Tuesday, 24 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Desertos de notícia recuam na região Sul

Diminuição se deve ao avanço de veículos digitais e emissoras de rádio

O Atlas da Notícia identificou uma diminuição de 8% na quantidade de desertos de notícia, aqueles municípios que não têm nenhum veículo jornalístico lá sediado, nos municípios da região Sul do Brasil. As cidades nesta categoria, conforme o levantamento mais recente, somam 504. São 44 municípios a menos do número encontrado na edição 5 do Atlas, publicada em 2022.

Estes municípios ainda representam 42% das cidades do Sul, taxa similar à da região Norte. Entre os três estados, o Paraná lidera com maior proporção de desertos de notícia frente ao número total de municípios: 44%. Já Santa Catarina e Rio Grande do Sul registram 41% cada. Essa diminuição segue a tendência identificada em outras edições do Atlas, tanto pelo surgimento de novas iniciativas quanto pelo aprimoramento das metodologias de mapeamento.

A redução no número de desertos se deve principalmente a dois movimentos: a popularização de veículos digitais e a identificação de mais rádios. Com relação ao primeiro aspecto, é algo que já vem sendo observado em edições anteriores do Atlas. Conforme a publicação de veículos impressos se mostra cada vez mais proibitiva, e a organização de meios de radiodifusão demanda concessões, além de aparato técnico avançado, a migração para estruturas online se torna a saída mais natural, ainda mais conforme a presença massiva dos brasileiros em redes sociais. 

Os veículos digitais da região Sul somam 1.293, ou 33%, exatamente um terço do total. É um salto de 270 veículos frente aos identificados no levantamento anterior. Este aumento foi identificado em todos os três estados. Agora, os veículos online representam os mais frequentes da região, superando as 1.273 estações de rádio. Essas, por sua vez, também tiveram um aumento frente ao último levantamento: foram identificadas 131 estações de rádio adicionais, solidificando este meio como segundo mais presente na região. Dentro deste número, estão incluídas também rádios comunitárias. Embora essas emissoras não tenham a exigência legal de programação jornalística original, como as rádios comerciais, elas têm relevância em comunidades no interior, sobretudo nos municípios menores e mais isolados. É comum que existam municípios cuja única fonte de informação local é uma rádio comunitária, que frequentemente publica conteúdo online, adicionalmente. Um exemplo disso pode ser visto na Rádio Vida Ciríaco, no Rio Grande do Sul. O site da emissora, ao contar sua história, demonstra a importância local da estrutura.

Houve um decréscimo de 54 veículos impressos nos três estados, para 1.066, refletindo a trajetória global do meio. O número de emissoras de televisão permaneceu estável.

[GRÁFICO DE COLUNAS COMPARANDO OS QUATRO SEGMENTOS NOS 3 ESTADOS]

Veículos digitais e emissoras de rádio lideram na região

Diversificação de estratégias

Embora ainda sejam movimentos localizados, nota-se que há por parte dos veículos digitais um início de diversificação de estratégias online. Isso é necessário tanto para se diferenciar de concorrentes em cidades vizinhas quanto para atrair a atenção do público, uma vez que a simples presença online não é garantia de audiência. Um exemplo que demonstra este comportamento é a Rede Web TV de Taió, Santa Catarina, uma webtv que iniciou suas operações em plena pandemia e produz conteúdo local; ou a rádio Studio FM, de Veranópolis, RS, que conta, entre seus diversos perfis em redes sociais, com presença no TikTok e no Telegram. Já o Portal49, de Seara, em Santa Catarina, faz transmissões ao vivo da câmara de vereadores. Finalmente, em termos de monetização, o H2Foz, de Foz do Iguaçu, implementou um clube de vantagens, que se estabelece como um benefício adicional para os assinantes do site. Conforme se impõem as necessidades de digitalização e diferenciação, veículos digitais do interior seguem uma trajetória de profissionalização, embora enfrentem obstáculos de formação, estratégia e foco.

Região concentra mais de um quarto dos veículos brasileiros

No total, a região Sul concentra 26,5% dos veículos do Brasil, com 3.823 empreendimentos, enquanto reúne apenas cerca de 15% da população brasileira, de acordo com dados do censo de 2022. Isto demonstra uma maior densidade de veículos na região frente à realidade do Brasil. Essa quantidade total representa também um aumento de 345 iniciativas jornalísticas frente ao levantamento do ano passado. O Rio Grande do Sul lidera os três estados em quantidade, com 1.498 veículos noticiosos.

[GRÁFICO DE COLUNAS DO NÚMERO DE VEÍCULOS POR ESTADO, COMPARANDO V5 E V6]

Santa Catarina teve o maior aumento proporcional de iniciativas

O maior aumento de iniciativas identificadas se deu em Santa Catarina, com 16% a mais de empresas jornalísticas, quando comparadas com o levantamento anterior do Atlas.

