Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Veículos jornalísticos online já são quase um quarto do total na região Sudeste

Em um esforço de aprofundamento dos dados das duas edições anteriores, esta edição do Atlas da Notícia adicionou informações sobre 202 veículos na região Sudeste do país, dos quais 114 impressos. Nos meses de agosto a novembro deste ano, 38 voluntários, entre pesquisadores independentes, estudantes e professores de sete universidades, ajudaram a reunir dados sobre 89 veículos de São Paulo, vinte do Rio de Janeiro, 65 de Minas Gerais e 28 do Espírito Santo. Os registros do Atlas no Sudeste este ano indicam o avanço da revolução digital sobre a imprensa da região mais rica, populosa e influente do país.

Do total, verificou-se que 95 veículos antes registrados nas bases de dados usadas para a elaboração do Atlas estão inativos. Alguns deles fecharam as portas em 2019. É o caso de nomes tradicionais da imprensa, como o Comércio do Jahu, de Jaú, no interior de São Paulo, com 110 anos de história, que deixou de circular em maio. Mas há também veículos mais jovens, como o Jornal de Monte & Região, de Monte Aprazível, semanário impresso que funcionou por dezenove anos, até junho. No Espírito Santo, fechou as portas o Estado Capixaba, jornal que era distribuído gratuitamente à população desde 2012. O estado perdeu ainda o jornal Na!, da Rede Gazeta, que reduziu também A Gazeta, diário em circulação desde 1928, a uma edição semanal, com circulação aos sábados, na Grande Vitória.

Dos veículos que deixaram de ser publicados em anos recentes e foram agora identificados pelo Atlas 3.0, a maior parte estava sediada no estado de São Paulo (43). Outros 27 foram identificados em Minas Gerais, onze no Rio de Janeiro e catorze no Espírito Santo. Em todos os quatro estados, o veículos fechados eram predominantemente jornais impressos, o que indica o espalhamento no Brasil de um movimento marcado pelo fechamento de veículos locais de mídia impressa também em outros países, como os Estados Unidos.

No ano passado, a segunda edição do Atlas já havia indicado o fechamento das versões impressas de veículos tradicionais, como o centenário A Cidade, de Ribeirão Preto; a Tribuna Impressa, de Campinas, do grupo EPTV; o Jornal de Jundiaí; o Diário de Franca; a Tribuna de Lavras, em Minas Gerais; e O Povo, no Rio de Janeiro, entre outros.

Cobertura desigual
A região Sudeste, apesar de ser a mais rica do país e de ter a maior concentração de veículos, carece hoje de uma imprensa local forte, mesmo em grandes centros regionais, como Campinas, Ribeirão Preto e Uberlândia. Em anos recentes, as três cidades perderam jornais importantes, como Diário do Povo (Campinas), Gazeta de Ribeirão (Ribeirão Preto), Correio de Uberlândia e Tudo Já (Uberlândia). O Correio de Uberlândia tinha mais de oitenta anos.

Os fechamentos de veículos, principalmente em pequenas cidades do interior ou em municípios mais pobres de regiões metropolitanas, tende a agravar a assimetria de cobertura verificada em nível nacional, que em geral segue o padrão das desigualdades sócio-econômicas do país. Enquanto a cidade de São Paulo, sozinha, tem mais de 861 veículos, 1.010 (60,6%) das 1.668 cidades da região Sudeste não têm nenhum veículo jornalístico dedicado à cobertura local. São desertos de notícias.

É um contraste que aparece mesmo dentro de capitais ricas, como a paulista. Hoje, a Agência Mural, especializada na cobertura de periferias, é a única a cobrir as 32 subprefeituras da cidade. No Rio de Janeiro, há um projeto semelhante, chamado Voz das Comunidades, dedicado à cobertura jornalística de comunidades como as do complexo do Alemão, da Maré e da Penha, entre outras áreas.

Rumo ao digital
Mas se a queda no número de veículos impressos locais, e mesmo na circulação de grandes veículos, como Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e O Globo, sugere tempos difíceis pela frente para o jornalismo, há também novas iniciativas surgindo, principalmente no meio digital. O Jornal Dois, de Bauru, é um bom exemplo. Reúne jornalistas, designers e colunistas em um projeto sem fins lucrativos, financiado por doações diretas, prestação de serviços, crowdfunding e recursos institucionais de diversas entidades.

