Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Uma fauna de gente fina

[do release da editora]

A vida real de João Guilherme Estrella, nascido em bom berço do Leblon e convertido em personagem graúdo da vida bandida carioca, é a história de Meu nome não é Johnny, de Guilherme Fiúza. Filho adorado pelos pais e jovem querido pelos amigos, João entrou pelos anos 1980 buscando liberdade a qualquer preço, e desembarcou nos 1990 como barão da cocaína pura na Zona Sul do Rio.

Da primeira venda de droga para pagar uma dívida à ascensão vertiginosa no tráfico – deixando ‘tubarões’ para trás, no melhor estilo ‘Scarface’ – ele chega a um degrau na escada do crime em que geralmente não há mais volta. Mas no seu caso, absolutamente peculiar, há voltas e reviravoltas improváveis, como mostra a reportagem do autor. ‘João Guilherme é a prova viva de que é viável recuperar as pessoas. É o atestado de que a nossa luta não é em vão’, chegou a dizer a juíza Marilena Soares, que o julgou e o condenou.

Sem juízo de valor

Para o jornalista Zuenir Ventura, que apresenta o livro, Meu nome não é Johnny ultrapassa a saga de um grande traficante bem-nascido e seu reinado na época em que a cocaína ‘caiu na corrente sangüínea da cidade’. ‘É um mergulho profundo no submundo de uma geração que na virada dos anos 70/80 forneceu diversos talentos para as artes, os negócios e o esporte. E também muitos fregueses para o anti-herói da história’, observa Zuenir.

Para o autor, jornalista com passagem por editorias de política, literatura e meio ambiente na imprensa carioca, o livro busca uma abordagem franca de temas-tabu, ‘sem moral da história’. ‘Não há separação dos personagens em heróis e vilões. Apenas procuro mostrar um 3×4 humano de alguém atravessando o mundo-cão do tráfico e da cadeia sem ser devorado por ele, embora levasse boas mordidas’, diz Fiúza.

Entre seus personagens estão aqueles que fundaram no Baixo Gávea seu território boêmio, ao som de Bete Balanço e dos primeiros acordes do rock brasileiro. E suas experiências com as drogas, abordadas no livro sem juízos de valor. ‘O uso de drogas foi mortal para muitas pessoas, mas significou apenas diversão para outras. Às vezes é bom resistir à tentação de apontar o certo e o errado, em nome de um conhecimento mais profundo da realidade’, argumenta o autor. Nascido no Rio de Janeiro em 1965, Guilherme Fiúza trabalhou como repórter e editor em veículos como Jornal do Brasil, O Globo e No.com, passando também por assessorias políticas. É colunista do site jornalístico NoMínimo.