(Foto: Daniel Chrisman/Pixabay)
Saiu recentemente a edição 2024 do Culture Next, o relatório anual de tendências globais do Spotify. O estudo analisou dados de usuários de vários países, incluindo o Brasil, o que é importante porque nos dá segurança de que os cenários também se aplicam a nós.
O relatório é uma bússola interessante para quem busca entender melhor como a Geração Z (pessoas que nasceram entre 1997 e 2010) se conecta, expressa emoções e vem moldando a cultura por meio da música e dos podcasts/videocasts.
Listo abaixo alguns dados e insights interessantes que pincei da leitura do relatório:
A Geração Z está em busca de conexões autênticas, e enxerga na música e nos podcasts um caminho para isso
Dos usuários desse segmento no Brasil, 73% acreditam que as pessoas estão mais solitárias hoje do que há dez anos, mas 70% consideram o streaming de áudio um antídoto para isso. Para eles, compartilhar músicas e podcasts serve para quebrar o gelo e estimular a conversa com outras pessoas.
Exemplos:
- Playlists colaborativas: a Geração Z foi responsável pela criação de 52% das playlists colaborativas este ano e 60% das playlists Blend nos últimos dois anos (Blend é o recurso do Spotify que permite a dois amigos montarem playlists conjuntas).
- Compartilhamento de músicas: houve um crescimento de 328% no compartilhamento de pré-lançamentos de álbuns. A Geração Z vê a música como uma maneira de expressar sua identidade, o que ela valoriza, gosta. Enfim, é uma maneira de demonstrar a sua personalidade.
Consumo e engajamento com podcasts
- Aumento de consumo: foram 2,9 bilhões de minutos assistidos em podcasts com vídeo nos primeiros cinco meses de 2024, um aumento de 58% em relação ao mesmo período de 2023.
- Participação em eventos: 37% participaram de transmissões ao vivo ou gravações de um podcast e 36% já participaram de uma festa presencial para assistir a um novo episódio de um videocast.
Mote para conversas:
- 79% afirmam que os podcasts ajudam a estimular conversa, fornecendo tópicos para discutir com amigos, familiares ou colegas.
- A sensação de proximidade com apresentadores, que esse formato possibilita, estimula um elo mais firme entre quem cria e quem consome o conteúdo.
Temáticas de podcasts
- Gêneros em alta:
- Religião e espiritualidade: aumento de 85% no consumo global em 2024.
- Negócios e tecnologia (+53%), história (+39%) e governo (+45%) também estão em ascensão.
- Entre os podcasts mais ouvidos pela Geração Z no Brasil estão o Não Inviabilize, PeeWeeCast e Podpah.
Integração com eventos e cultura
- Os maiores podcasts estimulam comentários no Instagram. Entre os jovens de 18 a 24 anos, o podcast mais ouvido é The Joe Rogan Experience, que também é o podcast mais popular do mundo, o que indica que os Gen Zs estão acompanhando as tendências de massas.
- É cada vez mais frequente fenômenos da indústria cultural ecoarem no Spotify: de grandes lançamentos de filmes como Deadpool e Wolverine, com 100 mil playlists de “Deadpool” geradas por usuários, até as Olimpíadas, com 16,5 milhões de episódios de podcast com “Olimpíadas” no título na época dos jogos olímpicos. Os memes de nicho e a cultura da internet também são amplificados.
Oportunidades para veículos e marcas
- Patrocínios de eventos presenciais: o envolvimento da Geração Z com podcasts ao vivo ou festas relacionadas abre oportunidades para marcas patrocinarem e se conectarem com esse público engajado. E fica a dica para os veículos aproveitarem essa onda.
- Formatos multimídia: O aumento da popularidade dos videocasts sugere que as marcas podem explorar novos formatos para alcançar a Geração Z.
Insights estratégicos para captar a atenção da Geração Z
- Conexão emocional e cultural: música e podcasts são ferramentas poderosas para criar conexões sociais profundas, especialmente entre a Geração Z.
- Fígital em alta: o consumo de videocasts associado ao engajamento em eventos ao vivo sugere que formatos híbridos serão cada vez mais relevantes.
- Personalização como diferencial: soluções baseadas em IA e hiperpersonalização são essenciais para atrair e fidelizar o público jovem.
- Cultura mainstream inclusiva: à medida que os Gen Zs abraçam o mainstream, eles esperam que as marcas estejam sintonizadas com as tendências da cultura pop (e agreguem valor a elas). Acho que isso também vale para os publishers.
- Eventos e storytelling: marcas e veículos que se integram às histórias pessoais da Geração Z podem criar vínculos emocionais duradouros.
- Há vida fora do online: os jovens podem até viver suas vidas online, mas também curtem muito ir a shows e eventos presenciais (74% da Geração Z foi a um show no último ano. Se havia o mito que esse público só quer ficar nas redes sociais, esse dado indica que não é bem assim.
Esses dados da nova edição do relatório Culture Next dão pistas importantes sobre o comportamento da Geração Z em relação ao consumo de podcasts, videocasts e músicas na principal plataforma de streaming do mundo. O importante para nós, jornalistas, veículos ou criadores de conteúdo, é mergulhar nesses e em outros estudos, assim como na nossa experiência com a produção de conteúdo, para tentar entender a fundo os interesses da audiência.
Um bom caminho para isso é, claro, buscar dados como o deste relatório, mas também observar sinais de mudança de comportamento na sociedade, nas redes sociais, tendências e conversar com o público-alvo. É estar aberto, ter uma postura de escuta e experimentar bastante. Produzir, colocar na rede, analisar e, se for preciso, fazer os ajustes e corrigir a rota.
Para quem quiser ler o relatório na íntegra, é só acessar aqui.
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Clayton Melo é jornalista com MBA em Marketing pela FGV, trabalhou em diferentes redações, é estrategista de conteúdo e engajamento digital e consultor de foresight e design de futuros. LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/cmelo/