Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Nem impresso, nem online: é o rádio que reina na região Sudeste

  • O rádio é o meio mais comum no Sudeste, com 1.442 emissoras
  • O online cresce e já é predominante em São Paulo e no Rio de Janeiro
  • O número de veículos impressos caiu 2,74% na região, para 1.386
  • Houve redução de 8,9% no número de desertos de notícias no Sudeste, para 881
  • Dois novos desertos surgiram na região, apesar da redução no número total

 

(Foto: Ansfoto/Pixabay)

O rádio tomou o lugar do impresso e aparece, nesta quinta edição do Atlas da Notícia, como o meio predominante no Sudeste do país. O levantamento, realizado entre agosto de 2021 e fevereiro deste ano, mostra 4.628 veículos na região. Desses, 1.442 são rádios. Em seguida, aparecem os impressos, com 1.386 títulos, e os onlines, já encostados, com 1.370.

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Estendido além do prazo normal por dificuldades geradas pela pandemia, o levantamento contou com a participação de 15 voluntários. A maioria foi de estudantes de universidades da região, como UNESP-Bauru, ESPM-SP, ESAMC de Uberlândia, UFMG, UNASP e UFOP, mas houve também representantes do Sul, da UFSC e da UFRGS. Contribuíram ainda pesquisadores independentes e participantes de edições passadas do Atlas.

Um dos motivos para o avanço das rádios sobre os impressos na edição deste ano foi a identificação de emissoras em pequenas cidades do interior. O Atlas deu especial atenção à busca de veículos em municípios considerados desertos de notícias em edições passadas.

Em algumas cidades pesquisadas, como Arinos, Francisco Sá e Mutum, em Minas Gerais, foram encontradas até duas rádios. Em dezenas de outras, entre as quais Pongaí (SP), Trajano Morais (RJ) e Águia Branca (ES), havia uma. Com isso, o número de rádios na ativa registradas no Atlas aumentou 4,3%, em relação às 1.382 da edição passada.

Entre as emissoras recém incluídas, muitas são comunitárias. Em Águas Vermelhas, em Minas Gerais, por exemplo, funciona a Antena FM 91.3, da Associação do Bairro Progresso Eldorado. Em Alfredo Vasconcelos, no mesmo estado, é a Banda de Música Nossa Senhora do Rosário que toca, com oito pessoas, a programação que mistura música e informação.

“Alô, dona Maria!”

“As rádios do interior são pequenas, mas são importantes para a circulação de notícias locais”, diz o locutor e mestre de cerimônias Fábio Alan, que participa da programação de rádios na região de Monte Azul, em Minas Gerais. É onde se anuncia o documento perdido da senhora aposentada, o falecimento de alguém, a obra na estrada, alguma ação de saúde da prefeitura, diz. “E tem o ‘alô’ da cidade, o alô pra dona Maria, que pede música.”

Segundo Alan, ao comércio local, as pequenas rádios locais também garantem chamadas na programação a preços bem mais baixos que os cobrados pelas rádios comerciais. “Cada inserção sai por R$ 2, R$ 3. Em dez inserções, em um dia, o comerciante vai gastar R$ 20, R$ 30. Nas rádios comerciais, o custo já vai de R$ 7 a R$ 12, por inserção”, afirma.

O rádio, no entanto, não lidera em todos os estados do Sudeste. Em São Paulo, o meio aparece em terceiro lugar, com 658 emissoras, atrás do online, com 859 veículos, e dos impressos (769). No Rio de Janeiro, acontece o mesmo. As rádios (149) perdem, por larga margem, tanto para o online (252) quanto para o impresso (249).

É no Espírito Santo e em Minas Gerais, principalmente, que o meio garante a liderança, com folga. Em Minas Gerais, o estado brasileiro com mais municípios (853), o Atlas registra 564 rádios, 325 impressos, 202 veículos online e 168 TVs. Já os capixabas têm 71 rádios, 57 veículos online, 43 títulos com circulação impressa e 27 emissoras de televisão.

Declínio do impresso

Mas há também outra razão para o predomínio das rádios no Sudeste. É a redução do número de impressos, na medida em que avança a migração do papel para o digital. Houve redução de 2,74% no número de títulos. Eram 1.425, em 2020. Nesta edição, são 1.386.

O estado onde a queda foi maior, em números absolutos, foi Minas Gerais: 27 títulos. São Paulo registrou cinco a menos; o Espírito Santo, quatro; o Rio de Janeiro, três.

Entre os títulos que fecharam as portas no período, um dos mais tradicionais e de maior projeção foi o jornal Agora São Paulo, do Grupo Folha. O diário parou de circular no dia 29 de novembro e, junto com o impresso, encerrou também as publicações na versão online. O título durou 22 anos e, de acordo com o Grupo Folha, já não havia justificativa econômica para mantê-lo, depois de quedas na circulação e no volume de publicidade.

Outro caso emblemático foi o da Revista Época. Em maio, o Grupo Globo anunciou o fim da versão impressa e a incorporação do online ao jornal O Globo. No comunicado, a empresa apresentou como motivos a perda de relevância das revistas diante da velocidade do digital.

