Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Diminui a quantidade de iniciativas jornalísticas na região Centro-Oeste

Apenas no Distrito Federal, 41 veículos encerraram as atividades

  • Rádio é o segmento com maior estabilidade e foi o único que registrou aumento, nesta edição do Censo, na região Centro-Oeste.
  • Mesmo com o encerramento de iniciativas jornalísticas, o Centro-Oeste segue com a menor proporção de desertos de notícias do Brasil.
  • Passaram a ser desertos noticiosos os municípios de Novo Horizonte do Sul (MS), Cotriguaçu (MT), Feliz Natal (MT) e Lambari d’Oeste (MT).
  • Iniciativas jornalísticas começam a solicitar financiamento de leitores por doações via pix.

O Atlas da Notícia, nesta edição, registrou queda na quantidade de iniciativas jornalísticas em todos os estados da região Centro-Oeste. No Distrito Federal, foram 41 veículos fechados, no Mato Grosso, 6, no Mato Grosso do Sul, 2 empresas e em Goiás, 1. O total de iniciativas que foi encerrada representa 1% da base de dados da região no censo.

Gráfico 1:

Veículos por segmento e UF

apenas veículos jornalísticos

Mesmo com novas iniciativas cadastradas, houve redução no número de empresas jornalísticas

O principal motivo para o fechamento das empresas é a dificuldade em financiar e estabelecer modelo de negócio sustentável e lucrativo. Na região Centro-Oeste, ainda predomina o modelo tradicional de venda de publicidade para órgãos públicos e privados. As empresas jornalísticas tiveram perda de lucratividade nesse modelo de negócio com o advento de anúncios em redes sociais e sites de buscas, além da redução de repasse de verba pública para a imprensa nos últimos anos.

Paralelamente, o crowdfunding, financiamento de iniciativas a partir da colaboração de pessoas físicas, ainda é bastante tímido e com baixa adesão da população. Na região Centro-Oeste, desde os anos 1980, há a cultura do consumo de informação noticiosa gratuita, inclusive no formato impresso. Essa sistemática fez da confluência da rua 14 de Julho e com a avenida Afonso Pena, aos domingos pela manhã, um ponto de encontro do campo-grandense para receber jornal de graça. A prática segue com os sites de notícias locais em que o leitor não tem o hábito de contribuir financeiramente para a produção de conteúdo. A dificuldade em estabelecer um modelo de negócio sustentável está demonstrada nesta edição do Atlas da Notícia, principalmente para os sites de notícias.

Coletivos e sites jornalísticos independentes começam a se estabelecer no Centro-Oeste

Jornalistas, a partir de suas realidades locais, como alternativa para a realização profissional organizam-se, formam coletivos, associações, pequenas empresas e outras formas de organização para trabalhar. Além de estabelecer novos formatos de iniciativas, os profissionais estão investindo em inovadoras abordagens narrativas, como por exemplo, a Revista Badaró, criada com o objetivo de ser o primeiro veículo brasileiro focado na produção de jornalismo em quadrinhos. Desde o início, a Badaró busca se manter de forma independente, financiada por pessoas que consomem o conteúdo produzido e por iniciativas parceiras. Atualmente, o conteúdo da revista é publicado de forma digital e impressa.

Um outro exemplo é o TeatrineTV, site jornalístico online independente dedicado a cobrir os diversos assuntos da arte e da cultura, tendo como objetivo principal investigar o uso da verba pública da cultura e oportunizar espaço para debate e promoção dos diversos gêneros artísticos produzidos na região Centro-Oeste. A proposta do site foge da convencional cobertura e divulgação de agenda cultural.

Rádio é o segmento mais estável e representativo na região

A região Centro-Oeste tem a menor porcentagem de desertos de notícias e o segmento que garante boa parte da cobertura é o rádio. São ao todo, 729 rádios, 592 sites de notícias, 370 jornais impressos e 210 emissoras de televisão. As rádios estão pulverizadas e cobrem territórios como o Pantanal e o Cerrado, possibilitando que a informação chegue em municípios sem sinal de internet ou acesso precário à rede.

