No entendimento da professora Beatriz Dornelles, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUC do Rio Grande do Sul (PUC/Famecos), os jornais impressos do interior sobreviverão por mais tempo do que os localizados nas grandes cidades e nas capitais. A sobrevida do impresso, segundo ela, deverá ser maior no Sul do país devido aos hábitos culturais e maior escolaridade da população, e até ao clima frio que estimula a leitura.
Nascida em Alegrete, no oeste do estado, a professora se especializou no estudo desses jornais quando escolheu o tema como objeto de tese de doutorado e entrevistou 3.200 assinantes de várias pequenas cidades.
Ela vê muitos pontos positivos nos jornais do interior e os considera mais éticos que os das grandes cidades por não publicarem nomes de acusados de crimes antes de serem condenados. Mas admite que tal comportamento é também uma prática defensiva dos proprietários para escapar de processos judiciais para reparação de danos morais. Outro ponto positivo para os jornais do interior, na visão da professora, é serem fontes de registro histórico dos municípios.
Ela sustenta que não existe um alinhamento desses jornais com os políticos locais no interior do Rio Grande do Sul, embora lhes falte cobertura crítica nesse campo. “Os donos são empresários e jornalistas e têm o jornal para ganhar dinheiro. Editorialmente, eles não podem se alinhar a um grupo político porque existe alternância de poder. Se tomarem partido a favor do prefeito em exercício, o jornal pode morrer quando a oposição assumir a prefeitura quatro anos depois. A oposição de hoje é o governo de amanhã e a neutralidade é questão de sobrevivência,” acrescenta.
Ela contesta a ideia de que os jornais do interior não fazem investigação jornalística. “Fazem, sim. Não na política, mas em outras áreas, como esporte, turismo e educação. Há muita reportagem de denúncia sobre escolas que não funcionam e a população reage e cobra providências”.
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Elvira Lobato é jornalista.