Ao todo, dos 4.513 veículos jornalísticos incluídos no Atlas na região Sudeste, 1.166 veículos são online. Nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, a preponderância de outras mídias ainda é grande. No primeiro caso, predominam as rádios (507), seguidas dos impressos (398) e da televisão (168). Veículos online são apenas 138. Entre os capixabas, de modo semelhante, há 67 rádios, 57 impressos, 27 TVs e somente 22 veículos jornalísticos online identificados. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, porém, as mídias digitais já ocupam a segunda posição, bem próximas dos impressos, com 795 e 211 veículos – os veículos impressos em São Paulo são 921 e, no Rio de Janeiro, 257.

O número crescente de veículos online não significa, porém, a descoberta de um modelo de sucesso financeiro. Há entre os fechados em anos recentes alguns online, como o Portal de Araguari, que encerrou as atividades em abril de 2018. As empresas de mídia local ainda buscam um modelo de negócios que possa ser replicado facilmente. Um caso de sucesso é o Nexo Jornal, sediado em São Paulo e focado na contextualização das notícias e em ampliar o acesso a dados e estatísticas. Em seu quarto ano, ele recebeu, no início de 2019, US$ 920 mil (ou cerca de R$ 3,4 milhões, pelo dólar da época) da Luminate, organização do grupo Omidyar, de Pierre Omidyar, fundador do eBay e financiador de outros projetos de jornalismo independente ao redor do mundo.

Ampliando o foco
Um dos focos do levantamento realizado pelo Atlas da Notícia este ano foi a ampliação da busca de dados em estados que, na edição passada, foram pouco explorados em função da dificuldade de encontrar voluntários locais. No Espírito Santo, por exemplo, não houve nenhum registro em 2018. Na edição deste ano, foram identificados 28 veículos jornalísticos capixabas, dos quais catorze permanecem em funcionamento. Do Rio de janeiro, foram incluídas informações de vinte veículos. Desses, onze fecharam as portas.

Em 2020, será preciso observar como evoluem os novos veículos digitais de jornalismo e o desfecho de crises financeiras em grandes editoras, como a Abril, que publica Veja São Paulo. Mesmo editoras como a Globo, em melhor situação financeira, enfrentam dificuldades e precisam encontrar rapidamente um modelo de negócios que permita a migração do impresso para o digital, para se manter no mercado nos próximos anos. O mesmo vale para os jornais, quase todos com circulação em queda.

Colaboradores
O Atlas da Notícia é um projeto de pesquisa colaborativo que contou com a participação das seguintes pessoas no Sudeste:

  • Alice Arnoldi
  • Ana Carolina Valentim Montoro
  • Ana Luisa Monteiro
  • Andrei Gobbo
  • Antônio Moraes de Paiva
  • Aristides Miltom Café Neto
  • Arthur Riale
  • Caroline Conrado
  • Cesar de Andrade Cabral
  • Eduardo Lopes Vieira
  • Gabriel Magalhães de Guimarães Costa
  • Gabriel Soldeira Regis
  • Gabriela de Carvalho
  • Gabriela Rucker
  • Gabriella MK
  • Giuliana Santos
  • Guilherme Augusto Ribeiro Cadete
  • Isabela Santos Landim
  • Isabella Vasconcelos Silva
  • Isabelle Tozzo Fernandes
  • Iury Machado
  • Ivan Gomes Ribeiro da Silva
  • Jhyenne Gomes
  • Juliana Garcia
  • Juliana Nascimento Bossardi
  • Karolina Graciano Cardoso
  • Lais Vieira
  • Lorena Artemis
  • Mariana Cristina de Lima Palermo
  • Mariana Prates da Costa
  • Mariana Vicente Zilli
  • Nadja Nobre
  • Natália Maria Faria Santos
  • Nayara Mariano Pereira
  • Olívia Diniz Pereira
  • Rafaela Martuscelli Caetano
  • Suzane Caldeira
  • Thamara Machado

E com o apoio das seguintes instituições:

Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP)
Universidade Estadual Paulista (UNESP – Bauru)
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

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Dubes Sônego é jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em vinte anos de profissão, atuou nas redações de Gazeta Mercantil, Valor Econômico, Meio&Mensagem, Revista Foco, América Economia, Brasil Econômico, iG e Época Negócios. Atualmente, trabalha como freelancer.