Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma imersão no jornalismo local em Mariana-MG

Vista da cidade de Mariana-MG. (Foto: Ana Terra Athayde)

A segunda etapa do projeto Atlas da Notícia procura avançar na reflexão aliando dados quantitativos à análises de especialistas e reportagens de campo sobre vazios informativos no país. Para buscar um maior entendimento da realidade do jornalismo local, as repórteres Elvira Lobato e Ana Terra Athayde estiveram, a convite do Observatório da Imprensa, em Mariana-MG. Em reportagens especiais, publicadas em textos e vídeos nesta edição, as jornalistas procuram respostas sobre como a imprensa local cobriu o desastre ambiental do rompimento da barragem do fundão em 2015.

Elvira Lobato mostra o impacto econômico que elevou o número de desempregados na cidade mineira. “Passados três anos do ocorrido, é unânime a opinião entre os jornalistas locais de que a mídia nacional e internacional só enxergou a primeira tragédia e ignorou completamente a depressão econômica que sobreveio ao lamaçal.”

A reportagem faz um levantamento dos jornais impressos, rádios e sites de notícia, discutindo linha editorial e modelos de gestão. “Os jornais são empreendimentos familiares; as redações funcionam em anexos das residências, e as famílias participam da produção para reduzir os custos e tornar os projetos lucrativos”.

Um jornal foi criado para dar voz às vítimas do rompimento da barragem. A Sirene é uma publicação mensal, custeada pela Arquediocese de Mariana. A decisão de criar um jornal para esse fim foi aprovada pelo Ministério Público a partir de uma demanda das pessoas atingidas pelo desastre, mas sua sobrevivência financeira é ainda incerta. Como afirma a jovem editora chefe do Jornal, Silmara Filgueiras, a experiência a fez conhecer a paixão pelo jornalismo comunitário.

O projeto de reforçar o noticiário local já estava entre as diretrizes de criação do Observatório da Imprensa por Alberto Dines há mais de 20 anos. A reportagem especial, publicada nesta edição, atesta que o jornalismo é a melhor ferramenta para conhecer os problemas do jornalismo brasileiro. As reportagens de campo agregam valor aos dados quantitativos do Altas da Notícia, na medida em que permitem uma aproximação com a mídia no interior do país. A tragédia ambiental de Mariana foi única, mas os problemas da imprensa local são semelhantes aos de outras cidades de porte médio. Esse olhar de perto, ao mesmo tempo crítico e sensível de Elvira Lobato e Ana Terra Athayde nos aproximam um pouco mais do Brasil profundo. Uma boa leitura.