Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma declaração de amor

Nenhuma outra atividade esteve tão presente em minha vida quanto a propaganda. Talvez só perca mesmo para o futebol, paixão maior, insuperável. É que sou filho de publicitários, de pai e mãe, Juvenal e Arlette. Como todo filho, sempre adorei ir trabalhar com o pai. Nas férias da escola, nas tardes depois de outras atividades. Era um lugar mágico, aquele, o escritório do pai. Era, para mim, um grande parque de diversões. Nem parecia trabalho. Trabalhavam todos sorrindo, vestidos com roupas coloridas, com os pés sobre as mesas, viviam contando piadas, fazendo troça um do outro. Uns malucos, aqueles publicitários.

Fui um garoto muito tímido, timidez que ainda me acompanha, eu já perto dos quarenta. Então, ficava em silêncio, ouvindo tudo o que aqueles malucos publicitários contavam, as histórias mais divertidas e intrigantes que uma criança poderia ouvir.

Foi nesse ambiente, hoje reconheço, que muito da minha sensibilidade, e insensibilidade, se formou. Reconheço o apreço às coisas boas, à boa comida e bebida, ao conforto e a certo bom humor que salva quando estou muito triste e com vontade de me matar. Com os publicitários, aprendi a sorrir. Até minha mulher, a Andréa, é da área, o que me faz crer, positivamente, que a propaganda seja mesmo um carma pelo avesso para mim.

Muitos dos entrevistados deste livro foram personagens das histórias de minha infância. Seres fantásticos, até mitológicos. Tenho saudade daquilo que não vivi.

Em paz com a propaganda

As entrevistas que você lerá, exceto a de Washington Olivetto, foram publicadas inicialmente no Jornalirismo. Carregam em si muito dessa saudade, uma combinação generosa de amor e fúria.

A trajetória do meu pai, redator que surgiu na virada criativa dos anos sessenta e na década de noventa experimentou aposentadoria precoce, é símbolo da transformação da atividade publicitária no Brasil. Não sou discípulo de Augusto Comte, daqueles que veem progresso contínuo em tudo.

Percebo, neste livro, a trajetória mítica do filho que parte em busca do pai. Do filho que, biblicamente, quer honrar pai e mãe. Algumas entrevistas revelam esse espírito reparador, essa cruzada pela minha verdade. E se alguns entrevistados aceitaram se abrir é porque havia um interlocutor também com vontade de se abrir. Não existe entrevista de uma pessoa só.

Hoje, posso dizer, estou em paz com a propaganda, com meu pai – por quem tenho um amor maior que o mundo –, e comigo mesmo. Espero que você goste do que vai ler, me esforcei ao máximo. Pode me escrever para comentar: guilherme.azevedo@jornalirismo.com.br.

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Sobre o livro

Propaganda popular brasileira, de Guilherme Azevedo, reúne 12 entrevistas com grandes nomes da propaganda brasileira, entre eles, Alex Periscinoto, Washington Olivetto, Celso Loducca, Roberto Duailibi, João Daniel Tikhomiroff e Jarbas Agnelli.

A orelha do livro é da jornalista, escritora e documentarista Eliane Brum; e o prefácio tem a assinatura do jornalista Julio Hungria, fundador e editor-chefe do site de comunicação Blue Bus.

Sobre o autor

Guilherme Azevedo nasceu em São Paulo, em 1971. Filho de publicitários, estudou Jornalismo na Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero e Letras na Universidade de São Paulo. Começou no Grupo Folha, como trainee, e foi colunista da revista Caros Amigos. Escreveu As aventuras de Alencar Almeida, o repórter (2006). Atualmente é editor do portal de comunicação Jornalirismo e professor.

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Jornalista e professor