O avanço da internet tem levado jornais e revistas do Sudeste, alguns deles centenários, a fechar as portas ou a abandonar edições impressas, desde o início da década. A conclusão é resultado de levantamento realizado na segunda edição do Atlas da Notícia, que contou com a participação de 56 alunos de jornalismo de seis universidades de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
Foram identificados 69 veículos que deixaram de ser publicados em anos recentes — ao menos de forma regular, com periodicidade no mínimo mensal. Só em São Paulo foram 33. Em Minas Gerais, as baixas foram 27. No Rio de Janeiro, nove. O levantamento mapeou ainda outros 371 veículos, sediados em 154 municípios, atualizando e acrescentando informações à primeira versão do estudo, publicada no ano passado.
Apesar dos fechamentos e do avanço do meio online, os veículos impressos ainda predominam na região Sudeste. A pesquisa identificou que a maior parte dos veículos avaliados este ano têm como principal suporte de veiculação o papel jornal (175). Em seguida, aparecem veículos online (106), revistas (48), rádios (36) e televisões (6).
São Paulo foi o estado com maior número de entradas preenchidas no levantamento. Ao todo, foram 207. Minas Gerais aparece em segundo, com 133, e o Rio de Janeiro, em terceiro, com 31 veículos. O Espírito Santo não teve veículos mapeados este ano, em parte porque as equipes de pesquisadores, localizadas em universidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas gerais, foram direcionadas a pesquisa em seus Estados de origem.
No segmento da imprensa local, vale destacar o fechamento de versões impressas de jornais sediados em municípios que são pólos regionais, como centenário A Cidade, de Ribeirão Preto, em outubro. O jornal havia sido comprado pela EPTV, afiliada da TV Globo, em 2012, através de outra empresa, a Mimp. A EPTV optou por priorizar seu veículo digital A Cidade ON. Já em 2017, deixaram de circular as versões impressas dos seguintes veículos: A Tribuna Impressa, de Campinas, também pertencente ao grupo EPTV; o Jornal de Jundiaí e o Diário de Franca. Em Minas Gerais, a Tribuna de Lavras também deixou de circular sua versão impressa no ano passado.
Na cidade do Rio de Janeiro, o fechamento de jornais impressos também acelerou-se nos últimos anos. No último mês de setembro, o jornal O Povo desativou sua versão impressa. Fundado em 1827 e adquirido pelo grupo Diários Associados em 1959, Jornal do Commercio fechou as portas em abril de 2016. Na mesma data, outro jornal jornal do mesmo grupo, o Diário Mercantil, dedicado à publicação de balanços, também foi extinto.
Na contramão do mercado, no entanto, registra-se a volta da circulação em papel de um título digital, o Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, comprado pelo empresário Omar Resende Peres em janeiro deste ano. Mas na capital paulista, o também centenário Diário de S. Paulo, controlado pelo grupo Cereja Comunicação Digital desde 2013, decretou falência na mesma época.
No segmento revistas, a Editora Abril, que entrou em recuperação judicial em agosto, respondeu sozinha pela interrupção da publicação de mais de uma dezena de títulos em 2018, muitos deles tradicionais. Deixaram de circular Veja Rio, Cosmopolitan, Elle, Boa Forma, Mundo Estranho e Arquitetura e Construção, entre outras. A decisão foi tomada pouco depois da família controladora Civita entregar a gestão à empresa de consultoria Alvarez & Marsal, especializada em reestruturação de empresas.
Segundo comunicado divulgado pela editora, os fechamentos tiveram o “objetivo de garantir sua saúde operacional em um ambiente de profundas transformações tecnológicas, cujo impacto vem sendo sentido por todo o setor de mídia”.
Os cortes em busca de equilíbrio financeiro são uma tendência clara. Em um momento de queda da circulação e da receita com publicidade no papel, a eliminação do impresso permite eliminar os custos com impressão e distribuição, ajuda a equilibrar as contas e a dar fôlego extra às publicações. Grandes jornais e revistas do eixo Rio São Paulo, como O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, O Globo e Veja não cortaram o papel. Mas têm adotado o paywall no online, como forma de compensar ao menos parte das perdas com receita publicitária registradas em suas versões impressas.
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Dubes Sônego Jr. é jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em 19 anos de profissão, atuou nas redações de Gazeta Mercantil, Valor Econômico, Meio&Mensagem, Revista Foco, América Economia, Brasil Econômico, iG e Época Negócios. Atualmente, trabalha como freelancer. É também fotógrafo diletante e estudante de Letras na Universidade de São Paulo (USP).
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*NOTA: Este primeiro mapeamento realizado pela rede de pesquisadores do Atlas da Notícia com o apoio de colaboradores voluntários traz o melhor panorama possível, com informações detalhadas, sobre a existência e a natureza de veículos jornalísticos. Mas uma vez que a nossa amostragem reflete os dados obtidos — sem necessariamente cobrir todos os veículos — não a consideramos um retrato completo do jornalismo local e regional do Brasil. À medida que nosso projeto avance anualmente, seremos capazes de corrigir e refinar nossos dados e mapas. A propósito, solicitamos aos nossos leitores que nos comuniquem sobre possíveis incorreções no nosso mapeamento.