Esta edição do Observatório da Imprensa traz novos dados sobre os desertos de notícias no Brasil a partir do levantamento do Atlas da Notícia. As repórteres Ana Terra Athayde e Elvira Lobato estiveram em Cidade Ocidental — município goiano a menos de 50 km de Brasília, com 70 mil habitantes — que não possui emissoras de rádio ou TV locais nem veículo impresso com circulação, ao menos, quinzenal.
Em Cidade Ocidental, as repórteres encontraram uma situação que, certamente, se repete em outras cidades do país. A presença de um único jornal impresso sem periodicidade definida e dependente do poder público — o que inviabiliza a autonomia e editorial. E canais de informações nas redes sociais que não seguem os protocolos jornalísticos como checagem de fatos e busca dos diversos lados da história. Num deserto de notícia fica mais difícil, como demonstra Elvira Lobato, a população se informar a respeito de decisões do poder público que afetam diretamente o seu cotidiano.
As reportagens em e textos e vídeo reproduzem o modelo já publicado nas edições do Observatório da Imprensa no final do ano passado, quando Ana Terra e Elvira Lobato estiveram em Mariana-MG e Arapiraca e Palmeiras dos Índios em Alagoas. Na cidade mineira, elas demonstraram como a imprensa local cobriu o rompimento da barragem do fundão e nos municípios alagoanos, a pauta foi a concentração dos veículos informativos nas mãos de políticos e as ameaças e atentados contra jornalistas.
A imersão em Cidade Ocidental revela novas faces da realidade do jornalismo local no interior do país e, principalmente, os efeitos de sua ausência. A pouca distância entre o município goiano e a capital federal evidencia o contraste que diz muito sobre o Brasil. No centro do poder todos os holofotes midiáticos, em Cidade Ocidental a ausência de uma mediação jornalística contribui para a propagação da desinformação e da falta de uma cobertura crítica dos poderes e instituições.
Com as reportagens de campo, o Observatório da Imprensa, através do projeto “Atlas da Notícia”, se debruça sobre um tema pouco discutido: a realidade do jornalismo — ou sua falta — no interior do país. Num momento em que a atividade se vê desafiada a provar sua importância, é preciso olhar também para essas comunidades em que o excesso de conteúdos a partir das redes sociais estão dissociados da informação averiguada e contextualizada. Essa é, sobretudo, uma questão de cidadania que se reflete, como os fatos o tem demonstrado, no ambiente macropolítico.
O que é o Atlas da Notícia?
Uma iniciativa para mapear os veículos Jornalísticos no território brasileiro e fornecer dados a pesquisadores, empreendedores e jornalistas a fim de gerar novos conhecimentos sobre jornalismo local no Brasil.
O Atlas da Notícia é realizado pelo PROJOR – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo em parceria com o Volt Data Lab, responsável pela pesquisa, análise e visualização dos dados. A Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, é parceira institucional do projeto, que é inspirado na iniciativa America’s Growing News Deserts, da Columbia Journalism Review.
A segunda edição do Atlas da Notícia é financiada pelo Facebook.
O projeto está aberto a sugestões