Alves Correia, de 60 anos, é o radialista mais famoso do Agreste alagoano e sobreviveu a um dos piores atentados ocorridos no Estado. Em 1993, após satirizar políticos em um show no interior, sofreu uma emboscada e levou nove tiros; seis deles no abdômen. O ataque projetou ainda mais a imagem do radialista junto à população pobre, e, em 2002, ele foi o nono deputado estadual mais votado. Mas sua carreira política parou ali. A partir de então, perdeu todas as eleições que disputou, comprovando que popularidade e voto nem sempre caminham juntos.
Cosme Alves Cordeiro — seu nome no registro de nascimento — apresenta diariamente o “Show do Povǎo”, das 5h às 9h, na Rádio Gazeta FM de Arapiraca. Um dos pontos altos é o quadro “A hora do corno”, quando relata casos de traição amorosa de pessoas que o procuram para ajudá-las a reconquistar o parceiro. O radialista foi personagem do filme “Vou Rifar meu Coração”, exibido nos cinemas, sobre música brega e dor de cotovelo, por causa do quadro, que começa com a “Oração de São Cornélio”. Com voz grave, declama:
“Fazei com que eu não seja corno,
Se eu for, que não saiba;
Se eu souber, que não veja;
Se vir, que me conforme
E que quando eu bater na porta da frente,
Que ele saia pela dos fundos.”
A passagem pela Assembleia Legislativa foi desastrosa. Correia Alves foi denunciado pela Polícia Federal na “Operação Taturana”, que investigou o desvio de recursos públicos por meio de financiamentos do Banco Rural a deputados. Os empréstimos foram pagos com verbas do gabinete. Ele foi condenado em primeira instância a devolver R$ 262 mil e recorre da condenação. Eis como explicou o caso ao Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo:
“Quando cheguei à Assembleia, fui saber dos meus direitos e deveres e me falaram da possibilidade do empréstimo. Quem não quer um empréstimo? Eu tinha saído liso da campanha…”
Correia satiriza políticos do Sertão e do Agreste em seus programas e debochou dele próprio quando não se reelegeu em 2006. Abriu o programa dando partida ao “trem dos derrotados”. “Eu vou aqui na máquina apitando. Piuí! Piuí! Eita! Sai da frente que lá vem o trem dos pouca-urnas! Piuí! Piuí!”
Ele conta que começou a carreira em rádio aos 13 anos, como faxineiro, e dali passou a operador de áudio e a apresentador. Há vários anos aluga o horário na Gazeta FM, administra a venda dos comerciais e tem sua equipe de produção. Entre anúncios e músicas, lê notícias que extrai dos jornais impressos e dos sites. “Sempre dei visibilidade ao noticiário local e cito os autores, porque a responsabilidade sobre o que foi dito é deles.”
Correia diz ter bom relacionamento com todos os políticos, inclusive com os que critica. “Eu critico com humor, de modo que o ouvinte ache graça e ria. O microfone é uma arma”. Resumiu.
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Elvira Lobato é jornalista e enviada especial à Mariana.