabalhou nas TVs Bandeirantes, de São Paulo, e Rede Globo (onde foi diretor de Esportes e coordenador da Copa de 1974). Na Globo, Rui desenvolveu o programa Esporte Espetacular (1973) e fez a primeira transmissão do programa: um jogo de tênis ao vivo no Torneio Internacional de Tênis no Rio (Tijuca) e em São Paulo (Hebraica). Em 1976, fez a primeira transmissão internacional de tênis da TV brasileira, nas finais de Wimbledon: masculina entre Bjorn Borg e Ilie Nastase, e feminina, entre Chris Evert e Evone Goolagong, na TV Bandeirantes.
Nos anos 1980, Viotti trabalhou na TV Record de São Paulo. Na Copa de 1982, da Espanha, com direitos exclusivos de transmissão da TV Globo, Rui inventou uma forma de a Record – que tinha o narrador Silvio Luiz como um fenômeno de audiência – não ficar de fora da cobertura: ‘A solução foi colocar o Silvio Luiz para narrar a Copa na Rádio Record AM e FM’, dizia Rui orgulhoso!
Na TV Bandeirantes, onde trabalhou em três oportunidades, Rui Viotti participou da criação do lendário programa dominical Show do Esporte, que estreou em 4 de dezembro de 1983. Foi o único narrador da TV a acompanhar a carreira vitoriosa de Gustavo Kuerten. Narrou os três títulos de Guga em Roland Garros por três emissoras diferentes: o de 1997, na TV Manchete; o de 2000, na TV Record; e o de 2001, na Rede TV. Durante mais de três décadas, Rui Viotti prestou serviços à empresa Kock Tavares, onde além de narrar tênis foi o responsável pelas negociações e compra de transmissões internacionais. Rui também trabalhou nas TVs Manchete, Rede TV e no Bandsports.