Publicado originalmente no site Balaio do Kotscho
Foi tudo uma grande farsa, sabemos agora, tramada pelos milicianos da Lava Jato com a Globo, para derrubar o governo do PT e prender Lula.
No atropelo às leis e à Constituição, para liberar logo as conversas grampeadas dos celulares de Dilma e Lula, Moro levantou o sigilo às 16h19 e, às 18h32, a GloboNews já estava no ar, ao vivo, com um repórter plantado na Polícia Federal de Curitiba, provocando uma comoção nacional.
16 de março de 2016: nesse dia, em operação conjunta da Lava Jato de Moro & Dallagnol com a maior emissora de TV do país, consumou-se o golpe contra as instituições que, ao final, acabaria levando Jair Bolsonaro ao poder.
Me lembro muito bem de tudo porque era dia do meu aniversário, triste coincidência. Milhares de pessoas brotaram de uma hora para outra em frente ao Palácio do Planalto e na avenida Paulista para comemorar a queda do governo do PT, que só seria consumada meses depois.
A cereja do bolo foi a prisão de Lula, já em plena campanha eleitoral do ano passado. Era isso que a Lava Jato queria desde o início, como provam as novas revelações feitas pelo The Intercept e publicadas neste domingo na Folha: o apoio popular, insuflado pela TV ao vivo, para confrontar o Supremo Tribunal Federal e impedir a posse de Lula como ministro da Casa Civil de Dilma.
Os diálogos frenéticos entre procuradores da Lava Jato em Curitiba, no mesmo nível de milicianos preparando o próximo ataque, com Sergio Moro na retaguarda comandando tudo, apenas confirmam todas as suspeitas de respeitados juristas daqui e de fora: Lula e o PT foram vítimas de crimes praticados em nome do combate à corrupção.
É por isso que o STF adia indefinidamente o julgamento das ações impetradas pela defesa de Lula contra Moro e seus comparsas da PGR.
Nas voltas que a vida dá, Gilmar Mendes, que assinou a sentença impedindo Lula de tomar posse no ministério, agora é o principal crítico dos desmandos da República de Curitiba. Vai dizer que foi enganado pelo juiz de primeira instância que armou toda a operação ilegal?
No palanque montado por Bolsonaro no desfile deste 7 de setembro, em Brasília, ele se cercou dos donos do SBT e da Record, os principais concorrentes da Globo, que agora o presidente trata como inimiga de morte.
Sem Lava Jato e Globo, não existiria Jair Bolsonaro presidente da República.
Se o STF tivesse coibido a tempo a grande farsa armada por Sergio Moro em Curitiba, o Brasil não veria o Estado de Direito ameaçado e o país humilhado mundialmente por um bando de celerados civis, togados e fardados.
Se a imprensa tivesse cumprido seu papel a tempo, em vez de servir apenas como porta-voz e assistente de acusação da Lava Jato contra o PT, o país não teria passado vergonha neste triste Dia da Independência.
Mas “se” não existe, não faz a história retroceder.
O estrago está feito e vai levar muito tempo para o Brasil se colocar de pé novamente.
A cada nova denúncia do modus operandi criminoso revelado pelos diálogos dos procuradores da Lava Jato, em linguagem chula e debochada, mais as instituições nacionais são desmoralizadas.
Basta olhar para a foto do palanque presidencial, com aqueles personagens de fancaria saídos de alguma tumba imemorial, para se ver o ponto de degradação a que chegou nosso país.
Bolsonaro um dia passa, mas a estupidez e a grosseria do bolsonarismo vieram para ficar.
A elite brasileira aplaude, vendo o país se consumir em chamas, falências e desemprego. E o povo bestificado a tudo assiste impavidamente.
Saudades do Brasil…
Vida que segue.
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Ricardo Kotscho é jornalista.