Lacan e a estrutura discursiva do semblante racista do mundo “Já que é preciso, de qualquer modo, não lhes pintar unicamente um futuro cor-de-rosa, saibam que o que vem aumentando, o que ainda não viu suas últimas consequências e que, por sua vez, se enraíza no corpo, na fraternidade do corpo, é o racismo. Vocês […]
Artigos de Luis Eustáquio Soares
Imperialismo, modernidade, pós-modernidade e biotanatopolítica Se o imperialismo constitui o momento em que a expansão colonizadora dos centros de poder adquire uma dimensão mundialmente sistêmica, seria previsível, portanto, que tal expansão viesse a ocorrer como espectro completo, ocupando, explorando e colonizando não apenas recursos primários, mas também artefatos culturais, conhecimentos, alteridades de gênero, étnicas, de […]
1. “Na tradição do oprimido que é a que vivemos o estado de exceção é regra geral”, assim afirmou Walter Benjamin na oitava tese de seu ensaio “Sobre o conceito de história (1940)”. 2. O estado de sítio em que vivemos não é outro senão a própria milenar tradição do oprimido: aluvião de tempos históricos […]
1. Bakhtin não se cansava de nos lembrar que o signo é ideológico. A ideologia, por sua vez, bem mais que uma falsa consciência, deve ser entendida afirmativamente: é a hierárquica história humana acumulada como monumento à barbárie, para dialogar também com Walter Benjamin. 2. Uma ideologia é, pois, o próprio monumento, bárbaro porque […]
Porque somos desiguais, num mundo desigual, em diálogo com o livro O desentendimento: política e filosofia (1996), do filósofo francês Jacques Rancière (1940), parto do argumento de que existe política quando o dissenso emerge entre desiguais, provocando-os a produzir a justiça da igualdade de direito entre ambos, sem distinção econômica, de gênero, de classe, […]
Bakhtin, em Problemas da Poética de Dostoiévski, argumenta que este último, Dostoiévski, foi o criador do romance polifônico, donde é possível inferir que, com a narrativa de ficção de Dostoiévski, torna-se potencialmente possível a produção de contos, romances, crônicas, novelas, filmes igualmente polifônicos. Para Bakhtin, uma narrativa é polifônica quando todos seus elementos intrínsecos, autor, […]
O filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), conhecido simplesmente como Leibniz, dentre outros produziu dois conceitos que usarei para analisar o dia histórico do Jornal Nacional da TV Globo, nas palavras de seu âncora, William Bonner: o dia 2 de maio de 2011, dia suposto da divulgação ocidental do assassinato igualmente suposto de Osama bin […]
Em artigos que tenho publicado neste Observatório da Imprensa, tenho tecido e entretecido a seguinte premissa: o capitalismo é tanto mais laico quanto mais religioso for, valendo também o ponto de vista inverso: o capitalismo é tanto mais religioso quanto mais se faz como laico, ao atuar concretamente no mundo a fim de produzir ao […]
Gosto especialmente de um miniconto do escritor checo Franz Kafka, A partida, no qual um criado pergunta ao cavaleiro para aonde este iria com seu cavalo, obtendo simplesmente a seguinte resposta: ‘Fora daqui’. Fora daqui, sem cessar, sempre fora daqui, como fora de todo dentro pessoal, institucional, simbólico, cultural, econômico, e sem levar provisões, é […]
Em Os Irmãos Karamazov (1879), romance do escritor russo Fiodor Dostoiévski (1821-1881), a ficção projeta o inconsciente político, ou a ‘memória do subsolo’ da emergência, na modernidade-mundo, de um sistema de mídias marcado e demarcado pela completa falta de limites, pois será configurado, tal como o enredo do livro de Dostoiévski, a partir da seguinte […]
Como livroAnti-Édipo, Capitalismo e Esquizofrenia (1972), de Gilles Deleuze e Félix Guattari, compartilho o argumento de que o delírio, a loucura, os padrões de normalidade, os desvios diversos, tudo que nos toca, enfim, sob o ponto de vista de nossos comportamentos prováveis e improváveis, só pode ser analisado devidamente em planos histórico-mundiais, de sorte que […]
Na terceira e última parte de Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, intitulada ‘A Luta’, quando a revolução anti-sistêmica de Canudos dá mostras evidentes de que foi derrotada, sobretudo com a morte de Antônio Conselheiro, é possível ler um parágrafo em que um general do exército destrói parte da Igreja do Arraial, dessacralizando-a, como […]
No Manifesto Comunista, de 1848, Karl Marx e Friedrich Engels descreveram o movimento do capital como objetivo e inflexível. Relevante para o capital é a reprodução inexorável de si mesmo, razão pela qual a tudo sanguessuga e, como um parasita, em seguida joga fora, sem piedade, sem cooperação, sem amizade, sem, inclusive, sistema de parentesco, […]
Prezada presidenta Dilma Rousseff, No primeiro semestre do ano passado, quando países e instituições fundamentalistas-belicistas, como Estados Unidos, Otan e Israel, estavam preparando uma invasão ao Irã sob o pretexto hipócrita de que este país esta(va) enriquecendo urânio com o objetivo de produzir bombas atômicas, Lula e o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, reuniram-se com […]
Acredito que um revolucionário se faz lutando com os povos, mas não porque seja melhor ou porque queira ser um ‘legítimo’ líder no decorrer da luta. Um revolucionário de verdade nada mais é que ‘um qualquer’, um do povo, sem qualquer distinção ou privilégio.O desafio de estar com os povos a fim de, como o […]
As propriedades privadas, a material, a simbólica, a afetiva, a epistemológica, suas apropriações elitistas, são certamente o maior obstáculo contra a vida, maior que qualquer outro, que guerras, que preconceitos, que supostos terrorismos, que crise ecológica, pela singela razão de que as posses privadas do conjunto dos bens naturais e culturais constituem o centro irradiador […]
Como uma pedra jogada num lago, qualquer manifestação imperialista age por expansão concêntrica, pois forma um dilatado círculo que parte da pressão estabelecida por um centro bélico, ideológico, econômico, oligárquico, egótico. Em cada mínimo espaço expandido/conquistado/colonizado, o centro imperialista se enriquece não apenas através da pilhagem/roubo das riquezas materiais sequestradas, mas também em complexidade, em […]
Os ilustrados atuais adoram declarar o fim de tudo que está, pelo bem ou pelo mal, mais vivo do que nunca: o fim da história, o fim da luta de classes, o da metafísica, o da alienação. Adoram dizer que o maniqueísmo não existe mais; essa mania que temos de dividir o mundo em duas […]
Machado de Assis criou a personagem Capitu como trama judicial-passional do romance Dom Casmurro. Capitu é dissimulada, plástica, como a própria narrativa machadiana, ironicamente estruturada. Lima Barreto criou o personagem Castelo, em seu conto O homem que falava javanês. Um personagem farsante, que finge que sabe o que não sabe: falar javanês.Embora as narrativas mencionadas, […]
Desde seus primórdios, a civilização humana se inscreve numa promessa: a de dobrar e desdobrar, estender, para o plano da cultura, da história humana, o fator criativo, vital, da natureza, no qual e através do qual a multiplicidade, a que chamamos de ecossistema, de biomas, acontece sem parar, a partir de cada minúsculo, imperceptível singularidade […]