Tanto o jornalismo quanto o currículo recortam a realidade e a apresentam como aquela que deve ser tomada como verdadeira naquele momento. Nos dois casos, há descontextualização, uma vez que a sociedade não pode ser tomada como um corpo homogêneo, passível de ser enquadrado em grades curriculares ou em páginas de jornais.
Artigos de Marcilene Forechi
Os processos narrativos não são neutros ou desinteressados e, no caso das narrativas jornalísticas, podemos dizer que elas nada têm de isentas ou imparciais. Elas narram e descrevem em um processo que é também e, sobretudo, criativo. Em outras palavras, o jornalismo constrói verdades por meio de narrativas sobre a realidade. O mecanismo de criação […]
Tauanny Jesus de Paula tem três anos. Vive na comunidade de Pedreiras, em Costa Barros, na zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Foi baleada nas costas, na noite do dia 27 de fevereiro, quando estava sentada com a mãe o irmão na porta de casa. Ninguém sabe de onde veio o tiro. Todos […]
O relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) tem 4.328 páginas. Foi dividido em três volumes e levou dois anos e sete meses para ser concluído. No dia 10 de dezembro, foi entregue à presidente Dilma Rousseff, em cerimônia oficial no Palácio do Planalto. No dia 11, a CNV recebeu das mãos do chanceler […]
Dos vários equívocos cometidos por quem pretende tratar do tema comunicação pública, um em especial me chamou a atenção. De autoria da senadora Kátia Abreu (também presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária no Brasil), o artigo “Obsessão por censura” foi publicado na edição de sábado (10/11) do jornal A Tribuna (ES). Já no início […]
Ciro Marcondes Filho, em seu livro Afinal, até que ponto de fato nos comunicamos? (Editora Paulus, 2004), nos instiga a pensar sobre a impossibilidade da comunicação. O mesmo autor, que afirma ser a comunicação um enigma, fala sobre o que classifica como os equívocos dos estudiosos do Colégio Invisível (grupo de estudiosos que se reuniu […]
Uma aula no curso de Jornalismo me fez pensar no que andam escrevendo por aí e de como novos usos, sentidos e significados têm sido dados a palavras, expressões, sentimentos e ideias. A questão era o uso do verbo “apreender” pessoas como sinônimo de prender. Inicialmente, me pareceu uma questão simples: eu apreendo equipamentos e […]
Começar a falar de um tema a partir de sua definição já se tornou lugar-comum que não se mostra eficiente quando a intenção é esgotá-lo em um conceito que seja aceitável ou defensável. No caso da comunicação, o caminho torna-se ainda mais difícil, justamente por ser a definição do que vem a ser o fenômeno […]
A reforma ortográfica deixou de figurar como notícia faz algum tempo. Confesso que, passada a euforia inicial, só lembro dela quando deparo com hífens, ditongos abertos, hiatos e tremas. Não me considero apta a opinar sobre a importância, a inutilidade, a necessidade ou a praticidade da tal reforma; nem é essa minha intenção. Mas percebo […]
Não me recordo o nome dela ou dizer ‘não me recordo’ talvez seja uma desculpa por não ter perguntado. Resolvi chamá-la de Maria porque talvez esse fosse o nome dela. Lembro-me bem, no entanto, da sua história e da minha surpresa ao saber que aos 32 anos de idade já tinha oito filhos, sendo que […]
O jornalismo ocupa, nos dias de hoje, um espaço considerável no campo da educação, mas falar de jornalismo como conhecimento ainda é algo que causa estranheza e provoca resistências não só entre educadores como entre os próprios colegas de profissão. Hoje, crianças e jovens tomam de empréstimo dos meios de comunicação muito do que aprendem […]
Uma cena comum nos dias de hoje é aquela em que o professor ou professora leva jornais para a sala de aula e os alunos são motivados a ler criticamente as notícias ali veiculadas. Em outra situação, o professor ou professora estimula a produção de um veículo de comunicação interna, que pode ser um jornal […]
Há pelo menos duas questões distintas que merecem reflexão mais aprofundada no debate sobre a profissão de jornalista e a campanha deflagrada pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) em defesa do diploma. Trato de deixar claro, logo de início, que não pretendo defender nenhuma tese do tipo contra ou a favor. Pretendo, antes, compartilhar com […]
Quem mandou me grampear? Esta é a pergunta que jornalistas e a sociedade capixaba fazem há um ano, desde que cerca de 200 jornalistas tiveram suas conversas grampeadas, através da interceptação telefônica da central de celulares da Rede Gazeta de Comunicações, em Vitória (ES), com o aval da Justiça a pedido da Polícia Civil. No […]
Defender a tese da notícia como construção da realidade e não como um espelho já rendeu algumas discussões acaloradas com colegas de profissão que não conseguem entender – ou se recusam a refletir sobre – esta história “de inventar a realidade”. De fato, ninguém inventou a violência em São Paulo, o seqüestro do repórter da […]
Algumas conversas com colegas mais velhos de profissão às vezes me incomodam um pouco. Não que eu seja tão jovem aos 39 anos. Incomoda-me o tom saudosista como se hoje não se fizesse mais jornalismo e jornalismo bom fosse o de antigamente. Quando ouço que jovens jornalistas de hoje não se interessam pela profissão, que […]
O que o jornaleiro de Porto Alegre que deixou de vender a Veja e um verdureiro da antiga Tchecoslováquia têm em comum? Muitas pessoas ficaram conhecendo Fabio Marinho, o jornaleiro, depois que ele decidiu tomar uma atitude frente ao jornalismo de qualidade e confiabilidade duvidosas praticado por Veja e outras publicações da Editora Abril. A […]
Chamar jornalistas de incompetentes não só foi uma atitude antipática como injusta. O desconforto com o colega durante palestra na Escola de Magistratura se transformou rapidamente em indignação, perceptível pelos comentários durante o intervalo para o café. Afinal, todos, sem exceção, que estavam no local naquela manhã de segunda-feira, para mais um dia do curso […]
‘A violência não existe nem pode existir por si só; está, invariavelmente, entrelaçada com a mentira.’ Não tinha conhecimento do escritor russo Aleksandr Soljenitsyn, autor da frase acima, até ler um texto do jornalista e professor universitário Manoel Carlos Chaparro, no portal Comunique-se (
A matéria estava bem feita. Texto bom, boa voz do repórter, cabeça, passagem, depoimento, boas imagens. O assunto também era bom. Novo, de interesse da população. Mas, bastou ouvir a manchete na voz sorridente do apresentador do telejornal local para que eu sentisse um certo desconforto. Talvez, justamente, por acreditar na importância do assunto e […]