Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Artigos de Mauro Malin

O fetiche e o impasse

A cobertura jornalística dos eventos de outubro termina antes de formular perguntas que talvez sejam as mais importantes. Por exemplo: se manifestantes violentos forem parar nas cadeias de São Paulo e Rio de Janeiro, serão obrigados a se submeter a qual dos dois códigos vigentes? O das organizações criminosas que aí reinam ou o de […]


Homicídios na política

O conjunto de reportagens de Leonencio Nossa publicado no domingo (13/10) no Estado de S. Paulo sob o título “Sangue político – As mortes nas disputas pelo poder na era democrática“ mostra o peso que pode ser dado ao jornalismo de qualidade na batalha pela atenção desse ser esquivo, o leitor. O material se mantém […]


Virou rotina

Virou rotina a colaboração da mídia jornalística com as polícias militares (leia-se governos estaduais), black blocs e provocadores infiltrados pelas autoridades. Finalidade: esvaziar e/ou manipular passeatas no Rio e em São Paulo. A demonstração está nas imagens abaixo. Os jornais valorizam a violência de centenas, não a manifestação pacífica de milhares. E, sobretudo, não perguntam […]


Lógica eleitoral

Essência da democracia política, o processo eleitoral é também – e não apenas no caso brasileiro – um mecanismo de “redução a termos”. De simplificação do debate. A mídia jornalística é o lócus por excelência onde se condensam as ideias. O horário obrigatório de propaganda eleitoral na televisão é o território da venda de sonhos e […]


Birras apalermadas

Exemplo risível de editorialização do noticiário está na edição de quinta-feira (26/9) da Folha de S. Paulo, sob o título “Gás interdita condomínio inaugurado por Dilma”. O Jornal Nacional fez a mesma coisa fingindo não fazer: William Bonner leu, acompanhando vídeo de 30 segundos, texto que mencionava “um conjunto residencial do programa federal Minha Casa, Minha Vida”. Para […]


Estratégia de defesa é ignorada

Em 8 de setembro, o jornal O Estado de S. Paulo publicou reportagem de Roberto Godoy sob o título “Exército precisa de R$ 58 bilhões até 2030”. Uma semana antes, o caderno “Ilustríssima”, da Folha de S. Paulo, trouxera artigo de Ricardo Bonalume Neto, “Exercícios de guerra”. Godoy e Bonalume são aves raras. Jornalistas especializados […]


Revolta ignorada

A Veja São Paulo rendeu-se, como outros veículos integrantes da chamada grande imprensa, à evidência de que pistas exclusivas para ônibus são um benefício para a cidade (reportagem “O teste das faixas de ônibus”, 25/9, ano 46, nº 19). Não sem relutância, porque, como outras mídias jornalísticas, paga tributo a um ranço automobilístico ferrenho, nos […]


Alguns fatores de desnorteamento

Um dos problemas com a narrativa dos fatos políticos recentes é o fato de que os jornalistas encarregados de cobri-los têm uma vivência difícil, que dificulta a obtenção de clareza política. Sem querer ser passadista, é preciso explicar que o repertório político dos jornalistas foi estreitado por uma espécie de infantilização geral decorrente da involução […]


Nanodicionário de termos e expressões indevidos, v.6

Foram usados incorretamente na Folha de S. Paulo: >> “Assídua de”. O leitor desculpará esta incursão pelo insólito, mas é preciso também chamar a atenção para a criatividade no errar. Não se encontram apenas solecismos habituais na imprensa, com alguma frequência brotam pérolas como esta: “Diferentemente de seu colega [sic] Barack Obama com seu inseparável […]


‘Erro’ regiamente recompensado

Aluizio Maranhão, editor de Opinião do O Globo, relatou no programa de TV do Observatório da Imprensa de terça-feira (10/9) o longo processo interno do grupo que levou o jornal a publicar material sobre o apoio – político, como sublinhou Milton Coelho da Graça, outro dos convidados de Alberto Dines – ao golpe de 1964 […]


