O Atlas da Notícia, projeto de jornalismo de dados para traçar um mapa do universo de veículos de imprensa do Brasil, chega à terceira edição, em 2019, com 11.833 empresas jornalísticas mapeadas. Deste total, 14% pertencem à região Centro-Oeste, que apresenta a segunda menor concentração de empresas jornalísticas no país.
Mesmo com a pequena quantidade de veículos jornalísticos, a região foi a que apresentou o menor percentual de desertos de notícias. Esse fenômeno é justificado pela distribuição de pequenas empresas jornalísticas entre os municípios, onde destacam-se rádios e portais de notícias locais. São, ao todo, 577 rádios, 499 portais de notícia, 378 jornais impressos e 158 televisões. Foram catalogados 64 fechamentos de empresas jornalísticas: 35 portais de notícia, dezesseis impressos, doze rádios e um veículo cuja modalidade não foi identificada.
Veículo jornalístico na internet foi o segmento que mais cresceu e que mais fechou, também. Os portais de notícias demonstraram fragilidade em municípios com menos de 20 mil habitantes. Dos 64 fechamentos registrados na região Centro-Oeste, 62 estavam sediados no interior – entre eles, o JNews, de Santo Antônio do Leste (MT), e o Jornal Rio Negro News, de Rio Negro (MS). Eram empresas localizadas em municípios com menos de cinco mil habitantes e que não conseguiram estabelecer um modelo de negócio sustentável.
Os jornais impressos resistem e foi possível identificar que empresas migraram a periodicidade de veiculação, mas permanecem em circulação. O jornal Hora Extra, de Goiânia (GO), paralisou a circulação para investir em novos canais, mas pretende retornar com a impressão em 2020. Investir em meios digitais é um movimento frequente das empresas jornalísticas que nasceram com o impresso. Outro exemplo é o Jornal do Vale, localizado em Ceres (GO), que tem periodicidade mensal e mantém veículo noticioso na internet, atualizado diariamente.
Entre os jornais que anunciaram seu encerramento em 2019 está o impresso mais antigo de Mato Grosso do Sul. O Progresso publicou, em 25 de setembro de 2019, em destaque na capa da edição 13.593, o término do noticiário diário. Fundado em 1920, na cidade de Ponta Porã – fronteira do Brasil com o Paraguai -, circulou até 1927. Em 1951, foi reativado e a sede da empresa migrou para a cidade de Dourados, distante 230 km da capital, Campo Grande.
O Progresso também foi o primeiro jornal colorido da região Centro-Oeste. Em 2018, houve a separação das equipes do impresso e do portal de notícias, que foram integradas por 21 anos. Havia 41 funcionários, entre eles sete jornalistas para a produção do diário. O Progresso permanece com o portal de notícias, fundado em 1997.
Contraste entre Distrito Federal e Goiás
Brasília é a segunda cidade com mais veículos jornalísticos do Brasil. Ao todo, foram mapeadas 282 empresas jornalísticas. No Distrito Federal, foi predominante a quantidade de veículos jornalísticos na internet (140), seguidos de jornal impresso (78), rádios (41) e televisões (23).
Em contraste com Brasília está o estado de Goiás, que, desde a edição passada do Atlas da Notícia, tem a menor quantidade de veículos por habitante da região Centro-Oeste. Em fevereiro de 2019, as repórteres do Observatório da Imprensa Ana Terra Athayde e Elvira Lobato estiveram em Cidade Ocidental, município goiano com 70 mil habitantes, a menos de 50 km de Brasília, que não tinha emissoras de rádio ou TV locais e nem portais de notícia ou veículo impresso com circulação, ao menos, quinzenal. As jornalistas produziram a matéria “Um deserto de notícias nos arredores do centro do poder” e constataram que sem imprensa local, os moradores de Cidade Ocidental buscam informação nas redes sociais e em mensagens instantâneas.
Na terceira edição do Atlas da Notícia, Cidade Ocidental – entre outras de Goiás – permanece como deserto. A pouca distância entre os municípios goianos e a capital federal evidencia o contraste. No centro do poder, cobertura massiva e, em municípios próximos, a ausência de mediação jornalística focada na realidade local.
MS é o estado brasileiro com mais veículos jornalísticos por habitante
A surpresa da edição do Atlas da Notícia 3.0 foi Mato Grosso do Sul enquadrar-se como o estado com maior concentração de veículos por habitante. São 15,36 veículos para cada 100 mil habitantes. É importante ressaltar que a amostragem reflete os dados obtidos, sem necessariamente cobrir todos os veículos de jornalismo local e regional do Brasil. Possivelmente, essa colocação se justifica por dois motivos: a baixa densidade demográfica de MS e a utilização de banco de dados de duas pesquisas intensivas feitas por profissionais locais. Coube ao Mato Grosso do Sul, também, o menor percentual de deserto de notícia do Brasil (15,2%).
Mato Grosso ocupa a terceira posição de estados brasileiros com mais veículos por habitantes (11,24 veículos para cada 100 mil habitantes), praticamente empatado com Santa Catarina, que registrou 11,69. Mato Grosso, apesar da considerável disponibilidade de veículos por habitante, registra desertos de notícias em 65 municípios, equivalente a 46,1% do estado. A pesquisa mostra que os veículos estão concentrados, principalmente, em Cuiabá.
Colaboradores
O Atlas da Notícia 3.0 utilizou o banco de dados do Portal de Mídia de Mato Grosso do Sul, que é um projeto do Grupo de Pesquisa Mídia, Identidade e Regionalidade vinculado ao curso de graduação e mestrado em comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, coordenado pelo professor Mario Luiz Fernandes. Foi utilizado também o mapeamento dos portais noticiosos de Mato Grosso do Sul feito pela pesquisadora Fernanda França Fortuna durante o mestrado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
O Atlas da Notícia é um projeto de pesquisa colaborativo que contou com a participação das seguintes pessoas no Centro-Oeste:
- Ângela Teixeira de Moraes
- Angelita Pereira de Lima
- Barbara Argôlo Soares
- Bárbara Ferreira Lima
- Bella Ribeiro
- Blaynny Vitor Damassena
- Dayziane Fernanda da Silva de Moraes
- Frank Maciel Logrado
- Gabrielly Mendes Ferreira
- Graziela Maria Godwin Egbuna
- Jennifer da Silva Lima
- Keyla Neves de Oliveira
- Layra Ferreira dos Santos Santana
- Letícia de Lucena Vaz
- Marcos Antonio Silva Moreira Filho
- Maria Luiza Cáceres Rodrigues da Silva
- Marina de Santana Cintra
- Maryana Souza Borges
- Melissa Rie Nakamura
- Mirian Barreto Lellis
- Mylena Francisca dos Santos Caitano
- Nathalia Gonçalves Batista
- Sabryna Moreno da Silva
- Taissa Gracik Tomé
- Thayná Guimarães Araújo Tosta
- Thaynara Fernandes De Oliveira
- Vinicius Ribeiro Rodrigues
E com o apoio das seguintes instituições:
- Universidade Federal de Goiás (UFG)
- Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
***
Angela Werdemberg é jornalista, professora e pesquisadora. Coordenadora do Atlas da Notícia 3.0 na região Centro-Oeste. Professora dos cursos de jornalismo, multimídia e publicidade e propaganda da Uniderp e integrante do Grupo de Pesquisa Ciberjornalismo. Graduada em jornalismo pela Universidade Católica Dom Bosco, mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e doutoranda em Ciência da Informação – Jornalismo e Estudos Midiáticos pela Universidade Fernando Pessoa, em Portugal.