O Paraná se destaca em mais um dado: é o segundo estado com mais cidades na lista dos 30 municípios com maior número de veículos, sendo elas Curitiba, Foz do Iguaçu e Londrina. Curitiba, inclusive, é a segunda cidade do Brasil com maior número de veículos: 259. A primeira é São Paulo. As outras cidades que representam a região Sul são Porto Alegre (5º lugar) e Florianópolis (12º lugar)

O mapeamento do Atlas da Notícia foi possível apenas com o forte envolvimento das seguintes universidades e suas equipes de voluntários:

  • Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS
  • Universidade Comunitária da Região de Chapecó – Unochapecó
  • Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC
  • Universidade do Planalto Catarinense – Uniplac
  • Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos
  • Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG
  • Universidade Federal do Pampa – Unipampa
  • Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
  • Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
  • Universidade Tuiuti do Paraná

 

Voluntários

Adi Leonardo Velho
Adriana Palumbo Rodrigues
Alice de Medeiros da Costa
Alice de Oliveira Pissollatto
Alice Kilppe Felizardo
Alice Rosa Marques
Amanda Bassani Dal’bosco
Amanda Stafin
Ana Elissa Roth Bernardo
Ana Julia Cardoso Dos Santos
Ana Luíza Rocha Sobrinho
Ana Marta Moreira Flores
Anderson Martins
Angélica Luersen
Antonio Mariano Nilsson da Silva
Ariana Ramon Andriotti da Silva
Artur Miranda de Oliveira
Bárbara Bühler Toledo Elias
Bianca Kinach Voinaroski
Bruna Teixeira Amorim
Bruna Weis
Camila Alemany
Camila Becker Ribeiro
Camila Mendes
Camila Ribeiro da Silva
Carla Andressa Pereira
Carla Eduarda Cenci
Carlo Ruben Diniz Amoretti
Carolina Metz Schmidt
Cíntia Xavier
Daniela Lacerda
Denise Martins Lira
Dominik Polchowicz Machado
Eduarda Cidade
Eduarda Ferreira
Eduarda Vaqueiro Medina
Eduardo Hidehiko Ito
Eliane Taffarel
Eliel Guedes Alves
Érica Wallauer Alves
Fabricio Fabian Guimarães Pedroso
Felipe dos Santos Machado
Fernanda Zeferino Feltes
Francine Bueno Mascolo Geyer
Gabriel Conzatti
Gabriel Maia Oliveira
Gabriel Wunderlich
Gabriela da Silva Daniel
Gabriela Janaina da Silva
Giovana Machado Rodrigues
Giulia Del Rio
Guilherme Barcelos
Guilherme Bender
Guilherme Webber Andriolo
Gustavo Saboia Fontella
Helena Fagundes Costa
Heloisa Ribas Bida
Iasmin Oliveira Gowdak
Igor Muniz Marafigo
Isabela Souza
Isadora Machado dos Santos Menezes
Isadora Parcianello Piacentini
Jacquelline Marques Jorge
Jair Bach Filho
Julia Rafaela Schmitz
Juliana Kaminski Rodrigues
Julie Freitas de Oliveira
Kenson Koskur Coelho
Lara de Souza
Larissa Corrêa Xavier da Silva
Larissa de Oliveira Ribeiro
Laura Santiago
Lenilson Vieira Maia
Leonardo Czerski Junior
Letícia Meurer
Liliane Moura Inacio
Lorenzo Manzoni da Silva Rosa
Lorenzo Mascia
Luana Ortiz de Moraes
Lucas Polidori Azeredo
Luisa Bell Santos
Luiza Carolina dos Santos
Luiza Vargas
Luiza Zanotti Moro
Magali Moser
Manoel Moabis Pereira dos Anjos
Manuela de Carvalho Córdova
Mara Lúcia Welter Kuhn
Marcelo Engel Bronosky
Marcio Telles da Silveira
Maria Clara Guimarães da Costa Moura
Maria Eduarda Besson
Maria Isabel Moreira Marques
Marlon Santa Maria Dias
Maurício Pehls Mendes
Michele Pimentel Pegoraro
Mirella Erdmann de Oliveira
Moises Furlan
Naelly Pavani Sakovicz
Natália Gollin Viegas
Nathielly de Cássia Gavião Paz
Nícolas Córdova da Silva
Nicole Dalamaria Sciapina Baldisserotto
Nicole Silva Röhers
Nikolle Marques da Silva
Otávio Augusto Fiori
Paloma Luara Souza Jorge
Pamela da Luz Manchesky
Pedro Cesar Candito Junior
Pedro Netto Ferreira Costa
Pedro Stahnke Nogueira Pinto
Petra Karenina Drago Pacheco
Rafael Schoenherr
Rafaela Radaelli
Raissa Xavier Burigo
Rebeca Cogrossi da Silva
Ritiele Larissa de Souza Rodrigues
Roberta Roos Thier
Samuel Felipe Cortázio Pereira
Schaiane Cristina Bohn
Suyane de Liz de Francisco da Silva
Tamires Roldão da Silva
Tiago de Lima Blum Rosa
Vinicius Alves
Vinícius dos Santos Rodrigues
Vinícius Rodrigo Orza
Vitória Azambuja da Silveira
Vitória Leticia Santos

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Marcelo Crispim da Fontoura é jornalista e doutor em Comunicação Social pela PUCRS. É professor de jornalismo de dados e desinformação na Famecos-PUCRS, além de pesquisador no Atlas da Notícia e consultor para a IFCN e a Meedan.