Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Desertos de notícias reduziram 15,5% durante a pandemia no Centro-Oeste

  • Região Centro-Oeste apresenta a menor concentração de desertos de notícias, com 29,1%.
  • Goiás, apesar da proximidade com o Distrito Federal, é o estado da região com maior área desértica (39,8%).
  • Rádio registra crescimento e segue como o segmento mais representativo com 723 empresas mapeadas.
  • Mato Grosso tem a maior quantidade de empresas jornalísticas por habitante do Brasil. São 22 veículos para cada 100 mil habitantes.

(Foto: ReadyElements/Pixabay)

O Atlas da Notícia, o mais completo censo sobre o jornalismo local no Brasil, teve como objetivo principal nesta quinta edição checar os desertos de notícias brasileiros, que totalizavam 3.280 municípios na edição anterior do censo, publicada em janeiro de 2020. Nesta edição do Atlas da Notícia, a região Centro-Oeste registrou queda de 15,5% de desertos de notícias. Mesmo com este significativo crescimento de empresas jornalísticas, a região tem ao todo, ainda, 136 municípios desassistidos de cobertura jornalística local.

Para consultar os dados do Atlas da Notícia, clique aqui.

Os dados da região Centro-Oeste foram coletados por professores e acadêmicos de universidades de Goiás, de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul. Foi um trabalho intenso de checagem. Todos os municípios desérticos dos três estados foram analisados. O acesso às informações foi o grande desafio dos voluntários. A estratégia constituiu, inicialmente, em telefonemas para órgãos oficiais como prefeituras, câmaras municipais, hospitais e comércio local em busca de possíveis empresas jornalísticas em pequenos municípios, além de pesquisas por meio de ferramentas disponíveis na rede mundial de computadores. As empresas jornalísticas identificadas, em pesquisa, foram contatadas para o preenchimento do formulário e inserção na base de dados do Atlas da Notícia.

Com o censo deste ano, foi possível constatar que 29,1% dos municípios do Centro-Oeste não dispõem de informações produzidas por empresas jornalísticas locais, ou seja, são considerados desertos de notícias. Em Goiás, por exemplo, há o município de Aurilândia, com 3.058 habitantes de acordo com o IBGE, que é atendido pela Rádio Sucesso FM, com sede em São Luís de Montes Belos. Um outro exemplo é o município de Cristianópolis, com 2.964 habitantes, que não tem imprensa local e recebe o sinal de televisão de Goiânia. O jornalismo local é uma das ferramentas para o entendimento de problemas e processos das comunidades. A distância entre Cristianópolis e Goiânia é de 90 quilômetros, além do distanciamento geográfico há a diferença socioeconômica e de prioridades a serem debatidas por grupos pertencentes aos dois municípios nos meios de comunicação, por isso a importância da representatividade de empresas jornalísticas locais.

Dados gerais da pesquisa

O Centro-Oeste segue como a região com menor concentração de desertos de notícias (29%), o principal motivo para este quesito é a distribuição das empresas noticiosas em Mato Grosso do Sul, com 90% dos municípios com imprensa local. Em contrapartida, o estado de Goiás, apesar da proximidade com o Distrito Federal, é o estado da região com maior área desértica (39,8%).

Ainda neste levantamento, o Mato Grosso tem a maior quantidade de empresas jornalísticas por habitante, posição ocupada desde a edição passada do Atlas da Notícia. São 22 veículos para cada 100 mil habitantes. Há uma concentração significativa da imprensa em Cuiabá, capital do estado.

Rádio na cobertura jornalística durante a pandemia

Embora nesta quinta edição do Atlas da Notícia o jornalismo online tenha despontado nacionalmente, no Centro-Oeste a liderança ainda segue sendo das rádios que, inclusive, registraram crescimento e estratégias de cobertura durante a pandemia. São ao todo, 723 rádios, 620 sites de notícias, 379 jornais impressos e 213 emissoras de televisão.

Municípios como Rochedo (MS), Alto Boa Vista (MT), Barão de Melgaço (MT), Nova Lacerda (MT), Campestre de Goiás (GO) e Cidade Ocidental (GO) deixaram de ser desertos noticiosos com a implantação de rádios, com parte da programação destinada ao jornalismo local.

As rádios tiveram importante papel de informar a população, durante a pandemia, sobre os cuidados necessários para prevenção e combate ao coronavírus. Debates sobre a vacina e detalhes sobre o cronograma municipal de vacinação fizeram parte da programação radiofônica. Em pequenos municípios da região Centro-Oeste, com cobertura limitada de internet, o rádio e o som de rua são as vias mais utilizadas e eficientes, ainda hoje.

As rádios comunitárias, sem programação jornalística local, não entram na estatística do Atlas da Notícia como empresas jornalísticas. Exatamente aí, há um forte potencial para o desenvolvimento de cobertura de acontecimentos locais. Parcerias e investimentos no ecossistema de notícias locais que se utilizem deste segmento pode ser uma solução viável para melhorar o acesso à informação e ao debate de questões de interesse público em pequenas localidades, onde há apenas uma rádio comunitária. Em municípios, como: Abadiânia (GO), Alto Horizonte (GO), Aparecida do Rio Doce (GO), Tacuru (MS) e Vicentina (MS) há rádio comunitária com programação exclusivamente musical e, portanto, são localidades que seguem enquadradas como desertos de notícias, pois não há o trabalho imprescindível do jornalismo de investigar e questionar as ações do poder público local.

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O Atlas da Notícia está na quinta edição e sempre teve a colaboração de voluntários para construir uma base de dados aberta e representativa do jornalismo brasileiro. Essas informações são utilizadas para subsidiar estudos, novas pesquisas e análises. O objetivo é contribuir com iniciativas, ideias e soluções que busquem fomentar o jornalismo, especialmente no nível local.

Colaboraram na quarta edição do Atlas da Notícia os seguintes voluntários:

Áurea de Fátima Rodrigues da Silva
Danielle Tavares Teixeira
Diego Augusto Alves Damasceno
Eveline dos Santos Teixeira Baptistella
Fernanda Tauana de Oliveira
Gabriella Luccianni Morais Souza Gabriella Souza
Hanelise da Silva Brito
Jéssica Ester da Mata Soares
Karollyne Cassia Duarte Pereira
Lais Queiroz Ribeiro
Lygia Cristina Menezes de Lima
Maria Eduarda Ricardino Rachel Simplicio
Maria Gabriela Pimenta do Val
Nivia Santos Menegat
Pérola Kayse Serafim Menezes
Rogério Borges

Com o apoio das seguintes instituições:

PUC GO
Unemat (MT)
Uniderp (MS)

Para consultar os dados do Atlas da Notícia, clique aqui.

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Angela Werdemberg e jornalista, mestra em comunicação e doutoranda em Estudos Midiáticos. Coordenadora do Atlas da Notícia na região Centro-Oeste e professora na Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp).