“Esta é uma história de amor com final feliz. No entremeio, houve dor, pranto, sofrimento, medo, uma tristeza que parecia não acabar nunca. No fim, vencemos a morte, com a força do amor e o poder da fé. Agora, e pelos próximos anos, nos adaptamos a uma nova realidade – de limitação física, a sensibilidade permanentemente à flor da pele, a lágrima o tempo todo prestes a rolar, a nostalgia latente da mobilidade perdida. Em compensação, é uma nova realidade de maior consciência do valor da vida, de maior confiança na amizade, de felicidade serena, de convicção de que nunca devemos desistir, nunca devemos perder a esperança, mesmo quando tudo em volta induz à desistência, ao desespero.”
Assim começa Feliz de outro jeito – Uma história de superação, o livro (que também poderia ser chamado de reportagem-romance) do jornalista e escritor Carmo Chagas. Reportagem-romance porque mesmo quando fala dos maiores medos, das grandes emoções, Carmo Chagas consegue ser objetivo, como convém a um bom repórter.
Descreve com precisão, sem nunca deixar a emoção de lado, os procedimentos médicos, o tratamento recebido nos hospitais, a maratona legal durante o tratamento, transformando a saga da família e a coragem de sua personagem num filme do qual queremos saber o final, torcendo para dar certo.
Apuração rigorosa
O problema de saúde de Léa, mulher de Carmo há 44 anos, a personagem central do livro, poderia espantar o leitor – a doença cardíaca acabou fazendo com que ela tivesse os dois pés amputados –, mas a história é contada com tal emoção e riqueza de detalhes que, ao invés de assustar, nos leva querer saber mais. Até o final feliz anunciado no primeiro parágrafo do livro.
Ser feliz de outro jeito nasceu de uma necessidade pessoal do seu autor: a urgência de superar uma fase de sofrimento da única maneira possível: escrevendo. A vantagem, para os leitores, é que ao fazer isso Carmo Chagas (mineiro, ex-redator chefe de Veja) presta um grande serviço. Ele consegue construir uma obra que deveria ser referência para os livros de auto-ajuda ao mostrar como sua mulher e a família enfrentaram uma tragédia, sem jamais admitir que era uma tragédia.
Ensina às pessoas que passam por problemas de saúde como procurar informação e até prepara os familiares para a burocracia que vem junto com os tratamentos médicos no Brasil. Mas, o mais importante, é que faz tudo isso como se estivesse apenas escrevendo uma história de amor. Uma linda história de amor.
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[Ligia Martins de Almeida é jornalista]