Centro-Oeste tem a menor porcentagem de desertos de notícias

Em fevereiro deste ano, o Ministério das Comunicações disponibilizou, por meio de editais, 11 novas outorgas para rádios comunitárias na região Centro-Oeste. A distribuição dos sinais está proporcional ao quantitativo de desertos de notícias nos estados. Serão, em breve, sete novas rádios em Goiás, três no Mato Grosso e uma em Mato Grosso do Sul.

A representatividade do rádio no Centro-Oeste é reconhecida e citada no Perfil do Rádio Comercial Brasileiro, desenvolvido pela Associação Brasileira de Rádio e Emissoras de Televisão (Abert) desde 2012. No relatório da pesquisa consta que o serviço de rádio comercial é mais desenvolvido no Centro-Oeste, onde a cobertura alcança mais da metade dos municípios. A cada nova pesquisa divulgada pela Abert e a cada nova edição do Atlas da Notícia, o rádio tem se expandido e contribuído para o ecossistema local de notícias.

O Atlas da Notícia está na sexta edição e sempre teve a colaboração de voluntários para construir uma base de dados aberta e representativa do jornalismo brasileiro. Essas informações são utilizadas para subsidiar estudos, novas pesquisas e análises. O objetivo é contribuir com iniciativas, ideias e soluções que busquem fomentar o jornalismo, especialmente no nível local.

Colaboraram na sexta edição do Atlas da Notícia os seguintes voluntários:

Ana Beatriz Castelo Branco Soares
Beatriz de Souza Franco
Beatriz Sena
Bruno Borges
Carlos Eduardo Eleutério Bastos
Claudio Nunes Batista
Daniela Ávalos dos Santos Pereira
Daniela Cristiane Ota
Danielle Errobidarte Matos
Douglas Nestor Jost Rebelato
Edson Luiz Spenthof
Eduarda Victória Bezerra de Souza
Emilly Mira Alves Santana
Emilly Sarah dos Santos da Silva
Enzo Henrique
Érica Cabreira Castilho
Felipe Jara Garcia
Felipe Silva Argelho dos Santos
Gabriel Gill Ramires
Gabriel Hissao Coelho Issagawa
Gabriel Tele Santana
Gabriella Castro
Gabriella Luccianni Morais Souza
Gian Guilherme Brittes Guimarães
Gustavo Ferreira de São Miguel
Gustavo Grance Reis
Hanielle Barreto Rodrigues
Helder Samuel dos Santos Lima
Isabella Alves Russo
Jeferson da Silva Marques
João Pedro de Oliveira Buchara
João Pedro Santana Pontes
João Pedro Souza Vieira
José Victor Marçal Câmara
Kézia Alves Bruno
Laisa Cristina chimenez Schiavi
Laiz Cristina Lima Amorim de Abreu
Larissa Sampaio
Larissa Thays Da Costa Reis
Laura Elisa Ramire Radighieri
Lorena Oliveira Martins Sone
Marcos Nailton
Maria de Fátima Rodrigues
Maria Eduarda Lima Vargas
Maria Gabriela Souza Dias
Mariana Ferreira Lopes
Mário Luiz Fernandes
Monique Lima
Nathália Rocha
Nicolás Linares
Rafael Kosak
Rafael Vasques Medina
Renato cunha dos Santos Filho
Sabrina Moreira de Morais Oliveira
Samuel Mello
Taís Seibt
Vitória Gabrielly Braga dos Reis

Com o apoio das seguintes instituições:

Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP)
Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás)
Universidade de Brasília (UnB)
Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da região do Pantanal (Uniderp)

Para consultar os dados do Atlas da Notícia, clique aqui.

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Angela Werdemberg é jornalista, mestra em comunicação. Coordenadora do Atlas da Notícia na região Centro-Oeste e professora na Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da região do Pantanal (Uniderp).