O Observatório da Imprensa na TV brindou na terça-feira (27/7) seus telespectadores com a presença da festejada escritora Lya Luft. O programa exibido de Porto Alegre contou também com convidados nas cidades do Rio de Janeiro, de São Paulo e Brasília, além de ser transmitido para todo o Brasil, segundo informou Alberto Dines, numa integração das redes educativas de televisão.
Em primeiro lugar, tal integração significa relevante avanço na prestação de informações e no desempenho das redes educativas, justamente por acenar (repetindo-se o feito) com a possibilidade de transmissão de outros programas de produção regional, aproximando os estados e mostrando a diversidade cultural e as peculiaridades de cada um, numa valorização dessas diferenças. O telespectador passaria a ver o país de outra maneira, pois teria, em hipótese, a oportunidade de refletir sobre como cada região se vê a si mesma através de sua programação televisiva regional e confrontar esses muitos Brasis – enfim, não olharia o país nem a si mesmo sob um único enfoque ou sob os moldes da padronização ‘global’.
Só conta o instante
Outro aspecto interessante e merecedor de comentários refere-se a questões discutidas durante o programa dedicado a Lya Luft, unanimidade de crítica e público, e não se entenda unanimidade como a da propagada frase de Nelson Rodrigues, porque seria um desrespeito com a escritora e com o seu público leitor. Tal reconhecimento, portanto, não é uma questão meramente de mercado, levou tempo e custou muito trabalho – e a própria autora ainda se confessa surpresa com o estrondoso sucesso de seus livros. Continua, apesar disso, sendo a mesma pessoa, dentro de sua rotina de vida e trabalho, administrando com serenidade essa nova fase.
Poder-se-ia perguntar (como o fizeram durante o programa) sobre o motivo de tanto sucesso – e seria redundante ficar apontando não um único motivo, mas enumerando fatores vários que contribuíram para isso.
De repente a própria mídia ‘descobriu’ Lya Luft – e aqui sim poder-se-ia questionar se os leitores a descobriram por essa via ou se foi o contrário – e parece que foi justamente a segunda opção. Apesar de todas as mazelas e carências culturais (sem dizer das econômicas), os leitores conservam alguma perspicácia, ainda que muitos também tenham chegado à autora instigados pela imprensa. O fato é que a mídia não se incomoda muito com isso, se preocupa mais com o instante e não arrisca, principalmente o jornalismo cultural, a apontar outras novidades (obras e autores) ou ‘descobertas’, limitando-se ao que é certo (e não cabe aqui nenhum desmerecimento ao caso da autora de que estamos tratando).
Sempre exceção
Não é tarefa fácil a de escrever – e quem o faz sem concessões não descarta o prazer do ato, que ademais exige permanente diálogo e reflexão, além de um pouco de solidão, diga-se, uma solidão produtiva. Um dos segredos de Lya Luft talvez resida aí, nessa capacidade de síntese e de comunicação – uma forma de reflexão límpida, o diálogo direto e simples (não simplório) com seus leitores, diálogo que é o resultado de um apuro de experiências vívidas, traduzidas pelo estilo da autora. Engana-se quem pensar que se chega a isso sem esforço ou que é apenas uma questão de tempo, um resultado natural – dizer coisas profundas de uma maneira compreensível e elegante não é para todos que se aventuram no mundo das palavras.
Considerar o ávido leitor – a quem se destina, afinal, essa produção literária – mero coadjuvante seria um tanto injusto, até mesmo com a escritora – uma vez que, supor que o leitor recorra ao livros dela por uma questão de carência ou qualquer outra hipótese nessa direção seria um tanto reducionista – a subjetividade de cada um aponta para caminhos diferentes e suscita respostas variadas (e nem se pretende dar um veredicto sobre essa questão). Mas o que transparece (principalmente quando se aborda algum leitor numa livraria qualquer) é que ele está ávido sim, de empreender um diálogo aberto, sobre questões relevantes e pertinentes, para atingir a compreensão das coisas e de si mesmo.
E se parece surpreendente o fato de muitos leitores se identificarem com o pensamento e as reflexões de Lya Luft talvez seja porque a mídia, especialmente a impressa, se ‘esqueça’ de seu público – subestimando-o e não o tratando com o devido respeito, e isso serve também para as editoras que, com o desculpável argumento das eternas dificuldades econômicas, reduzem custo, não arriscam edições com os novos talentos, sequer se preocupam verdadeiramente com o incremento (não somente no sentido da vendagem, mas da qualidade) do mercado editorial – e as exceções serão sempre exceções nesse cenário.
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Poeta, Jaú, SP