Alguns jornais, para não fecharem a versão impressa, reduziram a periodicidade da circulação. O jornal A Folha de Minas, de Itabira, por exemplo, passou de diário a semanal. O Além Parahyba, de Além Paraíba, fundado em 1923 como semanário, seguiu mantendo a frequência de publicação até a pandemia. Recentemente, porém, passou a investir no portal e a circular “duas ou três vezes por mês”, conta o diretor-editor, Flávio Senra. O jornal Folha Andradense, de Andradas, também deixou de ser semanário. Virou mensal.

Online em movimento

De modo geral, na medida em que os impressos migram para o digital e surgem novos veículos já criados para as novas mídias, o meio online ganha espaço no Atlas. Do ano passado para cá, houve um avanço de 6,7% no número de registros de veículos online. Eles eram 1.284, em 2020, no Sudeste, e agora são 1.370, logo atrás dos impressos. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, o meio já é dominante, com participações de 34,8% e 36%.

O suporte tecnológico mais atual, porém, não é garantia de sucesso. A versão brasileira do site do El País, por exemplo, fechou as portas no Brasil em dezembro do ano passado, depois de oito anos. Em comunicado sobre a decisão, o jornal espanhol afirmou que, apesar da audiência elevada, a tentativa de equilibrar as contas da operação no Brasil com a cobrança de assinaturas não deu o resultado esperado. E a solução foi deixar o mercado.

Em busca de audiência e de um modelo de negócios sustentável, algo difícil de encontrar hoje no setor de mídia, são comuns os casos de veículos que montam sites e abrem contas em redes sociais, para depois deixá-las sem atualização. Em alguns casos, é o site que é abandonado em favor das redes sociais. O Jornal Popular de Serro, no interior de Minas Gerais, por exemplo, ainda mantém no logo o endereço da página na internet (www.jornalpopularserromg.com), hoje desativada. No Facebook, a última postagem é de 2020. Mas, no Instagram, o veículo tem 39,7 mil seguidores e é atualizado constantemente.

No processo de migração do impresso para o digital, há ainda ao menos um caso de veículo que manteve a frequência, mas reduziu a tiragem do impresso e aumentou a distribuição através de canais online seguindo o projeto gráfico original. Para ler o semanário Getulina Jornal, de Getulina (SP), os assinantes que optam pela versão eletrônica, em vez de entrarem em um site para ler as notícias, recebem pelo Whatsapp a cópia em PDF da edição enviada à gráfica. A assinatura do serviço custa R$ 60 por ano.

Mas o melhor exemplo na região de pragmatismo na busca por equilíbrio entre audiência e econômico talvez seja o do jornalista Cristiano Aparecido Arcanjo. Dono da Cristiano Som e Gráfica Rápida, “Cristiano do Som”, como é conhecido em Florínea, no interior de São Paulo, Cristiano já teve jornal impresso, o Folha Fluminense, migrou para um site de notícias, do site de notícias passou às redes sociais e, nas redes sociais, percebeu que o melhor veículo para a pequena cidade de 3,5 mil habitantes era mesmo um carro de som, diz.

Hoje, diariamente, por duas a três horas, Cristiano percorre a cidade distribuindo notícias locais. É tempo suficiente para percorrer duas a três vezes os 11h quilômetros de ruas de Florínea, conta. O aúdio é enviado para quem pede também por Whatsapp. A operação é custeada por anúncios de comerciantes locais e pela prefeitura, que banca a divulgação de informações de interesse público, como dicas de prevenção à Covid e à dengue.

Menos desertos

Com a identificação de veículos em muitas cidades do interior, o número de desertos de notícias no Sudeste caiu 8,9% na edição do Atlas deste ano. Em 2020, 967 municípios da região não contavam com nenhum veículo ativo de jornalismo local — 58% do total. O número caiu agora para 881, ou 52,8% das 1668 cidades dos estados da região.

Este ano, três cidades que eram identificadas como semi desertos em edições passadas, são agora desertos de notícias. Das três, duas ficam no Sudeste: Rio Pomba, em Minas Gerais, e Bom Jardim, no Rio de Janeiro. A terceira fica no Nordeste (Frei Martinho).

O número de veículos ativos na região Sudeste chegou a 4.628, ou 33.7% dos 13.734 identificados em todo Brasil em 2021. Em relação ao levantamento do ano passado, houve aumento de 2,45% no total. Em 2020, havia 4.517 veículos ativos na região Sudeste.

O Estado líder na região, e no país, continua a ser São Paulo, com 2.471 veículos, ou 18% do total. Em seguida, aparece Minas Gerais, com 1.260 (9,2%), na terceira posição no ranking nacional. Rio de Janeiro, com 699 (5,1%), e Espírito Santo, com 198 (1,4%), aparecem respectivamente na sétima e na décima nona posições.

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Colaboraram na quarta edição do Atlas da Notícia os seguintes voluntários:
Bruno Gonçalves Denofrio
Caroline Dutra Impellizieri
Daiane M. de L. Silva
Daniel S. Simoni
Ellen Sayuri Okido Matsumoto
Fabio Celestino
Gabriel Henrique Texeira
Isabella Pilegis Rocha
José Pedro Sordi dos Santos
Julia de Andrada Gouveia
Marcelo Kawamoto
Mike Faria da Cruz
Nathalia Mendes
Rafael Ferreira Medeiros
Renan Gabriel
Thiago Tozi
Victória Ribeiro Carvalho

Com o apoio das seguintes instituições:
Universidade Estadual Paulista (UNESP-Bauru)
Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP)
Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP)

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