Relato faccioso

O golpe de 1964 não foi uma reação a desmandos do presidente da República, João Goulart, como sugere o documento com que o jornal O Globo procurou, na edição de 1/9, esconjurar simbolicamente uma imagem de reacionarismo que teima em acompanhá-lo. No quinto parágrafo do texto (ver aqui), lê-se que a divisão ideológica do mundo […]


Tripla analogia

É mais “fácil” mudar de status social pela via do esforço individual ou familiar do que mudar as condições gerais da sociedade em que esse esforço será ou não exercido. Está ao meu alcance batalhar loucamente para “melhorar de vida” dentro do contexto social em que vivo. Não está em meu poder, apenas como indivíduo […]


Nanodicionário de termos e expressões indevidos, v. 5

São usados equivocadamente na mídia brasileira: >> Atear fogo. A modernização jornalística ainda não foi capaz de mandar definitivamente para o arquivo a vetusta expressão. Botar, colocar, pôr, em ordem alfabética, são opções sugeríveis. O verbo incendiar também está vivo. >> Cometer suicídio. Idem. Não bastaria o verbo suicidar-se? Há uma compunção metida a pomposa […]


Jornal não ‘concordou’ com o golpe, promoveu-o

Um primeiro e essencial desacordo com o texto de autoindulgência publicado no O Globo de 1º de setembro (leia aqui) diz respeito a uma falácia quanto à participação do jornal no movimento que levou ao golpe de Estado de 1964. Está escrito que o O Globo “concordou com a intervenção dos militares”. Não é verdade. […]


Resposta velha para um Brasil novo

A manobra tentada pelo O Globo com a publicação de sua “Memória” não terá o resultado esperado por seus promotores, o de dar uma boa guaribada na imagem da casa, por uma razão básica: é uma operação concebida e, na maior parte do tempo, executada antes de junho de 2013. Atrelada, portanto, a uma narrativa […]


Estranha tara senil

Tarado petista ou petista tarado? A Veja, em período de vacas magras que confere um ar melancólico à edição 2.337, datada de 4/9/2013 (veja abaixo “Dias de penúria”), escolhe a segunda opção para tratar do caso de Eduardo André Gaievski, acusado de “estupro de vulneráveis” – jargão jurídico para designar sexo com crianças menores de […]


Saber não saber

A intrincadíssima situação da Síria motivou o site de geopolítica e estratégia Stratfor a fazer ponderações de alta relevância das quais jornalistas e comentaristas de política internacional podem tirar proveito. Em tradução livre, uma mensagem eletrônica da empresa diz mais ou menos o seguinte: num momento em que países estão na iminência de entrar em […]


Um recanto livre de polêmica

Existe um lugar em que toda a polêmica furiosa, malsã, sobre a vinda de médicos para trabalhar no Brasil é olimpicamente desconhecida: Cuba. Ou melhor, a imprensa cubana. Ou melhor, o Granma, que, como sabe o leitor, tão versado em assuntos de comunicação de regimes revolucionários, é o “órgão oficial do Comitê Central do Partido […]


Problemas anunciados

Em dois sábados seguidos (17 e 24/8), a Folha de S. Paulo ocupou com anúncios mais de 60% das páginas do primeiro caderno. No primeiro caso, de 20 páginas, foram dedicadas a publicidade 12 páginas internas e um rodapé na capa. Uma semana depois, das 28 páginas do caderno, 17 mais um rodapé na capa […]


Não é livre, não é jornalismo, mas vai ficar

Por mais que se admirem os resultados do ativismo capaz de aproveitar, na revolta de junho, o barateamento do custo de transmissão de som e imagem em tempo real para mostrar o que a grande imprensa não tinha enxergado e não conseguia exibir, não é possível nem lícito ignorar problemas mais sérios do que a […]