Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Como traduzir o “economês” das empresas para o público

Princípios da imprensa: formar, informar e entreter. Suponho que tais diretrizes se apliquem a todos os comunicadores. Afinal, alguém que pretende compartilhar informações precisa encontrar um meio de bem compartilhá-las. Dentro das organizações, há inúmeros especialistas. Profissionais da área da saúde, informática, engenharia etc. Cada especialidade tem seu perfil e sua linguagem, de modo que vira tarefa complexa, por vezes, traduzir os discursos das fontes.

A citar como exemplo, administradores gostam de planilhas e apresentações. O que muitos não notam, todavia, é que os dados ali expostos podem não fazer o mínimo sentido a quem assiste. Soube de algumas agências de relações públicas que se especializaram em auxiliar clientes com essa dificuldade: como ser verossímil e acessível? O jornalismo tenta fazer isso diariamente. Afinal, o público do jornalista é a coletividade.

Simplificar excessivamente um assunto pode ser temerário. Manter a complexidade pode resultar na não compreensão por parte da audiência. Jornalistas, especialmente os de televisão, tentam resolver essa equação com exemplos práticos. Para explicar a crise econômica, eles inserem os termos dos economistas no contexto da vida cotidiana. Em meio à operação Lava-Jato, o passo-a-passo processual ganha ilustrações e infográficos. Dito isso, vivemos um momento de boas reportagens.

A resistência das fontes

Os assessores de comunicação das empresas sempre elegem, informalmente, os setores de onde a informação sai bruta – isto é, na linguagem original, somente compreendida integralmente pelos especialistas que as fornecem. Se produzir conteúdo significasse apenas copiar o que as fontes dizem, comunicar seria uma arte fácil demais e não haveria necessidade de uma equipe voltada para a comunicação. Um único redator daria conta do recado.

Nas organizações, a negociação pela tradução de discursos é constante. Cumpre ao comunicador, além da gestão do conhecimento em questão, a gestão do relacionamento para convencer as fontes de que determinado conteúdo, exposto de determina maneira, facilitará a compreensão da mídia. Lamentavelmente, existe muita resistência. Há profissionais que não aceitam a adaptação de um assunto pertencente à sua alçada.

Resultado? Muitas empresas não conseguem ser relevantes, pois não se fazem entender. Observo, assim, certo amadorismo. Comunicar não é apenas escrever o texto e encher a caixa de correio eletrônico dos veículos de imprensa. É deixar a poltrona da sala, sair do conforto do ar-condicionado e interagir constantemente com colegas de trabalho. Isso facilita o objetivo de adequar os conteúdos para divulgação. Lembrando que da “rádio corredor” sempre brotam boas pautas.

Após o boom das assessorias de comunicação na última década, a formação de comunicadores deve atentar menos ao aspecto técnico e mais ao aspecto humano. Está faltando capacidade de interação social, embora sobrem títulos de especialização, mestrado e doutorado. Com conversa e conhecimento, mesmo fontes intransigentes podem ser convencidas. Mais que isso, a tradução de discursos é primordial a empresas que ambicionem sobreviver no mercado. Elementar.

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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo